sábado, julho 17, 2004

Life:Styles, Compiled By Coldcut (Harmless)



Antes do big beat, do blingbeat, do breakbeat, do brokenbeat, do trip hop e do acid house, já existiam os Coldcut.
Os fundadores da Ninja Tune compilam o segundo volume da colecção Life:Styles (o primeiro foi compilado pelos 4 Hero e entretanto já saiu um terceiro volume da responsabilidade de Kenny Dope), editada pela label londrina Harmless, e elaboram uma selecção de 17 raridades, orientada para o funk, o soul, o psycho disco, o reggae, os primórdios do hip hop, o rare groove e, rigorosamente, tudo à volta.
Dentro de uma escolha irreprensível e não misturada (what is nice!) destaco Bobby Shad and The Bad Man numa versão de 'I Want You Back' dos Jackson 5, com violinos, orgão, secção de sopros, percussão e breaks em absoluto frenesim que vão por ali fora até estarem 3 segundos adiantados em relação aos restantes instrumentos, a linha de baixo invulgar e a batida reminiscente dos The Meters de 'There's A Break In The Road' de Betty Harris (no booklet os Coldcut escrevem que compram sempre qualquer disco que contenha a palavra 'break'), Richard de Bordeaux & Daniel Beretta a revelarem a pista francesa do psicadelismo numa música que responde pelo inesperado nome de (tan tan) 'La Drogue', 'Hernandoz Hideway' de Archie Bleyer, original dos anos 50, com castanholas, vozes da rádio, letra camp e um acompanhamento musical aparentado com o tango que a dupla DoubleDee & Steinski revelou ao mundo moderno no seminal 'Lesson 3', o romantismo cosmopolita e pós-moderno de 'Taxi Nocturno' de Axel Kryglier e, finalmente, a killer dancefloor track criminosamente aditiva chamada 'The Only Way Is Up' de Otis Clay.
Mas há mais, como o hard funk de 'Can I Get A Witness' de Barbara Randolph (nada a ver com o tema homónimo que os Sofa Surfers gravaram uns anos mais tarde) ou 'The Long Wait' de Morton Stevens, tema que os Cinematic Orchestra samplaram/citaram em 'Night Of The Iguana'.
Para além da faceta funcional e recreativa, capaz de animar qualquer momento em sociedade, este disco recupera raridades e temas obscuros, que de outra forma teriam um acesso reservado ao público em geral ou definhariam, incógnitos numa qualquer loja de vinil.
A Harmless faz verdadeiro serviço público, é o que é.