quarta-feira, março 16, 2005

Abe Duque . So Underground It Hurts (Gigolo, 2004)



Filho de um pastor evangelista com um amor impulsivo pela música, Carlos Abraham Duque Alciva nasceu no Equador e vive desde os dois anos de idade em NYC. Desde cedo um consumidor obsessivo de vinil e de música electrónica, Abe tornou-se um entusiasta da cultura djing no início da década de 80 e começou a carreira de produtor de música de dança em 1988.
Do seu currículo constam edições em labels como a Disko-b, Oval, V2, Vortex, Sahko, Mainframe, Tresor, Instinct, GiG, Tension, Abuse, Warner Bros, Mille Plateaux, Sonic Groove, Universal e Rapture.
Uma discografia extensa de um artista versátil, a quem as recentes colaborações com Richard Dorfmeister, Jimi Tenor, Blake Baxter, John Selway, Chemical Brothers ou Miss Kittin e a produção de "NY Muscle" de DJ Hell deram o reconhecimento merecido deste lado do Atlãntico.
Entre 2003 e 2004 Abe editou diversos maxis na sua própria label (Abe Duque Records). O ar de clandestinidade (sem editora visível, com o nome das faixas incluído de forma artesanal no rótulo central do vinil, temas sem título, etc) é uma declaração de intenções, de retorno ao elementar, da altura em que o produtor era a figura secundária, subjugado, por opção própria, ao anonimato.
"So Underground it Hurts" (edição da Gigolo de Hell) inclui, pela primeira vez num mesmo disco, os 8 máxis entretanto editados. O álbum é dominado pelo tom ácido (de acid), mas com uma percepção diferente daquela que por exemplo têm os Tiefschwarz: estes saltaram do deep house para o electro house quando aquele se tornou aborrecido, enquanto Abe esteve lá desde o inicio e tem uma visão diferente das coisas, provavelmente mais "inocente" e puramente recreativa. Música para dançar, simples e funcional, directa ao assunto, mecânica, talvez uma ou outra vez demasiado conservadora (e daí Abe ser injustamente considerado um produtor menor). Mas quando olha para o lado certo das coisas - como em "Acid" e "What Happened", a versão electrónica do niilismo cínico de "Losing My Edge" dos LCD Sounsdystem e um dos melhores singles de 04 - é uma música de uma intensidade física e uma visceralidade acima do normal. "So Underground It Hurts" é um disco competente, de gente que sabe o que está a fazer e que o faz como deve ser. No fundo, uma demonstração de que a música simples muitas vezes nada tem de básica.