Pre Post Post Rock
Esta semana tenho ouvido dois discos que recuperam o post-rock. Numa altura em que o bom velho rock anda a ser objecto de revivalismos diversos, já houve - em meados de 2003 - quem se tenha ocupado da reabilitação do rock que veio a seguir. É o que se chama jogar na antecipação.
Apesar de já não ser uma grande novidade (e de, inclusive, a dupla Corker/Conboy já ter editado um segundo disco), deixo meia-dúzia de ideias soltas sobre os objectos em questão.
I'm Not a Gun . Everything At Once (City Centre Offices)
(Vamos supor que) cansado das suas anteriores experiências electrónicas, John Tejada abandona o indispensável laptop, convida Takeshi Nishimoto para uma sessão acústica no terraço e juntos contemplam, de instrumentos em punho, a cidade de San Francisco, do topo de um edifício com a Ilha de Alcatraz ao fundo. Não faço ideia se a cidade vive tranquila e preguiçosa como se adivinha na capa de ‘Everything At Once’ mas a mistura de guitarras melodiosas, baixos viciantes e ocasionais elementos electrónicos impelem ao sonho e a divagações serenas. ‘Everything At Once’ é um disco agradável, simpático, por vezes comovente, ideal para acompanhar aquelas noites de verão em que fartos de estupidificar em frente ao televisor resolvemos pegar no casaco e dar uma volta a sentir a brisa refrescante dos nevoeiros nortenhos (isto se as pilhas do diskman não acabarem entretanto). Mas ouvindo o disco com atenção fica a sensação incómoda que já ouvimos estes acordes em qualquer lado (em muitos lados? demasiados lados?) e que o 'bonito', sem nervo e com pouco génio, até pode emocionar mas não permanece na memória. Nas contas finais este poderia muito bem ser o hipotético álbum que reuniria os lados B dos Gastr del Sol. O que, parecendo que não, afinal até é um elogio.
Corker / Conboy . In Light Of That Learnt Later (Vertical Form)
Adrian Corker e Paul Conboy já formaram os Ape, já se chamaram Soul Circuit, já editaram pela Talkin’ Loud, já fizeram bandas sonoras para filmes e instalações multimédia. Agora, e a não ser que me tenha escapado algum passo intermédio, editam discos que emulam os Tortoise. Mais detalhadamente: a dupla Corker & Conboy assume como ponto de partida o post-rock e constrói uma ponte - imaginária, como é óbvio - entre Chicago, África, a América do Sul e a cidade de Londres. Claro que aos 2 minutos pensamos que já ouvimos estes acordes em qualquer lado (e não, não foi no disco de I’m Not A Gun) e que provavelmente este sentido de melancolia e melodias delicadas esculpidas à base de instrumentos acústicos e electrónica discreta - nas melhores vezes a fazer lembrar os Labradford, os Pan American ou os Seefeel - sabe a comida de plástico. ‘In Light ...’ é um disco que ambiciona liberdade e capacidade de invenção mas não corresponde inteiramente às expectativas criadas pelos dedilhares de guitarra tecnicamente perfeitos. Tenta voar mas não tira os pés do chão. Nas contas finais ‘In Light ...’ até podia ser o hipotético álbum que reuniria os lados B dos lados B dos Gastr del Sol. O que, parecendo suficiente, não chega para ser um elogio.
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