segunda-feira, janeiro 31, 2005

Heib . The Undertaker (12" Kompakt, 2005)



Tracklisting:
A1 Stripped
A2 Phönix
B The Undertaker


Jochen Heib é autor de "Diana Dies Tonight" - faixa incluída no excelente "Speicher 18", dividido a meias com Reinhard Voigt - e "The Undertaker" é uma das faixas mais tocadas neste inicio de ano.
Directo, sem rodeios, objectivo, "The Undertaker" (o tema que preenche todo o lado B) é um exemplo acabado da magical dancefloor alchemy of classic techno: ritmo 4/4 a marcar a cadência, linha de baixo straight to the bone (no sentido mais estrito do termo) repetida em círculos de intensidade crescente, reverbs densos a redefinirem o conceito de "atmosfera claustrofóbica".
"Stripped" e "Phönix", no lado A, são mais do mesmo.
Which is nice. :)

Alex Under . Las Bicicletas Son Para El Verano (12" Trapez, 2005)



Tracklisting:
A Las Bicicletas Son Para El Verano
B1 El Verano
B2 Las Bicicletas


Espanhol (de Madrid), Alex Under estreia-se no catálogo da Trapez.
"Las Bicicletas Son Para El Verano" - título de um filme espanhol da década de 80 - tem groove e uma vitalidade qb. Mas é talvez demasiado linear e demasiado parecido com demasiadas outras coisas.
O híbrido entre house e techno veio para ficar, disso não tenho grandes dúvidas. Resta saber se fica com discos capazes de revelar uma personalidade forte e abrir portas para o futuro ou se como uma tendência mais ou menos passageira.
Exceptuando "Las Bicicletas" que preenche a segunda metade do lado B (atenção ao groove sub-reptício a decorrer em paralelo com o ritmo principal), Alex Under parece não ter (ainda) um discurso próprio que lhe permita descolar das suas referências primordiais - a saber: Steve Bug, Akufen, Mathew Jonson, Nathan Fake, etc et al - e abandonar estereótipos.
"Las Bicicletas Son Para El Verano" está longe de ser um 12" dispensável mas acaba por ser, em comparação com as mais recentes edições da Trapez, uma ligeira decepção.

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Adenda ao último post

Entrevista com Ada, aqui.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Agenda II

"Depois das actuações desta semana em Coimbra e Lisboa, Ada regressa a 4 de Fevereiro para visitar o Swing, no Porto, em sessão complementada por Expander e Manu."

retirado do Blitz.

nota: o esta semana do texto entende-se como amanhã e sábado.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Agenda I

Olá.
Long time, no see. :)

"Após quatro dias em warm-up, como já é habitual, a abertura oficial do Fantasporto, dia 25 de Fevereiro (coincidência simbólica), far-se-á com "Constantine", de Francis Lawrence, estando "Manô", de George Felner (Portugal), destinado ao encerramento. Entre um e outro, muita coisa se vai passar, e não confinada às telas de serviço. A programação paralela engloba um Fantas Sound no Teatro Sá da Bandeira, ao longo de oito noites, com as bandas Milladoiro, Xutos e Pontapés, João Bosco e Trio, Fairport Convention, Mesa, Maria Viana, Daemonia e Plaza.
E tudo acaba no dia 5 de Março, com o Baile dos Vampiros, animado pelo DJ e produtor chileno Ricardo Villalobos."


algures em dn.sapo.pt.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Gabriel Ananda . Tai Nasha No Karosha (Karmarouge, 2004)



Depois de duas dezenas de 12" e EPs editados em pouco mais de três anos em labels como a Utils, a Shot, a Treibstoff, a Trapez, a Substatic ou a Karmarouge, o alemão Gabriel Ananda apresenta o seu disco de estreia, desde Dezembro disponível apenas em vinil, mais tarde com edição prevista para CD.
"Tai Nasha No Karosha" oferece oito faixas, algures entre o dub, o techno/house e a electrónica minimal, sempre com os graves em destaque e a energia incessante do baixo a pulsar com elegância mas sem concessões à tentação de privilegiar a forma em relação à substância (género bpms a todo o vapor ... bum bum bum ... por ali fora, com o TB303 a impor picos emocionais).
A construção de ambientes, ora fisicamente mais intensos, ora mergulhados num estado de letargia contemplativa, alicerçados numa produção rígida e numa pormenorizada inserção de apontamentos melódicos, não é exactamente capaz de deixar o ouvinte em êxtase, mas, juntamente com nomes como os de Dominik Eulberg, John Tejada ou Vince Watson, Ananda está já naquele lote de produtores que, mesmo surgindo em anos recentes, têm no seu portfolio um conjunto de edições sólidas, criativas e pulsantes. Ananda demonstra - tal como os exemplos referidos - uma personalidade e um discurso próprios, apontando o caminho a seguir com bravura, enquanto demonstra ao povo que dança de forma esclarecida que é possível obedecer aos impulsos físicos mais primitivos e desenvolver, em simultâneo, um conceito abstracto de algo que se poderia designar como "transcendência espiritual".

ps: presumo que o leitor já comece a estar um pouco cansado de produtores alemães e considere toda esta sucessão de posts sobre house, electro e sobre o encontro entre a obscuridade do techno germânico com a espiritualidade do seu congénere de Detroit, verdadeiramente lamentável.
Se for esse o caso a boa notícia é que "Tai Nasha No Karosha" é o último disco do inventário de 2004.
Após um breve período de férias as coordenadas passarão a ser outras. :)

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Âme, all time classics

Stevie Wonder . Fulfillingness' First Finale
Manuel Göttsching . E2-E4
Miles Davis . In A Silent Way
Alice Coltrane . Journey to Satchinanda
John Coltrane . A Love Supreme
Jackie Mittoo . Lebenswerk
Weather Report . Mr. Gone
Sun Palace . Rude Movements
Prince . Sign 'o' the Times
Rhythm Is Rhythm . Strings of Life



Os Âme (pronuncia-se "Ahm", a palavra francesa para alma, i.e. 'soul') são os alemães Kristian Beyer e Frank Wiedemann.
Em 2004 editaram o mais que recomendável LP de estreia pela Sonar Kollecktiv, editora dos Jazzanova. "Âme" (o álbum) recolhe todos os 12" editados anteriormente e assume as principais influências da dupla: Detroit (na visão mutante de Moodyman, Carl Craig, Recloose ou dos Metro Area), o broken-beat londrino (popularizado por figuras como IG Culture ou os Bugz in the Attic) e o jazz electrónico dos anos 70, tal como nos habituamos a ouvir em Miles Davis ("Bitches Brew") ou Herbie Hancock ("Head Hunters").
Normalmente não costumo seguir com muita atenção as edições da SK (nu-soul, deep-house e derivados, não tão bom como a critica escrevia há uns 2 ou 3 anos, nem tão mau como a indiferença actual deixa perceber) mas este álbum, juntamente com o recente "K.T.B." de Robag Wruhme e mais algumas pistas deixadas em 2003 pelos discos de Umod e pelo muito razoável "Shades & Colors" de Deyampert, modificaram o estado das coisas.
Ainda por cima os discos são fáceis de encontrar por cá, a preço baixo via importação directa e distribuição da Symbiose.

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Pantha du Prince . Diamond Daze (Dial, 2004)



Da mesma encomenda (entendida no sentido literal do termo) em que chegou o disco de Sten, surge Pantha de Prince, isto é, Hendrik Weber a editar na Dial, label de Lawrence (aka Sten, isto anda tudo ligado), Carsten Jost, Alexander Polzin e Benjamin Wild.
Mais imediato (como em "mais rápido") do que "Leaving The Frantic", "Diamond Daze" utiliza a energia seca das drum machines e faz a ponte com a melancolia da idm, o negrume do dub (os ecos, os reverbs) e algo que, se a minha imaginação não me está a confundir, se aproxima de um certo espirito amargurado do pós-punk, como em Joy Division e assim. Um nome para isto: microhouse. Ou techno minimal, o ponto em que o house e o techno convergem, se interceptam e confundem. (há quem fale igualmente em Gothic Microhouse mas isso já é forçar um pouco a nota.)
Depois de anos de excessos, vive-se um regresso ao essencial e ao predomínio do detalhe sobre aquilo que é considerado acessório - imaginem a definição pormenorizada de uma fotografia a preto e branco por oposição à extravagância ofuscante de um tapete persa. Pequenos fragmentos de melodias sob a forma de pianos ou guitarras, incorporados num todo de forma intermitente, são encaixados sob um groove minimal e linhas de baixo insidiosas. A idm desce à terra e encontra Steve Reich, Robert Hood, Maurizio e Ryoji Ikeda. Sempre - mas sem uma única excepção ou concessões de qualquer espécie - com um hook capaz de prender o ouvinte num instante imediato.
O álbum termina com "Glycerine", único tema cantado de "Diamond Daze", com vocalizações a lembrar Matthew Dear (que, por sua vez, faz lembrar Ian Curtis) e um tom geral de abandono (then you said "fuck you"), desprezo (so i said "fuck you too") solidão e angústia. No final, resta a impressão que nada daqui é novo (no sentido de "original") mas que somos testemunhas de um grande número de músicos/produtores e de editoras que em conjunto estão a elaborar a nova (no sentido de "futura") música pop. Ou, como dizia uma critica lida algures a propósito de "Diamond Daze", cryptic pop unfold their mystery in a pumping crystaline mobile of sound.

sábado, janeiro 08, 2005

Sten . Leaving The Frantic (Dial, 2004)



Sten é Peter Kersten (co-fundador da DIAL e que também edita como Lawrence) e "Leaving The Frantic" é o seu primeiro álbum, após alguns EPs bem sucedidos, que faziam parte das playlists de gente como Sven Väth, Tobias Thomas e Andre Galuzzi.
A palavra frantic do título traduz o exacto instante em que a multidão na pista de dança demonstra, de forma efusiva, que está na presença da música certa no momento certo. Kersten explora de forma eficaz um conjunto de harmonias implementadas e extendidas sob diversos ângulos contíguos e alterações rítmicas quase invisiveis, numa música que paradoxalmente (ou nem tanto) está em constante mutação.
Esta intersecção entre momentos repetitivos - inspirados no house, no acid e no techno de detroit - que induzem à actividade física, com a paz entrópica de afectos gastos e emoções esgotadas, é a chave que permite interpretar as intenções de Kersten: abandonar o frenesim da pista de dança e construir a musica - metronoma, minimal, urbana - que povoa os sonhos tecnológicos do futuro. "Leavin the Franctic" será assim a banda sonora para um romantismo glacial, não se afastando das premissas essenciais que fazem uma música funcionar na dancefloor. Um pé na pista, outro como metáfora do esgotamento sentimental da vida moderna, uma espécie de pulsar das funções vitais sentidas num ambiente impessoal e asséptico.

All time classics, Peter Kersten:
Mayday . It Is What It Is (Transmat, 1988)
Adonis . No Way Back (Trax, 1986)
Villalobos . Dexter (Playhouse, 2003)
Lil Louis . WhyOd You Fall (CBS, 1990)
Armando . World Unknown (Warehouse, 1988)
Mood To Swing . All Night Long (Groove On, 1996)
Carsten Jost . PinkSilver (Sender, 2002)
Bodo Elsel . Fantasie Mädchen /Mayer Remix (Playhouse, 1999)
1East 17 Division . Textures (Big Sound Works, 1992)