terça-feira, março 29, 2005

Board Report



Há um mês e tal, recebi um email para o gmail, onde me diziam que tinha ganho a lotaria.
Hum... esqueçam... não era isso.
A partir do próximo mês vou passar a colaborar num novo projecto.
O tempo para manter este blog vai ser menor, a disponibilidade mental para actualizar isto com uma frequência razoável, nos moldes actuais, também.
A ideia passa um pouco por simplificar e escrever posts menos elaborados. Desta forma podem ler alguns dos meus textos no outro local enquanto este blog passará a ser um espaço para reflexões complementares e impressões gerais (ou notas breves) sobre álbuns, máxis ou simples faixas que me agradaram muito, pouco ou nem por isso. Penso que se me concentrar no essencial poderei actualizar este blog com mais frequência, mantendo o entusiasmo e ocupando o tempo de uma forma produtiva. No fundo, é esse o meu principal objectivo: manter isto vivo e interessante sem ocupar o precioso tempo que vai passar a ser utilizado noutras coisas.
Resumindo é isto. Espero que seja tão bom para vocês como certamente vai ser para mim (parece que estou a falar de sexo ou o carago).

domingo, março 20, 2005

Discos

Para os próximos dias:

Alex Smoke . Incommunicado (CD Soma, 2005)
Alex Under . Multiplicanciones (12" Apnea, 2005)
Cosmic Sandwich . Zig Zag Feeling (12" My Best Friend, 2005)
John Dahlbäck . Don't Stop Bringing (12" Eloge House Music, 2004)
Hiltmeyer Inc . Sendling 70 (CD Gomma, 2005)
Marco Passarani . Sullen Look (CD Peacefrog, 2005)
Mathew Jonson . Followed By Angels (12" Itiswhatitis Recordings, 2004)
Mathew Jonson . Marionette (12" Wagon Repair, 2005)
Recloose . Dust (12" Peacefrog, 2005)
Plastique De Rêve . The Sounds You hear» (12" Turbo, 2005)
The Model . Robotiko (12" Traum, 2005)
Zoo Brazil . Express Yourself (12" Cartridge, 2005)

quarta-feira, março 16, 2005

Abe Duque . So Underground It Hurts (Gigolo, 2004)



Filho de um pastor evangelista com um amor impulsivo pela música, Carlos Abraham Duque Alciva nasceu no Equador e vive desde os dois anos de idade em NYC. Desde cedo um consumidor obsessivo de vinil e de música electrónica, Abe tornou-se um entusiasta da cultura djing no início da década de 80 e começou a carreira de produtor de música de dança em 1988.
Do seu currículo constam edições em labels como a Disko-b, Oval, V2, Vortex, Sahko, Mainframe, Tresor, Instinct, GiG, Tension, Abuse, Warner Bros, Mille Plateaux, Sonic Groove, Universal e Rapture.
Uma discografia extensa de um artista versátil, a quem as recentes colaborações com Richard Dorfmeister, Jimi Tenor, Blake Baxter, John Selway, Chemical Brothers ou Miss Kittin e a produção de "NY Muscle" de DJ Hell deram o reconhecimento merecido deste lado do Atlãntico.
Entre 2003 e 2004 Abe editou diversos maxis na sua própria label (Abe Duque Records). O ar de clandestinidade (sem editora visível, com o nome das faixas incluído de forma artesanal no rótulo central do vinil, temas sem título, etc) é uma declaração de intenções, de retorno ao elementar, da altura em que o produtor era a figura secundária, subjugado, por opção própria, ao anonimato.
"So Underground it Hurts" (edição da Gigolo de Hell) inclui, pela primeira vez num mesmo disco, os 8 máxis entretanto editados. O álbum é dominado pelo tom ácido (de acid), mas com uma percepção diferente daquela que por exemplo têm os Tiefschwarz: estes saltaram do deep house para o electro house quando aquele se tornou aborrecido, enquanto Abe esteve lá desde o inicio e tem uma visão diferente das coisas, provavelmente mais "inocente" e puramente recreativa. Música para dançar, simples e funcional, directa ao assunto, mecânica, talvez uma ou outra vez demasiado conservadora (e daí Abe ser injustamente considerado um produtor menor). Mas quando olha para o lado certo das coisas - como em "Acid" e "What Happened", a versão electrónica do niilismo cínico de "Losing My Edge" dos LCD Sounsdystem e um dos melhores singles de 04 - é uma música de uma intensidade física e uma visceralidade acima do normal. "So Underground It Hurts" é um disco competente, de gente que sabe o que está a fazer e que o faz como deve ser. No fundo, uma demonstração de que a música simples muitas vezes nada tem de básica.

quarta-feira, março 09, 2005

Agenda

Ando há 3 meses a testar a validade do ditado deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer. Desta vez resolvi apostar no não há fome que não dê me fartura.
Serve esta introdução despropositada para dizer que em dias consecutivos teremos no Porto a dupla K.I.M., o rapper britânico Ty e o alemão Sten, aka Lawrence.
Ponto de ordem à mesa.
K.I.M. são (e passo a citar o longo mail da Matéria Prima) Flokim Lucas e Jimi Bazzouka. Juntos concentram as suas forças numa dieta vegetariana não estando limitada à cor verde. Depois de vários atentados bombistas no continente americano, J. Bazzouka (militante anti-capitalista), mudou-se para as paisagens europeias onde encontrou uma parceira de nível equivalente. E que melhor local do que o sul de França para começar esta relação deveras exótica? Refugiada coreana, bibliotecária e guardiã intransponível de uma impressionante colecção fonográfica, F. Lukas logo compreendeu os objectivos do seu novo companheiro. Investindo todo o esforço no muito rentável negócio da venda de melões, logo decidiram aplicar o lucro daí advente em dois projectos para o futuro. O primeiro e talvez o mais importante dos dois, visível apenas a longo prazo, será o fabrico de „voodoo dolls‰ na tentativa de expandir ao norte da Europa o „Kern.Im.Mordsee‰ (comunidade inspirada por uma determinada figura paterna). O segundo é aquele que poderemos escutar nos espectáculos a apresentar ˆ um disco onde são exorcizados os fantasmas do passado ˆ uma versão Zen dos “2 Many Dj‚s”. Escolhas tão ocultas como a força que os guia, ou apenas pormenores únicos merecedores de um prolongamento? The Smiths, Edit Piaf, Psychic TV, Gun Club e Moondog são algumas das aparições agrupadas nas versões dos K.I.M.. Ao vivo espera-se uma surpresa saudável e um namoro sem tabus numa actuação em que o dj é peça fundamental, repleta de alternativas proteicas. Fim de citação. A piada disto tudo é que Jimi Bazzouka é provavelmente o alter-ego de Joakim, patrão da editora Tigersushi, autor de "Fantômes", criador do Joakim Lone Octet e remisturador de excepção (Air, Chateau Flight, Lionel Hampton) e não consta que alguma vez tenha vendido melões. A actuação é já amanhã, quinta-feira (10.03.2005) às 23H45, no Cinema Passos Manuel. Entrada: 7,5 €. Stop.
Ty é, para me citar a mim próprio, o MC mais talentoso do Reino Unido, logo a seguir a Roots Manuva. Com tudo o que isso tem de subjectivo e com os inúmeros "ses" inerentes a classificações deste tipo, Ty é o autor de dois discos magnificos: "Awkward" de 2001 e "Upwards" de 2003, ambos editados pela Big Dada. Ty estará nos Maus Hábitos, sexta-feira (11.03.2005) às 23:30, acompanhado por um DJ e com o RUM Sound System na sala ao lado. A entrada deverá rondar os 5 €, tradicionais sempre que há concertos nos Maus Hábitos.
Finalmente, Sten. Autor do estupendo "Leaving The Frantic" (podem ler o que acho do disco um pouco mais abaixo), dono da editora Dial e dinamizador da cena dançante de Hamburgo (copyright Blitz), estará no Swing, também na sexta-feira (11.03.2005) para a dupla tarefa live act / DJ. As manobras de aquecimento estarão a cargo de Expander.
Ty, Sten e Joakim irão igualmente a Lisboa e, no caso específico de Sten, a Coimbra.
Over and out.

terça-feira, março 08, 2005

Sugestões

A propósito do post sobre o "Funk Excursion" de Luciano & Serafin, recebi de um dos ilustres leitores deste blog (olá, Ricardo!) algumas sugestões pertinentes, todas editadas algures entre o final de 04 e o inicio deste ano.
A saber:
Luciano . Bomberos, edição recente na Cadenza
Serafin . Kristall EP, na Bruchstuecke
Marc Houle . Restore, 2 X 12" na Minus de Richie Hawtin
Slacknoise vs. Plexus . Ana Tak, 12" editado na mesma Minus

Se quiserem, podem enviar as vossas propostas através do endereço de mail indicado ali ao lado. Eu estou aqui para vos ouvir. :)

quinta-feira, março 03, 2005

Nathan Fake . Dinamo (12" Traum, 2005)



Nathan Fake nasceu há 21 anos em Norfolk, na Inglaterra e vive actualmente na cidade de Reading.
Antes de editar o seu primeiro maxi - "Outhouse" em finais de 2003 - Nathan Fake fez parte de um grupo post-rock, onde tocava guitarra, aparentemente e segundo as suas próprias palavras, sem nunca alcançar o padrão mínimo de qualidade. Como tantos outros músicos rock fracassados descobriria posteriormente a música electrónica e as potencialidades do computador e do respectivo software na concretização das suas ideias. Após alguns 12" que aumentaram a sua reputação no circuito underground, "The sky is Pink" tirou Nathan do anonimato, tenho ganho o respeito e a admiração de algumas das principais figuras do mundo da música electrónica. Desde então, Nathan tornou-se um dos meninos bonitos da editora Border Community de James Holden, combinando as harmonias da electrónica mais abstracta, com a energia imprevisível do house progressivo e dos novos sons minimalistas. "Dinamo" corresponde às expectativas criadas e torna-o num dos produtores mais conceituados do momento.
Editado através da alemã Traum, "Dinamo" é considerada por diversas criticas como a melhor faixa para dançar desde que no ano passado Mathew Jonson editou "Typerope". Tendo como ponto primordiar o tema homónimo que ocupa os doze minutos do lado A - um tema devastador, ritmicamente diverso e com uma sucessão de melodias que encaixam sistematicamente umas nas outras, acrescentando novas dimensões a algo que poderia ser a banda sonora para uma viagem intergaláctica - acaba por ser "Undoing the Laces" a faixa mais forte. Sob os beats electro e influências acid, são sobrepostos diferentes riffs estridentes que trituram a melodia base e coordenam variações discrepantes sobre o mesmo standard.
Inspirado, eficaz e sem contemplações estilísticas, "Dinamo" é um admirável aperitivo para o LP que Nathan prometeu editar até ao final de 2005, uma vez mais na Border Community, para um disco que será essencialmente dirigido para sonoridades mais tranquilas e menos centrado nos beats e na música para dançar.

terça-feira, março 01, 2005

Da Funk

Offshore Funk . The Cliff (12" Kanzleramt, 2005)



Offshore Funk é o novo projecto de Heiko Laux, proprietário da editora Kanzleramt, e de Teo Schulte, produtor e músico de jazz. "The Cliff" é o teaser para o novo álbum, a ser editado em finais de Março, e dele constam duas peças de espirito jazzistico e de um ... erm ... bom gosto irrepreensível. A versão em vinil inclui ainda uma remistura de Alexander Kowalski, fiel à melodia simples do original e igualmente a merecer crédito, apesar de ser menos efusiva do que é habitual nas produções de Kowalski. Faixa longa e divagante, a fazer uma audição agradável, algures entre o jazz, o disco e o house, "The Cliff" tem sido útil para descontrair dos sons mais violentos das últimas semanas - que, suspeito, me estão a deixar ligeiramente surdo - apesar de ter como principal defeito o facto de cansar rapidamente. Tipo aquelas árvores que prometem florir durante todo o Inverno e, no exacto instante em que chegam as primeiras trovoadas de Abril, puff.

Luciano & Serafin . Funk Excursion (12" Cadenza, 2004)



Facto: "Blind Behaviour" - disco do ano passado de Lucien Nicolet aka Luciano aka Lucien–N–Luciano - não me impressionou por aí além. Daí que tenha partido com poucas expectativas para este 12" e tenha adiado sucessivamente a sua audição. Fiz mal.
Nesta fase de 2005 a escuta de mais um disco de techno/house minimal com uma espécie de funk subliminar já não é propriamente uma novidade para ninguém mas o facto é que aos 5 minutos de "Funk Excursion" começa a ser evidente que há discos melhores do que outros e que este está no primeiro lado da barricada. Pelo inicio espartano - de "austero" e de "sóbrio" - e pela forma como diversos elementos são sobrepostos em camadas lembra de forma inevitável as produções de Villalobos. Evoca igualmente Terrestre - o alias groovy de Fernando Corona, i.e., Murcof - mas sem a dimensão folclórica dos ritmos Tex-Mex e dos metais festivos que este utilizou no superlativo "Secondary Inspection".
Música de uma ofuscante claridade, "Funk Excursion" é um 12 polegadas de escuta obrigatória e entra directamente naquele lote restrito de discos que definem o melhor que um determinado estilo tem para oferecer.