segunda-feira, agosto 30, 2004

Festival Offshore

Café do Teatro e Auditório da RDP, Funchal

23 Setembro
Vladislav Delay & Lillevan
Burnt Friedman & Jaki Liebezeit com Joseph Suchy

24 Setembro
AGF
Quarteto Sei Miguel com Rafael Toral
Radian

25 Setembro
Kevin Blechdom
Jamie Lidell
Mocky

Festival Hi-TeCA

Teatro Carlos Alberto, Porto

15 Setembro
22h00 Spektrum

17 Setembro
22h00 @c+Lia; Burnt Friedman/Jaki Liebezeit
23:59 DJ Luís Espinheira; Farben (aka Jan Jelinek); Muesli Colectivo

18 Setembro
22h00 Philip Jeck; Christian Fennesz/Jon Wozencroft
23:59 DJ Inês Soda; Akufen; DJ Chloe

19 Setembro
22h00 Parasita Acumulador #2; Elliott Sharp/Janene Higgins

Edit (10/09/2004)

Preços dos Bilhetes:

Concertos Hi-TeCA: Plateia € 15,00 / Balcão € 10,00

Sessões DJs e live-acts Hi-TeCA: Preço único (com uma bebida incluída) € 5,00

Bilhete Geral Hi-TeCA € 25,00: 4 concertos Hi-TeCA (ciclo completo) + 2 noites de DJs e live-acts + Marcação de lugar para Festa TeCA 1º Aniversário

domingo, agosto 29, 2004

Tim Hecker

Tim Hecker vive em Montreal no Canadá. Após alguns anos dedicados a experiências diversas, ligadas à sua actividade académica, onde estudou música electrónica e a interrelação entre sons acústicos, digitais e a utilização de software, editou em 2000 'Autumnumomia', sob o alter ego Jetone, na label Pitchcadet. O seu trabalho interessou a Force Inc, pela qual foi editado 'Ultramarin' no ano seguinte. Jetone é um projecto ligado ao techno mas são exactamente as suas edições em nome próprio que interessam no presente post. Até porque Jetone é um alias que parece já estar desactivado há alguns anos.

Se a sua perspectiva do techno resultou no projecto mais conhecido - principalmente através de 'Phoedra IV', incluído em 'Ultramarin' - é em nome próprio que Hecker edita alguns dos discos mais importantes dos últimos anos, algures entre a electrónica ambiental criada por Brian Eno na década de 70 e o emergente glitch desenvolvido por nomes como os dos Pan Sonic, Oval ou Gescom e divulgado por editoras como a Mille Plateaux ou a ~Scape. Tendo como ponto de partida a cultura pop, escondida por diversas camadas de som e noise gerados por computador, Hecker ganhou o reconhecimento crítico generalizado e os favores de um público rendido à sua concepção artística e a consecutivas apresentações ao vivo.

Haunt Me, Haunt Me Do It Again (2001, Substractif)



'Haunt Me' marca a estreia de Hecker na Substractif, subsidiária da Alien 8 (editora dos Acid Mothers Temple, Merzbow, The Unicorns, etc) e é um primeiro disco impressionante. Influenciado por nomes como Fennesz (referência incontornável no meio), as obras conceptuais de músicos como John Cage ou Stockhausen e a música ambiental do, já referido, Brian Eno, Hecker elabora um disco enorme, de texturas abstractas, numa espécie de drama post-rock com interferências de energia estática, drones de guitarras a fazer lembrar Rafael Toral e 'erros' premeditados característicos do glitch. Contemplativo, subtil, imperfeito, 'Haunt Me' é um excelente exemplo daquilo que, há falta de uma tradução exacta para português, se poderia designar como evocative mood music.

My Love Is Rotten To The Core (2002, Substractif)



EP com pouco mais de 25 minutos, 'My Love Is Rotten To The Core' é igualmente um excerto de um refrão inesquecível dos clássicos Van Halen. Hecker pegou no conceito de plunderphonics e aplicou-o a um conjunto de objectos relacionados com a banda dos irmãos Halen - discos, gravações de concertos, entrevistas, material de promoção, conversas acidentais disponibilizadas pelos media - e compôs um testemunho enovoado do passado, altura em que era um adolescente entretido a brincar aos guitar heroes em frente ao espelho do seu quarto. Ouvem-se resquícios de 'Ain't Talkin' 'Bout Love', entrevistas com David Lee Roth e músicas que o ouvinte preferia não reconhecer mas que afortunadamente desaparecem tão depressa como surgem na mente do manipulador do tape recorder. Mantendo intactas as premissas do seu método de trabalho, Hecker constrói um disco emocional e nostálgico, servindo-se de esboços de melodias que são sabotadas tanto pelo ruído mais abstracto como por um silêncio comprometedor. Em algumas entrevistas, Hecker revela que, mais do que um disco, 'My Love Is Rotten To The Core' deve ser interpretado como um álbum de recordações do seu autor. But, are abstract albums meant to be so personal?

Radio Amor (2003, Mille Plateaux)



Muito provavelmente o melhor disco de Hecker, 'Radio Amor' é inspirado numa viagem que fez às Honduras a bordo de um pequeno barco de um capitão chamado Jimmy, lobo do mar experiente que ocasionalmente se aproxima da costa para auxiliar os banhistas e dar boleia a algum turista em trânsito. Hecker elabora uma projecção da realidade, onde programas de rádio (vozes distantes, pianos, guitarras) parecem ser escutados através de um velho transistor - a única forma de ligação entre o capitão e o resto da humanidade. Ouve-se aquilo que parece ser o barulho de ondas, das gaivotas, do vento, da madeira a estalar no casco no barco, dissecados por entre comunicações em onda média e adivinham-se suspiros de saudade e de contemplação de uma vida solitária. Um álbum de fotografias granuladas, dissonantes e misteriosas, tiradas nos instantes de paz absoluta que antecedem uma tempestade. Tal como os discos anteriores, 'Radio Amor' não é música fácil, nem é um disco que se ouça em qualquer ocasião ou estado de espírito. Pressupõe silêncio, abandono, solidão, capacidade de abstracção e deve ser ouvido a horas tardias, de preferência com auscultadores. O que é verdadeiramente notável aqui - como na carreira de Hecker - é a forma como um conjunto de sons disconexos, que escutados em bruto se assemelhariam apenas a barulho dissonante, podem resultar em alguma da melhor música feita nos últimos anos.

Adenda: O novo disco de Tim Hecker - 'Mirages' - tem edição prevista para finais de Setembro.

quarta-feira, agosto 25, 2004

“In funk, you dig into a groove, you don’t stay on the surface”

Discos que chegaram na última encomenda efectuada na Dustygroove.com.

James Brown . In The Jungle Groove



‘In The Jungle Groove’ é uma das melhores compilações da música de James Brown. Como se isso ainda não bastasse, traz como bónus adicional o facto de conter versões raras e inéditas de alguns dos seus maiores êxitos, abrangendo os anos entre 1969 e 1972 – altura em que, juntamente com os JB’s (dos quais faziam parte lendas como Maceo Parker, Bootsy Collins, Clyde Stubblefield ou Fred Wesley), Jota Bê, himself, cantava algumas das faixas mais tumultuosas e viscerais da ainda curta história do funk. Originalmente editado nos anos 80 (quando ‘Living In America’ elevava o estatuto de JB a um mercado ... como dizer? ... global) apenas em vinil, a presente compilação inclui versões ligeiramente diferentes das originais, para temas fundamentais nesta história toda, como ‘Funky Drummer’, ‘Give It Up Or Turn It Loose’, ‘Soul Power’ ou ‘I Got To Move’ e uma longa versão, nunca antes editada, para ‘Blind Man Can See It’, tema incluído na banda sonora do filme ‘Black Cesar’ (blaxploitation kind of stuff). Ou seja, tema clássico, após tema clássico, imediatamente antes de outro tema clássico.

Blackbyrds . Night Grooves



Reedição para o original editado em 1978, com versões especiais e exclusivas para temas explosivos como ‘Supernatural Feeling’, ‘Rock Creek Park’, ‘Walking In Rhythm’ ou ‘Happy Music’. Os Blackbyrds foram fundados pelo trompetista Donald Byrd (um dos artistas mais prolíferos nos anos de ouro da Blue Note), que entretanto se cansou do jazz tradicional, passou pelo jazz de fusão e acabou no jazz-funk, com a habitual aceitação crítica que os fundamentalistas do género nutrem pelos artistas que se afastam de caminhos mais 'puros'. O presente álbum é uma colecção de temas especificamente re-trabalhados para dancefloors, em versões longas que prolongam o groove e intensificam o ritmo, incluindo, nas sete faixas que fazem parte do disco, seis dos nove singles que os Blackbyrds mantiveram na tabela Billboard (nenhum deles propriamente no topo) entre 1974 e 1978 e que desde essa altura nunca mais foram editados. Seis razões suficientes que tornam este disco particularmente apetecível para os admiradores dos Blackbyrds e para neófitos, grupo no qual me incluo.

David Axelrod . Song Of Innocence



O nome de David Axelrod cai na categoria dos que já conhecia há muito, mas a que nunca tinha prestado a atenção devida. Um post no Hit Da Breaks e a campanha activa do Dub, fez-me comprar uma antologia dos trabalhos de Axelrod editados entre 1968 e 1970, quer em nome próprio, quer fazendo parte dos Electric Prunes ou associado a nomes do jazz como Cannonball Aderley ou Lou Rawls. O passo seguinte levou-me a este disco.
Ignorado pela generalidade do público, obscuro durante décadas e coisa para cair no esquecimento não fosse o trabalho de investigação e divulgação de diggers como DJ Shadow, ‘Song Of Innocence’ foi editado originalmente em 1968 e é aquilo que se convencionou designar como um 'clássico instantâneo'. E o que se pode ouvir aqui? Funky breakbeats, arranjos barrocos de cordas e metais, turnarounds melódicos, solos jazzy, linhas de baixo memoráveis, grandes riffs de guitarra, jazz, funk, bandas sonoras, tudo embrulhado num psicadelismo místico, cru e ingénuo. Uma música maximalista, ‘bigger than life’, tocada e sentida como se não houvesse amanhã, uma espécie de antecessor excêntrico do trip-hop. Ouçam a ultra samplada ‘Holy Thursday’, ‘The Smile’, 'Urizen' ou ‘The Mental Traveller’, por exemplo. E, já agora, o seu irmão gémeo, ‘Songs of Experience’, inspirado igualmente na obra de William Blake e editado no ano seguinte.
Spread da word!

Johnny Harris . Movements



Tal como David Axelrod, Harris mistura uma variedade de sons, desde o jazz ao funk, com influências de bandas sonoras ‘clássicas’ e música instrumental, numa amalgama coerente e original. E tal como Axelrod, Harris foi um compositor subestimado no seu tempo, incompreendido e ignorado. Capaz de agradar aos fãs de compositores como Pierry Henry ou Raymond Scott e ao mesmo tempo (se bem que esta condição não é nada exclusiva mas enfim..) aos amantes incondicionais do groove, ‘Movements’ é um disco pioneiro e irresistível, que quase 40 anos depois continua a ser perfeitamente actual. Uma curiosidade: Uma remistura de ‘Stepping Stones’ foi mais tarde utilizada na campanha publicitária ‘kung fu’ da Levi’s. Lembram-se dela?

segunda-feira, agosto 23, 2004

Magnet vs Wighnomy Bros . Speicher 19 (12'' Kompakt, 2004)



Track Listing
A1. MAGNET Kisskisskiss
B1. WIGHNOMY BROS. Wurz + Blosse


A décima nona edição com o carimbo Speicher apresenta um 12'' dividido entre Magnet e os Wighnomy Bros.
Já conhecido da compilação Fabric 13 (volume seleccionado por Michael Mayer), do EP 'Rising Sun' e com vários 12'' editados sob os disfarces de Phong Sui e Blitz, Magnet preenche o lado A com um tema estruturado em redor de bases simples, com um ritmo forte a servir de pêndulo a ocasionais desacelarações, distribuídas estrategicamente por locais chave de forma a ajudar o ouvinte a recuperar o fôlego perdido. "Kisskisskiss" é um exemplar vintage do techno característico da linha de montagem da Kompakt: bem construído, de assimilação intuitiva e eficaz na pista de dança.
No lado B, os Wighnomy Bros (i.e. Sören Bodner e Robag Wruhme, que este ano editou o muito recomendável 'Wuzzelbud "KK"') assumem uma faceta atmosférica, com ecos discretos de sintetizadores planantes e um sentido ritmico pouco efusivo, que segundo alguns críticos funcionaria como um tributo ao techno/dub dos Rhythm and Sound. Comparações algo exageradas, na minha opinião. Os baixos aqui são claramente menos profundos, o som menos rugoso e o ambiente, na generalidade, mais ácido do que propriamente pedrado. 'Wurz and Blosse' cumpre, sem deslumbrar.
Audio.

domingo, agosto 22, 2004

Que bem que se está no campo

A rebolar sobre a erva.
Rhythm & Sound w/ Jennifer Lara «Queen In My Empire»
The Eternals «Queen Of The Ministrels»
Alton Ellis «I'm Still In Love With You»
Dennis Alcapone «Run Run»
Donovan Carless «Be Thankful»
Junior Delahaye «Movie Show»
Hortense Ellis «Woman Of The Ghetto»
Jackie Mittoo «Freak Out»
Tomorrow's Children «Sister Big Stuff»
Linval Thompson «I Love Marijuana»
Jackie Mittoo «Oboe»
Williams Traffic w/ James Earl Jones «Rainbow Dub»
Roots Manuva «Tears»
Dizzee Rascal «Jezebel»
Slaughter Mob «Dub Weapon»
Dry & Heavy «Night Flight - Pt2»

Dos discos:
Rhythm & Sound w/ The Artists (1)
VA . Studio One Soul (2)
VA . Studio One Story (3,4,8)
VA . Impact!(5,7)
Junior Delahaye . Reggae (6)
VA . Funky Kingston (9)
VA . Muzik City, The Story Of Trojan (10)
Jackie Mittoo . The Keyboard King Of Studio One (11)
VA . More Dub Infusions (12)
Roots Manuva . Dub Come Save Me (13)
Dizzee Rascal . Boy In Da Corner (14)
VA . Grime (15)
VA . Heavyweight Rib Ticklers (16)

sexta-feira, agosto 20, 2004

Murcof . Utopía (Leaf, 2004)



'Utopía' chegou há um mês, na última encomenda da Leaf, juntamente com o 'I Tweet The Birdy Electric' de Icarus e o disco de A Hawk And a Hacksaw. Com excepção de Murcof, ainda não tive tempo para ouvir qualquer um deles. É uma música demasiado complexa e cerebral para ser desperdiçada numa audição rápida e desatenta. A disponibilidade também não tem sido muita.
'Utopía' inclui dois novos temas ('Una' e 'Ultimatum'), mais dois temas incluídos anteriormente no EP 'Ulysses' ('Ulysses' e 'Urano') e sete remisturas realizadas por Jan Jelinek, Deathprod, Sutekh, Icarus, Fax, Geoff White e Colleen, funcionando como uma antecipação para o disco que o mexicano deveria editar em breve, mas que não sairá antes de 2005.
De entre algumas reinterpretações inconsequentes ou que pouco acrescentam ao material original e que deixam em aberto a resposta à questão sobre que sentido faz mexer em originais que mereciam ficar inalterados (Icarus, Fax), destacam-se facilmente as mixes de Deathprod (colaborador de Biosphere e membro dos Supersilent), Geoff White ('Mo' é ainda mais gélido do que o original), a superlativa e estranhamente dançável Sutekh's Trisagion mix para 'Memoria', o tratamento impecável que Colleen dedicou a 'Muim', com cascatas de violinos e pianos delicados a alterarem o sentido de uma das melodias mais marcantes do disco de estreia de Murcof e as divagações jazzisticas de Jan Jelinek que, partindo da matriz inicial e percorrendo um caminho completamente diferente do original, tem tudo aquilo que uma remistura deve ter.
Ainda assim o melhor é mesmo o material novo. Respeitando a imagem de marca do seu autor, 'Una', 'Urano', 'Ulysses' e 'Ultimatum' oferecem clicks'n'cuts sob um classicismo erudito (copyright - Ananana) que resulta numa música riquissima em detalhes, emocionante e cinemática, que me reconcilia com a música electrónica mais "pura" e menos centrada no ritmo, na demanda incansável da banda sonora ideal para um Outono que se prevê perfeito.

Novos links

Actualizei a lista de belogues com os recentes Beep Crónicas, Prosa em Si Menor e o Yeah Yeah Yeah.
Relativamente às editoras, chegou a hora da Quannum e da Rhymesayers.
Enjoy. :)

Voltei, voltei ... Voltei de lá

"Ainda ontem estava em França
E agora já estou cá!"
Autor desconhecido


Tour Eiffel, Notre-Dame, Versailles, Louvre, Georges Pompidou, Montmartre, Champs-Elysées. Who cares?
Breves notas sobre lojas de discos em Paris:
É obrigatória uma visita à Crocodisc. Milhares de discos em vinil, organizados por secções, incluindo uma de música portuguesa que mal tive tempo para explorar a não ser para verificar que a Dulce Pontes (Pontez?) estava na secção de música espanhola. Rock psicadélico dos anos 60, discos refundidos de easy listening, funk, soul, jazz, afrobeat e hip hop ao desbarato, rock com pinta from US, discos franceses donde nem me aproximei. Milhares de cds em praleiras espalhadas pelas paredes das duas lojas (sim, são duas lojas, uma ao lado da outra) onde se tem que pedir a um dos donos que abra o aloquete do armário para, dessa forma, enfim ... retirar o disco. Preços a partir do euro e meio (vi por lá o Lords of Svek a esse preço), bastantes a 10, a maior parte a 15, alguns a bem mais do que isso. Um pouco caro mas é preciso pensar no poder de compra dos franceses: cerveja nunca a menos de 4 euros, entrada num club 40 euros, café, com muita sorte, a 2 euros. GRRRR! Numa primeira visita a loja estava fechada para férias (mais tarde iria perceber ser algo muito habitual durante o mês de Agosto), com a reabertura prevista para a véspera da data de regresso. De maneira que lá encaixei algum tempo livre de forma a estar lá breves minutos - modo pick and run - o suficiente para ficar com a ideia que numa próxima visita será necessário adicionar o tempo aproximado gasto na visita ao Museu do Louvre. A Crocodisc fica na Rue des Ecoles, na Rive Gauche, mais ou menos paralela à Boulevard St Germain, perto da Sorbonne. Do centro, vai-se bem a pé mas também há metro, Clunny La Sorbonne, se não estou em erro. Existe uma Crokojazz, só de - e não pode ser apenas coincidência :) - jazz mas não cheguei a ir lá. Na mesma rua da Crocodisk, tinha referenciado a O'CD como uma loja de discos em segunda mão a visitar.
Next stop: Betino's Record Shop. A Betino's estava fechada para obras. Da montra consegui ver a confusão, com discos espalhados pela loja, plásticos manhosos a tapar os cds, ladeados por escadotes e latas de tinta. O site menciona uma particular atenção ao vinil e à "música negra" - do jazz ao house, passando por tudo em redor: soul, funk, hip hop, latin, reggae. Os posters na montra confirmam esta informação. Morada: Rue Saint Sebastien, 32. Perpendicular à Boulevard des Filles du Calvaire, avenida que faz a ligação entre a Praça da Bastilha e a Praça da República e onde fica situado o restaurante Bragança. Se quiserem andar menos a pé, a saída da estação de metro de Saint Sebastien Froissart fica perto.
Um pouco acima da Betino's, fica a Katapult. As minhas notas falam numa loja de discos e editora especializada em electrónica, mas a única coisa que vi foi uma loja fechada para descanso anual. Morada: Rua Franche Conté, 2. Esta rua não vem nos mapas e o melhor é procurar o cruzamento entre a Boulevard Du Temple e a Rue Charlot. Ou, em alternativa, sair no metro de Temple e ficar perdido.
Para aqueles que dispõem de pouco tempo para pesquisas e compras aconselho uma visita à Virgin dos Campos Elisios. Coisa confusa, obviamente uma megastore, donde num primeiro instante apetece fugir a sete pés (o cheiro a suor, o horror) mas que - depois de descobrir a organização das secções e de me abstrair do ambiente caótico do local - se pode tornar num derivado de paraíso com diversos discos interessantes, boas secções de música electrónica, hip hop e funk, algum vinil e occaz a bons preços. Um pouco mais cara mas igualmente digna de uma visita fica a Fnac situada no espaço (horrível) dos Halles. Hip hop, soul e funk a dar com um pau, sensação agradável prejudicada pelo facto da loja fechar às 19:30 e da minha visita ter coincidido com as 19:20 e de os preços dos discos serem na generalidade acima dos 20 euros. Tão cedo não tenho vontade de voltar lá.
Quatro pequenas lojas de vinil que visitei quase por acaso e numa de "deixa cá ver o que é isto": Silly Melody na Boulevard St Michel, Souderground na Rue Letort, a Street Sound na Rue Ganneron e uma pequena loja de hip hop só com vinil que encontrei por acidente na Rue St Dennis da qual, infelizmente, não fixei o nome (há fotos disso).
Não tive tempo para procurar a Bimbo Tower. As minhas notas mencionam ser perto da Bastilha (Metro: Ledru-Rolin), especializada na divulgação de uma certa cultura alternativa mais underground de cuja filosofia já me senti mais próximo. Igualmente para uma próxima visita fica a Hokus Pokus (techno, house minimal, trance, hard house e jungle).

Resultado do saque:
David Axelrod . 1968 to 1970 An Antology
El-P . Collecting The Kid
Rotary Connection . Peace
Rotary Connection . Alladin
Rotary Connection . Hey Love
Marlena Shaw . Anthology
Gift Of Gab . 4th Dimensional Rocketships Going On
Eyedea & Abilities . E&A
DJ Nu-Mark & Pomo . Blend Crafters
Boom Bip . Corymb
Common . Can I Borrow a Dollar?
Common . One Day It'll All Make Sense
Murs and Slug . Felt, a Tribute To Christina Ricci
Lalo Schifrin . Enter The Dragon
James Brown . Soul On Top
Roy Ayers Ubiquity . Mystic Voyage
Ivan Smagghe . Suck My Deck
Donald Byrd . Blackbyrd
Fela Kuti . Expensive Shit / He Miss Road
Meters . Rejuvenation
Resto do mês a pão e água.

terça-feira, agosto 10, 2004

Diggin' In The Supermarket








Legenda:
V.A. . Soul Samba 70
A Tribe Called Quest . Midnight Marauders
Radiohead . Kid A
Miles Davis . Milestones
Serge Gainsbourg, Brigitte Bardot . Bonnie And Clyde
Beach Boys . Surfin' Safari
9 Lazy 9 . Sweet Jones
Req . Sketchbook
Metro Area . Metro Area
Beastie Boys . Ill Communication
Stan Getz With Guest Artist Laurindo Almeida
Grant Green with Hubert Laws . The Main Attraction


Estava em pulgas para partilhar isto convosco.
Veio tudo a 4.99 e a 7.99 euros (mais a 4.99 do que a 7.99 :P), divido em duas visitas rápidas às promoções do C*nt*n*nt* e da W*rt*n.
Os primeiros seis vieram num saco juntamente com meio quilo de bife e um rolo de cozinha. Os últimos foram adquiridos em conjunto com caixas de cds vazias, obviamente utilizadas para substituir as que estavam partidas ou com autocolantes colocados em sítios ridículos, impossíveis de tirar sem deixar marca. O digipack do disco de Req estava rasgado, presumo que desde que alguém tentou - sem sucesso - retirar discretamente o preço anterior. Correu mal e ficou com uma marca, pequena mas capaz de desvalorizar uma hipotética venda futura. O disco de Metro Area andou na guerra mas já está melhor.
De resto, nada de especial a apontar.

segunda-feira, agosto 09, 2004

Stefan Schrom . I Feel For U (12'' Boxer Sport, 2004)



Stefan breaks out an entire vat of acid in his mind stewing original on this single. He holds the listener up over it and keeps holding on until the very end where he lets go and drops the listener in only to have them enjoy the rasping goodness of the acid surrounding them. On the B side is Ada's detroit tinged yet still acidic and bubbling remix of Stefan's original. This record is a sure winner in any fan of Boxer, Sub Static, Kompakt, etc.'s record boxes.

Sob uma batida techno pulsante, Schrom mexe nos botões das frequências até ao extremo e elabora um tema a que se adere de forma instintiva. This rocks! No lado B, uma remistura de Michaela Dippel, aka Ada, abranda as bpm's e dá-lhe uma tonalidade electrónica épica, que cai bem.
Também em audição: 'Speicher 19', o 12'' conjunto de Magnet e Wighnomy Bros., 'Never Be Alone' de Justice Vs Simian com o selo da Gigolo (ainda estou à espera de ouvir a remix de Hell para este tema) e uma compilação de grime editada pela Rephlex que traz 12 temas divididos em parcelas exactamente iguais entre Markone, Plasticman e Slaughter Mob chamada, simplesmente, 'Grime'.
E assim começa mais uma semana.
Quando já passa das cinco da tarde. :)

sexta-feira, agosto 06, 2004

Melchior Productions . The Meaning (Playhouse, 2004)



Produtor veterano, Thomas Melchior fez juntamente com Tim Hutton parte dos Yoni (mais conhecidos por ... ermm ... Vulva ), dupla que no início da década de noventa chegou a editar um par de discos bem sucedidos na Rephlex, de Richard D. James. Fez igualmente parte dos Soul Capsule, com Peter 'Baby' Ford, e de mais alguns projectos - Soft Core, M-Core e Dark Boys - dos quais não reza grande história. Fundou ainda uma editora - a Aspect - sediada em Londres, com enorme sucesso e reconhecimento generalizado. Como se pode confirmar aqui. :)
'The Meaning' é um disco de house minimal, polido e sofisticado, que melhora com o evoluir da noite e que tem apogeu previsto por alturas do after-hours. Uma música funky alicerçada num ritmo 4/4, samples vocais básicos, linhas de baixo vigorosas e teclados reduzidos ao essencial. Um daqueles momentos onde parece não sobressair nada de essencial, nem existir qualquer tipo de alterações bruscas, mas que, ouvida durante horas com uma concentração progressiva, poderia muito bem ser encarada como uma possível demonstração prática da expressão "música hipnótica".
Ainda assim, o segundo disco prefigura-se mais interessante. Incluindo edições antigas da Aspect - virtualmente esgotadas e impossíveis de arranjar - e alguns temas que Melchior gravou como Soul Capsule, a música surge aqui menos fria e rigorosa, com influências do acid e do deep house. 'Get Down' e 'The Prayer' - gravadas respectivamente sob os pseudónimos M-Core e Dark Boys e inicialmente editadas no mesmo 12'' da Aspect - são os principais highlights de um cd bónus que faz a retrospectiva dos últimos anos e apresenta a dimensão correcta do trabalho de Melchior: um produtor que sabe utilizar na medida exacta a exuberância do groove e as particularidades da subtileza.

terça-feira, agosto 03, 2004

Sugestões

A propósito do post sobre os Black Strobe, recebi de um dos leitores deste belogue (Hi, Dub) algumas sugestões que eu considero bastante pertinentes.
Edições recentes:
Unit 4 - Bodydub
Orgue Electronique - Texas, Brooklyn and Heaven
Like a Tim vs Gina D'Orio - Bass girl (LP)
Francisco - Moonroller

Menos recentes:
Alden Tyrell - Phaze me
The Paralax Corporation - Cocadisco I e II
Dexter vs Amplified Orchestra - 2 Brownies and a Bassline
Dexter - I Don't Care
Catnip - Don't Exercise the Bird
Panash - Unicorn
Freak Electrique - P.H.A.S.E.R.

Não conheço uma boa parte destas coisas. Ou, se quiser ser optimista, não estou, neste momento preciso, a associar o nome à música.
Agora é uma questão de deixar a ligação peer-to-peer fazer o trabalho sujo.

Blue Skied An' Clear (Morr, 2002)



No final da década de oitenta um estilo de música etéreo e melancólico surge na ressaca do relativo sucesso da editora 4AD e daquilo que grupos como os Cocteau Twins ou os This Mortal Coil fizeram nos anos anteriores. Baptizado como dream pop ou, mais prosaicamente, como movimento shoegazer, grupos britânicos como os Curve, Lush, Moose, Ride ou os Slowdive misturam uma carga melódica – simultaneamente sensual e sombria – devedora dos primeiros álbuns dos Cocteau Twins com o turbilhão hipnótico que saía das guitarras distorcidas dos norte-americanos My Bloody Valentine por alturas da edição do seu disco de estreia. Mas após a euforia inicial, a Creation (editora fundamental neste contexto) entra em falência, a imprensa inglesa rapidamente descobre o grunge, inventa o fenómeno brit-pop e o movimento desapareceu quase sem deixar rasto. Até que, mais de dez anos passados, as sementes deixadas pelos shoegazers foram encontradas por um conjunto de músicos ligados à electrónica, com vontade de reutilizar as texturas harmoniosas e melódicas da dream pop como matéria para humanizar os laptops, derreter o gelo inerte dos ritmos sintéticos e recuperar o sentimento ingénuo da geração pré-chill out. Sediada em Berlim, a editora Morr convidou alguns dos mais representativos membros do seu catálogo – Isan, Limp, Manual, Lali Puna ou os Komëit - e alguns artistas próximos - como os Múm, Future 3 ou B.Fleischmann - para participar num disco de homenagem aos Slowdive. Não sendo apenas um disco de reinterpretações mais ou menos nostálgicas de temas alheios, 'Blue Skied and Clear' é igualmente um disco onde se faz um verdadeiro tributo ao espírito tristonho e contemplativo dos anos 80. Dividido entre um primeiro disco com versões para as músicas dos Slowdive e um segundo disco com músicas inspiradas pela música dos britânicos, 'Blue Skied and Clear' configura-se com uma excelente companhia para dias de chuva fora de época, como o de hoje. Mesmo considerando a hiper-valorização característica de quase toda a música produzida em finais dos anos 80/início da década seguinte e o rápido esgotamento criativo da indietrónica - presa em lugares comuns e tiques repetitivos - seria certamente lamentável ignorar uma das compilações mais consistente surgidas nos últimos anos.

nota: ouvir igualmente o anterior 'Putting The Morr Back In Morrissey'.

segunda-feira, agosto 02, 2004

Black Strobe . Chemical Sweet Girl E.P. (Output)



Os Black Strobe resultam da união entre o productor Arnaud Rebotini (também já editou como Zend Avesta) e o DJ Ivan Smagghe (residências nos melhores clubes, membro dos Volga Select, DJ do ano para a Jockey Slut, etc). Começaram a sobressair no underground parisiense, com uma música obscura, a recuperar a faceta mais soturna da década de 80; uma espécie de electro, tangencial à Electronic Body Music e, mais remotamente, à música indústrial, mas sem a faceta teatral do gótico, com quem a EBM faz fronteira.
Depois de editarem 'Paris Acid City' pela Source, Trevor Jackson contratou-os para a Output, onde editaram 'Innerstrings', 'Me And Madonna' e agora este 'Chemical Sweet Girl', para além dos respectivos lados B e remixes para Royksopp, The Rapture, Tiefschwarz, Märtini Brös e Playgroup, entre outros.
Na versão em CD, o EP inclui - além do tema original e de 'Abwehr Tango' (incluídos igualmente na versão em vinil) - 'Me and Madonna» (original e remistura de Ivan Smagghe e Ewan Pearson aka 2 Fairlight Bitches), 'Innerstrings' (No Shuffle Mix), 'Fitting Together' (já ouvida no 12'' de 'Me And Madonna') e a remix dos Alter Ego para o tema título (nota: ouvir também a remix que os Black Strobe fizeram para 'Rocker' dos Alter Ego), podendo ser entendido como um mini-álbum que antecede o disco previsto para final deste ano.
Aksel Schaufler (aka Superpitcher) dizia no Y de 23 de Julho de 2004:
"Descobri a electrónica tarde, em 1994. Já havia ouvido coisas do género, mas nunca a compreendi verdadeiramente. É preciso senti-la num ambiente correcto".
Black Strobe é um excelente exemplo desse facto: é uma música intensa e nocturna, com o predomínio dos sons graves e dos sintetizadores, que ganha um sentido de urgência insuperável quando ouvida no local adequado.