sexta-feira, julho 30, 2004

Studio One Dub (Soul Jazz)



I’m in a dancing mood...

Kingston, Jamaica, anos 60. Algures numa ilha do outro lado do Atlântico, um punhado de músicos gravava durante o dia um conjunto de temas em modo de contra-relógio fervilhante. As gravações eram quase arcaicas, simultaneamente selvagens, frescas e alucinantes. Pouco interessava desde que - e é impossível resistir a esta piada - o volume do baixo estivesse no máximo. O resultado destas sessões era imediatamente destinado para animação nocturna, altura do dia em que os soundsystems disputavam entre si o trofeu das festas mais concorridas e animadas e onde o sucesso se media em litros de suor despendidos e quilómetros de dança percorridos. Circulam histórias de dj's que trocavam as etiquetas dos discos para despistar possíveis rivais. As filas de jovens rapazes à porta das editoras, à espera da sua oportunidade para uma sessão de gravação, originavam mexericos sobre actividades pedófilas. Desentendimentos entre a Studio One e a Trojan – soundsystems rivais - terminavam muitas vezes em confrontos físicos. Êxitos americanos da soul eram cantados com a pronuncia pedrada da Jamaica e transformavam-se em hinos locais sem pagar direitos de autor. Cantavam-se odes a Jah, Bobby Bobylon, rastafari e todas as divindades locais misturadas com mensagens de teor político com um som recheado de ecos, reverbações e delays. Até que ... Londres, 40 anos mais tarde. Nomes como os de Jackie Mittoo, Alton Ellis, Delroy Wilson, King Stitt, Dennis Alcapone ou os The Skatalites caíram praticamente no esquecimento, desconhecidos por responsabilidade do ícone Bob Marley - esse autêntico Jim Morrison de tranças - que, qual sanguessuga, secou tudo em redor. Tesouros desprezados. Até que a editora Soul Jazz investigou o espólio da Studio One, o recuperou e editou, respectivamente, os volumes Studio One Rockers, Soul, Roots, Dj’s e Scorchers. 'Studio One Story' parecia ser o último volume da série, afirmando-se como o documento definitivo. Acompanhado por um livro profusamente ilustrado e por um dvd com mais de 4 horas - extenuante para um leigo menos interessado mas com depoimentos pertinentes, vídeos exclusivos e onde finalmente se percebe a razão pela qual King Stitt se intitulava "The Ugly One" - 'Studio One Story' é, como se costuma dizer nestas alturas, uma verdadeira lição de vida. Ou mais prosaicamente uma demonstração de amor à música e de imensa alegria de viver, na demanda do groove ideal e do ambiente perfeito. Mais tarde foram editados Studio One Musik City (caixa que incluia os primeiros cinco discos desta saga), Studio One Ska e Studio One Dub. As versões dub eram muitas vezes apenas instrumentais, onde o produtor e os engenheiros de som experimentavam novos efeitos sonoros e desenvolviam o seu lado mais criativo. No reggae- e ao contrário da terminologia utilizada, por exemplo, no hip hop - a pessoa com o microfone era normalmente designada como dj, enquanto a pessoa encarregada de escolher a música se chamava selector. Normalmente os singles tinham um lado A, preenchido com a versão mais popular do tema, enquanto o lado B se destinava a facultar uma base instrumental escolhida pelo selector e onde cada dj dava o seu próprio cunho pessoal. 'Studio One Dub' inclui versões em bruto de temas históricos como 'Skylarkin' de Horace Andy , 'Truth and Rights' de Johnny Osbourne, 'Swell Head' dos Burning Spear ou 'Bobby Bobylon' de Freddie McGregor (aqui com outras designações), para além de um conjunto de temas menos conhecidos, mas todos eles com um enfâse muito particular na secção rítmica (bateria e baixo). A maior parte dos fãs de ska, reggae e rocksteady vão reconhecer facilmente estes temas. Mas, mesmo para esses, esta é uma oportunidade única para os ter todos no mesmo disco.

quinta-feira, julho 29, 2004

Philip Jeck



Turntablist, sampling engineer e sound sculptor britânico Philip Jeck (n.1952) é uma das figuras mais fascinantes da cena avant garde actual. Com um currículo feito à base de incontáveis bandas sonoras para peças de teatro e companhias de dança, mantem, desde a década de oitenta, uma ligação estreita à música electrónica com resultados reconhecidos na década seguinte. Na primeira fase da sua carreira emulava artistas como Grandmaster Flash ou Afrika Bambaataa, tocando em festas underground e galerias de arte, mas rapidamente desenvolveu uma aproximação pessoal e experimental, cuja perfomance mais notável constituía numa instalação para 180 gira-discos, 12 projectores de slides e dois projectores de cinema, realizada em 1993, a que deu o subversivo nome de 'Vinyl Requiem'.
Jeck utiliza e desenvolve as potencialidades trazidas pelos defeitos, ruídos de estática e blips do vinil e de gira-discos vintage, que salva literalmente do lixo, extraindo um conjuntos de sons simultâneamente nostálgicos e evocativos, conjugados com ruídos e intromissões improvisadas, de forma a criar uma cacofonia caótica, com um fundo melódico a servir de base à criação de uma atmosfera desordenada. Mais acessível do que parece em teoria, Jeck acrescenta um trabalho virtuoso - a mesa onde normalmente actua assemelha-se ao balcão de um ourives - de experimentação com loops e scratching, com espaço para a improvisação e para 'acidentes' não intencionais, onde quase nada é planeado ou pré-determinado.
Movendo-se num território similiar ao de artistas como Christian Marclay, John Oswald ou David Shea e mantendo colaborações com músicos da vanguarda como Otomo Yoshihide, Christian Fennesz, Sonic Boom ou Martin Tétreault, Jeck desenvolve um trabalho original, transfigurando a música do passado em algo novo mas intemporal, de forma criativa, complexa e inequivocamente emocional.
Philip Jeck vai regressar ao Porto em Setembro - depois de, no ano passado, já cá ter estado para uma actuação em Serralves - juntamente com os Spektrum, Christian Fennesz + Jon Wozencroft, Burnt Friedman & Jaki Liebezeit e @C & Lia, integrado no Festival Hi-TeCA, que decorrerá no Teatro Carlos Alberto.

philipjeck.com

sexta-feira, julho 23, 2004

Morreu Carlos Paredes (1925-2004)


Pre Post Post Rock

Esta semana tenho ouvido dois discos que recuperam o post-rock. Numa altura em que o bom velho rock anda a ser objecto de revivalismos diversos, já houve - em meados de 2003 - quem se tenha ocupado da reabilitação do rock que veio a seguir. É o que se chama jogar na antecipação.
Apesar de já não ser uma grande novidade (e de, inclusive, a dupla Corker/Conboy já ter editado um segundo disco), deixo meia-dúzia de ideias soltas sobre os objectos em questão.

I'm Not a Gun . Everything At Once (City Centre Offices)



(Vamos supor que) cansado das suas anteriores experiências electrónicas, John Tejada abandona o indispensável laptop, convida Takeshi Nishimoto para uma sessão acústica no terraço e juntos contemplam, de instrumentos em punho, a cidade de San Francisco, do topo de um edifício com a Ilha de Alcatraz ao fundo. Não faço ideia se a cidade vive tranquila e preguiçosa como se adivinha na capa de ‘Everything At Once’ mas a mistura de guitarras melodiosas, baixos viciantes e ocasionais elementos electrónicos impelem ao sonho e a divagações serenas. ‘Everything At Once’ é um disco agradável, simpático, por vezes comovente, ideal para acompanhar aquelas noites de verão em que fartos de estupidificar em frente ao televisor resolvemos pegar no casaco e dar uma volta a sentir a brisa refrescante dos nevoeiros nortenhos (isto se as pilhas do diskman não acabarem entretanto). Mas ouvindo o disco com atenção fica a sensação incómoda que já ouvimos estes acordes em qualquer lado (em muitos lados? demasiados lados?) e que o 'bonito', sem nervo e com pouco génio, até pode emocionar mas não permanece na memória. Nas contas finais este poderia muito bem ser o hipotético álbum que reuniria os lados B dos Gastr del Sol. O que, parecendo que não, afinal até é um elogio.

Corker / Conboy . In Light Of That Learnt Later (Vertical Form)



Adrian Corker e Paul Conboy já formaram os Ape, já se chamaram Soul Circuit, já editaram pela Talkin’ Loud, já fizeram bandas sonoras para filmes e instalações multimédia. Agora, e a não ser que me tenha escapado algum passo intermédio, editam discos que emulam os Tortoise. Mais detalhadamente: a dupla Corker & Conboy assume como ponto de partida o post-rock e constrói uma ponte - imaginária, como é óbvio - entre Chicago, África, a América do Sul e a cidade de Londres. Claro que aos 2 minutos pensamos que já ouvimos estes acordes em qualquer lado (e não, não foi no disco de I’m Not A Gun) e que provavelmente este sentido de melancolia e melodias delicadas esculpidas à base de instrumentos acústicos e electrónica discreta - nas melhores vezes a fazer lembrar os Labradford, os Pan American ou os Seefeel - sabe a comida de plástico. ‘In Light ...’ é um disco que ambiciona liberdade e capacidade de invenção mas não corresponde inteiramente às expectativas criadas pelos dedilhares de guitarra tecnicamente perfeitos. Tenta voar mas não tira os pés do chão. Nas contas finais ‘In Light ...’ até podia ser o hipotético álbum que reuniria os lados B dos lados B dos Gastr del Sol. O que, parecendo suficiente, não chega para ser um elogio.

quinta-feira, julho 22, 2004

Fabric 17



O novo Fabric vem descrito como minimal house tour-de-force, bursting with energy, excitement, and invention, é compilado pelo canadiano Akufen e é coisa para conter temas de Matthew Dear, The Rip Off Artist, Senor Coconut, Herbert, Soul Center, Cabanne, Jeff Milligan, etc e tal.
Fabric 17 prefigura-se como uma excelente sessão de pop digital, i.e. sons subterrâneos e longínquos mantidos sob uma batida pulsante. Quem não gosta chamar-lhe-á música fria e repetitiva. Eu prefiro pensar em música de carácter indecifrável, um folclore soturno e estranho de microhouse e techno minimal, a emergir dos auscultadores, quase como uma aparição.

sábado, julho 17, 2004

SONIC FRESH '04 (OP ART) 23/24/25.07.2004

programa

sexta 23.07.2004
23h manu dj
01h thomas felmann ao vivo
02h nelson flip + yellow dj + mc
04h david carretta ao vivo
05h wighnomy brothers dj's

sábado 24.07.2004
23h clé k dj
01h basteroid ao vivo
02h expander dj
04h paul kalkbrenner ao vivo
05h superpitcher dj

domingo 25.07.2004
24h martin coligolo dj + special guests

Life:Styles, Compiled By Coldcut (Harmless)



Antes do big beat, do blingbeat, do breakbeat, do brokenbeat, do trip hop e do acid house, já existiam os Coldcut.
Os fundadores da Ninja Tune compilam o segundo volume da colecção Life:Styles (o primeiro foi compilado pelos 4 Hero e entretanto já saiu um terceiro volume da responsabilidade de Kenny Dope), editada pela label londrina Harmless, e elaboram uma selecção de 17 raridades, orientada para o funk, o soul, o psycho disco, o reggae, os primórdios do hip hop, o rare groove e, rigorosamente, tudo à volta.
Dentro de uma escolha irreprensível e não misturada (what is nice!) destaco Bobby Shad and The Bad Man numa versão de 'I Want You Back' dos Jackson 5, com violinos, orgão, secção de sopros, percussão e breaks em absoluto frenesim que vão por ali fora até estarem 3 segundos adiantados em relação aos restantes instrumentos, a linha de baixo invulgar e a batida reminiscente dos The Meters de 'There's A Break In The Road' de Betty Harris (no booklet os Coldcut escrevem que compram sempre qualquer disco que contenha a palavra 'break'), Richard de Bordeaux & Daniel Beretta a revelarem a pista francesa do psicadelismo numa música que responde pelo inesperado nome de (tan tan) 'La Drogue', 'Hernandoz Hideway' de Archie Bleyer, original dos anos 50, com castanholas, vozes da rádio, letra camp e um acompanhamento musical aparentado com o tango que a dupla DoubleDee & Steinski revelou ao mundo moderno no seminal 'Lesson 3', o romantismo cosmopolita e pós-moderno de 'Taxi Nocturno' de Axel Kryglier e, finalmente, a killer dancefloor track criminosamente aditiva chamada 'The Only Way Is Up' de Otis Clay.
Mas há mais, como o hard funk de 'Can I Get A Witness' de Barbara Randolph (nada a ver com o tema homónimo que os Sofa Surfers gravaram uns anos mais tarde) ou 'The Long Wait' de Morton Stevens, tema que os Cinematic Orchestra samplaram/citaram em 'Night Of The Iguana'.
Para além da faceta funcional e recreativa, capaz de animar qualquer momento em sociedade, este disco recupera raridades e temas obscuros, que de outra forma teriam um acesso reservado ao público em geral ou definhariam, incógnitos numa qualquer loja de vinil.
A Harmless faz verdadeiro serviço público, é o que é.

quinta-feira, julho 15, 2004

Jazz no Parque

Sábado, 17 de Julho, 18 Horas, no Jardim de Serralves:
Garry Hemingway (bateria)
Ellery Eskelin (sax tenor)
Ray Anderson (trombone) e
Mark Helias (contrabaixo), formam o Gerry Hemingway Quartet.
Entrada: 10 euros.

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É uma proposta irrecusável que, como diria o Maniche, eu não posso recusar. :)

Sixtoo . Chewing On Glass & Other Miracle Cures (Ninja Tune)



'Chewing on Glass...' marca a estreia do produtor canadiano Sixtoo (born: Robert Squire) na editora Ninja Tune, após uma extensa discografia espalhada por labels como a Vertical Form ou a Anticon e uma enorme lista de colaborações que incluiam nomes como os de Sage Francis, Buck 65 (com o qual formou os Sebutones) e o grupo Aquasky.
Sixtoo descreve, no magnífico booklet que acompanha o disco, a forma como, após quatro meses de trabalho árduo, deitou o resultado ao lixo e começou tudo de novo. Descontente com o resultado, Sixtoo abandonou os seus objectos habituais de produção - samplers e turntables - e passou a utilizar instrumentos 'reais' (entre os quais um piano Rhodes oferecido pela namorada) gravados ao vivo, conjugados com samples diversos, sequenciados de forma consistente e metódica. Com a colaboração do multi-instrumentista Matt Kelly e com a participação de Norsola Johnson e Thierry Amar dos Goodspeed You Black Emperor, Eric Craven dos The Hanged Up e do ex-vocalista dos Can, Damo Suzuki, 'Chewing on Glass...' faz a ponte perfeita entre electrónica, hip hop, psyche rock e as paisagens sonoras claustrofóbicas e gélidas típicas das edições da Constellation. Embora, nesta equação, a soma não seja superior a cada uma das partes isoladas, 'Chewing on Glass...' é um trabalho sólido, bem produzido ('Transient Control' e 'Horse Drawn Carriage' estão entre as preferidas) e coerente. A irmandade da beleza e da ruína em dezassete capítulos ininterruptos ou, se quisermos ser poéticos e profundos, todas as inflexões possíveis da palavra desolação, vividas nas trevas do longo Inverno de Montreal.

sexta-feira, julho 09, 2004

For Frosty Mornings and Summer Nights

Tortoise «The Lithium Stiffs»
Fennesz «The Point Of It All»
Ekkehard Ehlers «Plays John Cassavetes (Pt.2)»
Fennesz, O'Rourke, Rehberg «Fenn O'Berg Theme»
Animal Collective «Winters Love»
Colleen «Ritournelle»
Boom Bip «Last Walk Around Mirror Lake (Boards Of Canada remix)»
Murcof «Mo (A.Mo.Re-Aeroc Mix)»
Funckarma «Bace»
The Orb / Ulf Lohmann «Because Before»
Brian Eno & Daniel Lanois «Always Returning»
Max Ritcher «On The Nature Of Daylight»

Team Shadetek . Burnerism (Warp)



No início vislumbram-se esboços rítmicos que se concretizam e interligam de forma minuciosa. O eco distante de um groove irresistível, que sugere mais do aquilo que assume, começa na sala do lado até se fundir no músculo dos orgãos vitais. Enquanto o enredo não começa, são adicionados - camada a camada, com o excessivo cuidado de um cirurgião - complementos electrónicos e fragmentos marginais que desviam a atenção para longe do local onde vai decorrer a acção. Quando o ouvinte indefeso pressente o risco já é tarde e o simples rascunho acabou de se transfigurar em funk branco, hip hop sujo, electro contaminado, esqueletos excêntricos a dançar ao som de uma telefonia sujeita a interferências. In the Beginning There Was Rhythm. Na rotação errada, transformado, assíncrono, esquartejado, o ritmo continua vivo. Irreconhecível mas intacto.
+
shadetek/burnerism/main.html

quarta-feira, julho 07, 2004

Minnie Riperton

Minnie Riperton nasceu a 8 de Novembro de 1947 em Chicago, cidade onde estudou música, teatro e dança.
Iniciou-se na música pop aos 15 anos, quando entrou na editora Chess como parte integrante das The Gems; grupo feminino que editou alguns singles que não ficaram na história, ao mesmo tempo que fazia (o grupo, não Riperton) coros em espectáculos de algumas das artistas mais consagradas da editora, como eram os casos de Fontella Bass, The Dells ou Etta James. Após a dissolução das The Gems, Riperton gravou um par de canções a solo sob o pseudónimo de Andrea Davis, ao mesmo tempo que trabalhava como recepcionista nos escritórios da editora.
Em 1967, após uma audição em que, diz a lenda, o produtor e compositor Charles Stepney terá ficado impressionado com a sua voz celestial e operática (Riperton tinha uma voz invulgar de soprano, capaz de chegar sem esforço às cinco ou seis oitavas, tendo, na sua adolescência, chegado a manter uma breve carreira como cantora de ópera), Riperton foi convidada para cantar nos Rotary Connection. Simultaneamente, participou em discos de Quincy Jones, Roberta Flack, Freddie Hubbarb e Etta James e gravou, em 1970, um disco a solo na Chess ('Come Into My Garden'), um álbum que o allmusic definiria alguns anos mais tarde como " a perfect balance between romantic melodrama and sensual nuance" (e eu juro que o disco soa bem melhor do que aquilo que esta descrição faz prever). Porém, quatro anos após a estreia e seis álbuns mais tarde - com vendas nunca superiores às 200.000 cópias, o que lhes dava o estatuto de serem um dos mais bem sucedidos grupos underground de Chicago, mas era insuficiente para atingirem o reconhecimento global - Riperton deixou os Rotary Connection, tendo estes terminado definitivamente a carreira em 1974.
Com o final dos Rotary Connection, Riperton abandonou a Chess e mudou-se para a cidade de Los Angeles (não forçosamente por esta ordem) onde conheceu Stevie Wonder, com quem andou em digressão como cantora de suporte nas Wonderlove. Fascinado pela voz única de Riperton, Stevie aceitou co-produzir 'Perfect Angel', ao mesmo tempo que tocava bateria e teclados e dava uma mãozinha na autoria de três dos nove temas do disco, incluindo o seu primeiro grande êxito internacional, 'Lovin' You'. No entanto, os álbuns seguintes - 'Adventures in Paradise' e 'Stay In Love', gravados com a colaboração cúmplice de seu marido, Richard Rudolph - tiveram um êxito muito relativo.
Apesar do pouco reconhecimento, Riperton nunca deixou de cantar e actuar ao vivo, mantendo uma carreira discreta mas socialmente interventiva, até falecer, vítima de cancro, em 12 de Julho de 1979.

erm...
Isto tudo para dizer que sou, desde esta tarde, o feliz proprietário destes dois "meninos"

:)

terça-feira, julho 06, 2004

One Nation Under A Groove

Jimmy McGriff «The Worm»
Henry Peters & The Imperials «Master Groove»
The Supremes «Bad Weather»
Lonnie Liston Smith «Rejuvenation»
Horace Silver «Not Enough Mama»
Antibalas «Indictment»
Roy Ayers «Big Man»
Funkadelic «Who Says A Funk Band Can't Play Rock?»
Pete Rock Feat. Talib Kweli and C.L. Smooth «Fly Till I Die»
Encore Feat. Opio and A-Plus of Souls Of Mischief «Traditional Slick Talk»
Dilated Peoples Feat. Kanye West «This Way»
Beastie Boys «Triple Trouble»

domingo, julho 04, 2004

Saturday Night Fever

!!! «Pardon My Freedom»
Âme «Ojomo»
Daniel Wang «Berlin Sunrise»
Hell + Alan Vega «Listen To The Hiss»
Matthew Dear «Dog Days»
Superpitcher «Tomorrow - Kaito rmx»
Motorbass «Get Phunked Up - Richie Hawtin rmx»
Melchior Productions «The Party»
Recloose «Cardiology - Isolée rmx»
Alter Ego «Rocker - Blackstrobe Remix»

sábado, julho 03, 2004

va . Chicago Soul (Souljazz)



'Chicago Soul' é uma compilação representativa da Chess Records, uma das mais eminentes editoras de música negra da cidade de Chicago, durante as décadas de 50 e 60. Chicago era, por esta altura, a cidade norte-americana com maior crescimento demográfico da população negra, ainda consequência do fim da escravatura e da correspondente migração de negros para o norte para servirem de mão-de-obra nas indústrias metalúrgicas e nas minas de zinco. A Chess Records foi fundada por Leonard e Phil Chess, dois irmãos emigrantes polacos, e tem um catálogo impressionante, numa primeira fase, ligado aos blues, r'n'b e gospel e, mais tarde, ao soul, jazz, funk e rock psicadélico. O seu catálogo inclui nomes como os de Howlin' Wolf, Bo Diddley, Etta James, Ramsey Lewis, Dorothy Ashby, The Soul Stirrers, Buddy Guy, Rotary Connection, Muddy Waters e Fontella Bass (todos incluídos neste disco) ou Terry Callier, Max Roach, Yusef Lateef, John Lee Hooker, Chuck Berry, Sugar Pie de Santo e mesmo Marvin Gaye, que com 15 anos, chegou a gravar na Chess através do grupo vocal The Moonglows.
Alguns dos temas contidos nesta colecção são verdadeiramente históricos. É o caso de 'Tell Mama' de Etta James (a primeira artista soul a gravar pela Chess) e 'Leave It In The Hands Of Love' cantada por Fontella Bass. Fontella foi a mulher de Lester Bowie, membro dos fundamentais Art Ensemble de Chicago e foi a voz do clássico 'Theme de YoYo' e surge nesta compilação com um tema deep soul incluído no único disco que gravou na Chess. Outro tema particularmente interessante é 'More and More' de Little Milton Campbell, uma música que juntava a soul ao espírito dos blues. Após o declinio da editora, Little Milton chegou a editar na Stax, nos anos 70.
Três pessoas alteraram de forma radical a sonoridade inicial da Chess e modificaram de forma indelével o rumo da música moderna: Richard Evans, Charles Stepney e Marshall Chess.
Richard Evans foi o primeiro produtor da Chess a fundir elementos do rock e do jazz, expresso nos inúmeros discos que produziu de músicos como Richard 'Groove' Holmes, Jack McDuff, Ramsey Lewis ou Dorothy Ashby. Evans acrescentou uma nova dimensão ao jazz que se fazia na altura, utilizando arranjos de metais, cordas (soulful strings) e coros e uma secção ritmica que tocava com o fervor dos blues, usando novas técnicas de gravação e instrumentos como o theremin (por exemplo, no inicio de 'Soul Vibrations' de Ashby, incluído neste disco), acresentando uma dimensão espiritual e mística que influenciou artistas como Alice Coltrane.
Charles Stepney era um compositor de orquestras pouco conhecido, com um particular interesse pelo avant-garde. Charles apareceu na Chess como teclista dos Soulful Strings. Daí a produzir o primeiro disco dos Rotary Connection foi um pequeno passo. Encorajado por Marshall Chess (filho de Leonard), utilizou novas técnicas de gravação, manipulação de fitas e novos instrumentos electrónicos, criando uma sonoridade rica e cativante. 'Memory Band' dos Rotary Connection, é dos temas mais interessante contidos neste disco e é uma música notável com a inclusão de cítaras eléctricas, vozes de crianças, uma orquestração luxuriante e bizarra e a voz high pitched de Minnie Riperton. Stepney fez, uns anos mais tarde, parte dos essenciais Earth, Wind & Fire.
Por fim, Marshall Chess. Como já foi dito, Marshall é filho de Leonard Chess e desde sempre esteve habituado a conviver com os artistas da editora, que apareciam em casa dos seus pais após as gravações. No final da década de sessenta, influenciado pelas conferências de Timothy Leary e pela música de Bob Dylan e de vários grupos underground como os Jefferson Airplane ou os Buffalo Springfield que ouvia no mítico Electric Circus, pretendeu explorar musicalmente estas ideias como produtor. Surgiu assim uma nova subsidiária da Chess - a Cadet Concept - mais especializada no rock psicadélico.
Uma história curiosa: 'Electric Mud' de Muddy Waters misturava um funk raw aos blues originais - blues que, nesta altura, eram vistos pela juventude negra como fora de moda e representativos de um passado que era preferível esquecer e que foram alguns anos antes, reinventados num folk blues mais acústico, aparecendo em festivais conceituados como o Newport Folk - e foi mal acolhido pelos críticos de blues mais ortodoxos da altura. Mais tarde, Chuck D, dos Public Enemy, considerou 'Electric Mud' o melhor disco de blues que jamais ouviu e o álbum foi regravado por Marshall em 2003, com os músicos originais a gravar ao lado de rappers como o próprio Chuck D e Common.
Leonard Chess morreu em 1969. Antes, nesse mesmo ano, Leo e Phil haviam vendido a companhia à GRT, com o objectivo de realizarem dinheiro para entrar no competitivo mercado televisivo. Mas, com a morte de Leonard, morreu também o coração e a alma da editora original. A GRT (uma empresa que manufacturava discos e meios de gravação e que pretendia fomentar o seu negócio comprando diversas companhias discográficas) ainda nomeou Marshall como presidente, mas a nova administração não tinha a sensibilidade, a dedicação e o talento dos irmãos Chess e rapidamente a editora entrou em declínio. Em 1975, a GRT fechou e vendeu a Chess a Joe e Sylvie Robinson, donos da All Platinum Records e da Sugarhill Records, que, impulsionada pelos talentos dos Sugarhill Gang e de Grandmaster Flash, se tornou uma das mais bem sucedidas editoras de rap da altura. Contudo os Robinsons foram incapazes de recuperar a label, e venderam-na à MCA, mais tarde adquirida pela Universal, major que nesta altura detem os direitos de exploração do imenso e rico catálogo da Chess.
Este disco conta a história da Chess na década de 60 - a sua década mais produtiva, em que chegavam a ser editados cerca de 50 álbuns e mais de 100 singles por ano, distribuídos pelas subsidiárias Argo (mais ligada ao jazz), Checker, Cadet e Cadet Concept. Obviamente, não substituirá o prazer de aquirir os singles e os lp's originais, mas é um resumo essencial e um primeiro contacto imprescindível com uma das editora mais importantes e mais ignoradas da história da música. Ficamos então à espera de novos volumes e desenvolvimentos nesta história e que se descubra o legado de outras editoras essenciais na definição do som de Chicago, como a Vee-Jay Records, a King Records, a Okeh (uma subsidiária da Columbia, cujo a & r era Carl Davis, um dos mais importantes produtores da altura) ou a Curton Records, de Curtis Mayfield.

+
Marshall Chess Interview.
Chess Records.

quinta-feira, julho 01, 2004

Edições recentes


O novo Channel - neste caso, o 3 - da Output e a centésima edição da Kompakt.
O error-404 já comentou este último e a descrição deixa... como dizer... água na boca.

Ripa na rapaqueca



Escreve Miguel Esteves Cardoso, na última edição do Blitz:
"No Euro 2004, é sintomático que sejam os adeptos ingleses (que, apesar dos contratempos, continuam a fazer a melhor música Pop do mundo) que mais cantam. Os países que menos cantam são, quase matematicamente, aqueles com a pior música Pop."

Depois de mais uma noite inteira de festejos, em que as músicas de apoio se dividiram entre o imaginativo 'Eeeeeeeehhhhhhhh ... Portuuuugal Allez / Portugal Allez / Portugal Allez/ Portuuuugal Allez' e o eterno 'Oléééé Oláááááa / e Portugal é o melhor que há/ OléOlá' não resta outra alternativa senão concordar.