sexta-feira, outubro 29, 2004

Recloose no Porto

"O produtor de Detroit Recloose, agora radicado na ilha de Kapiti na Nova Zelândia, aterra dia 31 de Outubro (Domingo) no Porto para uma actuação única na qualidade de DJ no Trintaeum (à foz)."

"No inicio da carreira Recloose actuou pelo mundo fora durante 3 anos, sozinho e integrado na tour da Innerzone Orchestra na qualidade de DJ e mais tarde também a acompanhando o Uri Caine Ensemble."

"Foi precisamente em Maio de 2002 que "Cardiology", foi publicado na América pela Planet E e pela editora de Berlin K7 na Europa. Um álbum inclassificável devido ao seu carácter singular e único na fusão de elementos estéticos bastante distintos mas assombrosamente bem manipulados formando o som que Recloose designa de "shape shifting". A lista de participações é extensa e conta com as colaborações vocais de Dwele, Justin Chapman, Malik Alston, Genevieve para além dos músicos Paul Randolph, John Arnold, Colin Stetson, Jeremy Ellis, Jerry the Cat e Rayce Biggs."

"Dois anos depois surgem agora notícias que Recloose está em vias de finalizar o seu novo álbum a ser publicado em 2005 pela referenciada editora Peacefrog, casa de Moodyman, Ian O'Brien entre outros."


Excertos de um mail da Groovement que, simpaticamente, recebi na minha caixa do correio.
Conto estar lá. Desconheço a faceta de Recloose como DJ mas "Cardiology" é com certeza um dos grandes álbuns que ouvi nos últimos 2, 3 anos e nunca está muito longe dos discos a que volto regularmente. Um exemplo de disco "aclamado", como o mail da Groovement referia, pelo menos, 3 vezes. : )

quarta-feira, outubro 27, 2004

Discos

Frank Martiniq . Late Night Toolz 3 (12" Boxer Sport, 2004), última parte das "Late Nights Toolz". Doze polegadas com um grau de interesse e uma cadência crescente; começa no technohouse minimal de "Use Fuse", passa pelo micro boggie de "Baffle" e termina num muito admirável "Dope Dot", shuffle beat straight to the dancefloors.
Losoul . Getting Even (Playhouse, 2004), num meio - a música de dança, em sentido lato - em que muitas vezes os álbuns são apenas uma soma dos maxis anteriores, são raros os exemplos de consistência e homogeneidade. Não muito longe daquilo que Villalobos ou Thomas Melchior produzem, Losoul (aka Peter Kremeier) elabora um disco de texturas densas, linhas de baixo minimais e atenção extrema ao mais ínfimo detalhe. Techno, microhouse, acid, disco, funk e, pelo meio, meia dúzia de temas assombrosos, donde se destaca "Soul Down".
The Clash . London Calling (Sony Music, reedição 2004), reedição de luxo comemorativa do 25º aniversário que, acima de tudo, tresanda a manobra da editora para sacar mais uns cobres aos fãs. O segundo disco - designado "Vanilla Tapes" e que inclui ensaios, versões nunca ouvidas e 5 inéditos - é dispensável e o DVD também (vale pela demonstração do feitio exuberante do produtor Guy Stevens). Salva-se o booklet (completíssimo) e, óbvio, "London Calling"; um disco magnifico e intemporal, que faz parte do lote daqueles que levaria para a ilha deserta e tal... e assim...
Mikkel Metal . Dorant / Kaluga (12" Kompakt, 2004), duas músicas para ir ouvindo enquanto não chega o primeiro álbum do dinamarquês, previsto para breve. Mais uma vez, a história do músico que vive, numa primeira fase, obcecado por rock sónico (e pelos Pavement e pelos My Bloody Valentine) e que começa posteriormente a desenvolver uma aproximação progressiva à música electrónica. Menos melodiosas do que as suas edições anteriores na Echocord, "Dorant" e "Kaluga" sugerem ambientes minimais sob uma batida 4/4.
Tigerskin . Back In The Days (Resopal, 2004), Tigerskin é Alex Krüeger e já foi Dub Taylor. Ainda não ouvi o álbum mas a confiar nos indícios revelados em "Dance Now", Tigerskin traz um distinto sabor retro, capaz de relembrar alguma da elegância inicial do house de Chicago. Tudo devidamente reformulado para os nossos dias, como se aconselha.
Solvent . Apples and Synthesizers (Ghostly, 2004), ao quarto disco, Jason Amm afasta-se definitivamente da IDM e faz um álbum de electro clássico e pop sintético, esculpido à base de vocoders e sintetizadores analógicos (a lista de instrumentos utilizados é longa), que não raras vezes lembra os Kraftwerk ou os Skinny Puppy. Parece sobretudo um estudo prático, simultaneamente dedicado e disciplinado, sobre as potencialidades da electrónica ao serviço da música pop, mais do que a execução sem sobressaltos de um som trendy. Provavelmente vai desiludir os antigos fãs mais ortodoxos mas, mesmo para quem nunca ouviu Solvent, é bem capaz de se tornar um caso de amor incondicional vs absoluto repúdio.
Ten And Tracer . Companion (U-Cover, 2004), Boards Of Canada vintage.
Seelenluft . You Come Along (12" Klein, 2004), remisturas de Joakim, M.A.N.D.Y. e dos omnipresentes Munk para um tema do suiço Beat Soler, já longe das aventuras de Silvercity Bob. Munk e Joakim não se afastam muito da matriz original, mas também, com aquele baixo, ninguém os pode censurar. (a propósito, "The Way We Go" é capaz de ser um dos melhores discos ignorados deste ano)
Mocky . Are+Be (Fine, 2004), Are+Be» é tudo aquilo que hoje em dia se quer: um álbum forte, cheio de trauteantes canções, balanço negro e funk, instrumentais atraentes, interlúdios riquíssimos, acústico versus electrónica, colaborações imprescindíveis (Feist, Lidell e Taylor Savvy), mensagens políticas (votem em Will Smith) e ecológicas incluídas. Musicalmente é um compêndio de estilos, de bom gosto exemplar, de mau gosto provocado, empurrando o hip hop a abandonar o berço ? soa à ingenuidade dos 80 e, ao mesmo tempo, à complexidade dos 90. «Are+Be» é acima de tudo um gigantesco puzzle cómico de rara inteligência que, pelo meio, sabe mostrar-nos óptimas canções", da mailing-list da Ananana. Evidentemente, o disco não é assim tão bom. Apesar disso justificam-se uma ou duas (ou três ou quatro) escutas atentas.

terça-feira, outubro 26, 2004

Legendary radio DJ John Peel dies


.

quinta-feira, outubro 21, 2004

Wighnomy Brothers



Os Wighnomy Brothers regressam a Portugal - depois de já cá terem estado em Julho no Sonic Fresh '04 - para 2 actuações.
A saber:
Wighnomy Brothers nonstop Portugal-Tour
22.10. Wighnomys + David Rodrigues @ Via Latina Coimbra
23.10. Wighnomys + Expander @ Op Art Lisboa

Segue um copy/paste sem precedentes, a contextualizar o trabalho da dupla.
Em castelhano (um luxo).

Gabor Schablitzki y Sören Bodner o lo que es lo mismo Robag Wruhme & Monkey Maffia forman otra pareja que se lo toma con humor en el serio panorama electrónico de los "gafa pasta". No se cierran a nada en su particular lectura del house electrónico en sesiones en directo que reparten géneros tan extremos como el techno, tech-house, electronica, nu-school-broken-beatz,o nu jazz que han mostrado por media Alemania, parte de los Balcanes y en la última edición del after de Benicàssim, Freezer, donde fueron invitados a pinchar una mañana de agosto por Gerardo Niva. Sus producciones se asoman en la discográfica Fraude-Am-Tanzen "Bodyrock" - pero cuando realmente les tocó la lotería fue cuando Michael Mayer incluyó un tema de este par de veinte añeros, "Killerteppich", en el Cd mix Fabric 13. Ellos acaban de editar por su parte "Spring Mix Session" en la que dan cancha a lo mejor del nuevo funk centroeuropeo (Roland Clark, Lucien n Luciano, 2 Dollar Egg).
em Clubbingspain.com


Este é igualmente um óptimo pretexto para voltar a ouvir "Wuzzelbud KK" de Robag Wruhme. Muito, muito bom disco.

Já chegaram!




Chegaram hoje pelo correio.
Se uma imagem vale mais do que mil palavras, os discos em questão valem bem mais do que mil imagens.

Legenda:
De La Soul . The Grind Date (Sanctuary Union, 2004)
Mos Def . The New Danger (Geffen, 2004)
The Beatnuts . Milk Me (Penalty/Rykodisc, 2004)
Talib Kweli . The Beautiful Struggle (Rawkus, 2004)

Pandatone . Lemons & Limes (Neo Ouija, 2004)



Melancholy pop groove.

"Lemons & Limes" é o primeiro disco do nova-iorquino Trevor Sias na editora britânica Neo Ouija e é um álbum composto por melodias frágeis que aconselham ambientes reservados, escutado de preferência à média luz. Sob estes pressupostos não é pior nem melhor do que aquilo que os seus companheiros de editora, Xela, Verbose, Geiom, Bauri ou Metamatics fizeram no passado. É um puzzle que já foi resolvido inúmeras vezes, como se, numa música deliberadamente livre de todas as imposições, não fosse possível encontrar novos desenvolvimentos. A fórmula foi testada e é reconhecida: instrumentos acústicos sobrepostos por interferências provocadas por algum vírus informático que apenas afecta o mundo virtual dos laptops com coração partido. Blips e blops sobre colagens acústicas resultam estranhamente em paisagens sonoras bucólicas e idílicas, contaminadas pelo gelo da electrónica.
"Lemons & Limes" tem menos de quarenta e cinco minutos de duração. Não é particularmente original nem imaginativo. Não é um disco capaz de mudar o universo da folktronica, nem evita alguns clichés do género. Tem flautas e harmónicas, guitarras acústicas e xilofones, tudo instrumentos fetiche de uma certa sofisticação cintilante vazia de conteúdo. Mas é um objecto simpático e é bonito que se farta. Mais um vez fica demonstrado que são, muitas vezes, os pequenos instantes - um disco, um fim de tarde de Outubro, o som reminescente do vento, o cheiro familiar da terra molhada – os únicos momentos capazes de prolongar uma condição de bem-estar puro e inocente que pensávamos só ser possível sentir durante a infância.

quinta-feira, outubro 14, 2004

An Interview With Tim Hecker




A propósito do seu novo álbum - "Mirages" - e não só, Hecker refuta as comparações com a música de Fennesz, disserta sobre a cena de Montreal, fala sobre álbuns conceptuais e revela o seu método de composição (não obrigatoriamente por esta ordem).
Na junkmedia.org.

quarta-feira, outubro 13, 2004

Michael Mayer . Touch (Kompakt, 2004)



É um dos discos mais aguardados do ano, com toda a carga de subjectividade que uma afirmação destas merece.
Fundador da Kompakt - label que na última década se tem afirmado como uma das mais importantes na redefinição da música electrónica em geral e do techno em particular - DJ de créditos firmados e produtor reputado, Mayer demonstrou nos 12" até agora editados, uma competência invulgar para incluir uma dimensão pop absolutamente desvairada e epidérmica na sonoridade techno-house característica da editora sediada em Köln. Mas, mais até que nos discos, é nas suas actuações como DJ que essa faceta delirante ganha maior predominância. Estou-me a lembrar, por exemplo, da sua penúltima actuação aqui no Porto, que terminou com o "Love Is In The Air" cantado em uníssono pela população presente.
Vendo bem as coisas ainda não sei exactamente o que esperar de "Touch". O disco só vai ser editado no inicio do próximo mês, o segredo tem sido bem guardado e as pesquisas no soulseek têm tido resultados pouco generosos.

Sessão de Mayer no Red Bull Music Academy em Londres, 2002

terça-feira, outubro 12, 2004

Panash . Unicorn (10" Atavisme, 2004)



Tracklisting:
A Unicorn
B Cheval


Panash é uma dupla gaulesa formada por Pepe Bradock e Jackson Fourgeaud.
Bradock é uma daquelas entidades que se moveram durante a década de 90 na sombra do celebrado french touch, com colaborações com instituições do género como Alex Gopher ou Cassius. De Jackson consta-se ter editado alguns 12" sob o seu apelido, coisa que nunca ouvi.
Editado na Primavera deste ano na Atavisme (editora de Bradock), "Unicorn" é um tema de groove implícito e cerebral, praticamente sem batida, mais ambiental e abstracto do que as produções habituais de Bradock, enquanto "Cheval" pega na obscuridade orquestral do lado anterior e acrescenta-lhe uma batida 4/4, transformando as premissas fundamentais do lado A numa matéria funcional e imediata em qualquer pista de dança.
A causa para recuperar este 10", quase seis meses depois de ter sido editado, deve-se à aura de estranheza e mistério pouco comum que transmite directamente para a dancefloor. E é esta junção entre abstracção e groove - capaz de aproximar as manipulações digitais da electrónica de encontro à intensidade corporal do house - que lhe garante uma esperança média de vida superior à das suas congéneres de estilo.

sexta-feira, outubro 08, 2004

Grooves Magazine

Issue # 15
Now Available!




»Solvent
»Knifehandchop
»DJ/Rupture
»Radian
»Mouse on Mars
»Biosphere
»Eastern European Electronica
»Julian Fane
»Geoff White
»Triosk
»Plus music, lives and gear reviews.


A Grooves é uma das melhores publicações actuais de música electrónica. Boas críticas, textos fluentes, entrevistas interessantes, design cuidado. E dá para subscrever, através do endereço Groovesmag.com.
A título informativo: para quem vive fora dos EUA, a assinatura de quatro números vale 25 dólares. Uma pechincha.

Stark Reality . Now (Stones Throw, Reedição 2003)



Hoagy Carmichael nasceu em 1899, numa pequena cidade do estado de Indiana. Estudou advocacia mas a sua verdadeira paixão era a música, nomeadamente o jazz. Entre as décadas de 30 e 50 compôs alguns dos mais brilhantes standards de jazz - como "Star Dust", "Heart and Soul" ou "Georgia (On My Mind)" - e tornou-se um dos mais importantes songwriters da época. Em 1958, Carmichael gravou "Hoagy Carmichael's Havin' a Party", um disco inocente, com canções para crianças, a banda sonora de um antepassado ingénuo de séries televisivas como a Rua Sésamo ou os Marretas. Uma carreira bem-sucedida como actor em Hollywood e o seu enorme talento para compor melodias inesquecíveis colidiram com os tempos agitados que se viviam na década de 60. Na década da Guerra do Vietnam e de todas as revoluções culturais, a sua música passou de moda e passou a ser considerada anacrónica, uma relíquia distante do passado.

No final da década de 60, Hoagy Bix Carmichael (filho de Hoagy Carmichael) era produtor da WGBH - uma estação de televisão situada na cidade de Boston. Aí conheceu o vibrafonista Monty Stark, autor de bandas sonoras para alguns programas da estação televisiva, estação essa que na época vivia tempos de enorme criatividade. Uma década depois da edição do disco original surge a ideia de um novo programa para crianças e Bix Carmichael convida Stark para actualizar as músicas que o seu pai havia composto 10 anos antes. Juntamente com os Stark Reality - Phil Morrison no baixo, Vinnie Johnson na bateria e o guitarrista John Abercrombie - Stark entra em estúdio para gravar algumas sessões. Na era do free jazz, do funk e do rock psicadélico, é natural que o resultado das gravações venha contagiado pela marca indelével de todos esses estilos. O facto irónico nisto tudo é que foi a mesma cultura subversiva que 10 anos antes havia marginalizado compositores clássicos como Carmichael, a servir de template para actualizar a obra e resgatar o seu autor do esquecimento progressivamente adquirido.

Conta Vinnie Johnson, numa entrevista recente a propósito desta reedição "We played several times at a club in Cambridge and we were only a quartet; all night long there were more people in the band than in the audience. Literally, nobody came to see us. The record was played occasionally on the local stations. These were arrangements that were totally diferent from anything that was around at that time for children' songs." De facto, em retrospectiva 30 anos depois, torna-se bizarro ouvir a declamação do abecedário ou letras sobre quantos dias tem cada mês sob um fundo musical pervertido por funky beats, fuzz guitars, jazzy loops, vibrafones distorcidos e longos jams narcotizados (os músicos afirmam que durante as sessões apenas beberam água e não consumiram qualquer tipo de drogas mas, escutados os resultados finais, custa um pouco a acreditar nessa versão da história).
Um ano após a gravação de "Now" (numa primeira edição baptizado como "The Stark Reality discovers Hoagy Carmichael's Music Shop"), os Stark Reality terminam a sua carreira, sem honra nem glória.

Com o advento do hip hop e o gradual esgotamento das suas fontes mais visíveis de sampling (ok... o repertório de artistas como Isaac Hayes ou James Brown é muito valioso mas não é infinito) os produtores mais inventivos tiveram que vasculhar os fundos de catálogo. Adicionalmente, na tentativa de evitar as regras mais restritivas do copyright impostas no início da década de 90, os produtores tiveram que redescobrir uma época inteira de música esquecida, escavar prateleiras de discos perdidos até conseguirem chegar a grandes breaks escondidos em discos que os executivos (e os respectivos advogados) das majors não conheciam ou de cujos direitos de autor não eram proprietários. Large Professor samplou o primeiro grande break retirado dos Stark Reality, no seu single de 1996, "The Mad Scientist". Rapidamente a música dos Stark Reality converteu-se em açúcar para os ouvidos dos produtores e dos coleccionadores de discos. Main Force, Pete Rock, J Live, Madlib e Cut Chemist são nomes de alguns produtores que samplaram os beats e os interlúdios dos Stark Reality e os reutilizaram nas suas composições. Já este ano, Kenny Dope utilizou um dos seus temas - "All You Need To Make Music" - na compilação "Life:Styles 3". De forma rápida "Hoagy Carmichael's Music Shop" atingiu um estatuto invejável de raridade muito pretendida, com o preço de um exemplar original a atingir os 500 dólares enquanto surgiam rumores de um negócio de troca a envolver um vinil original e um MPC no valor de 1000 dólares. É nesta altura que Eothen "Egon" Alapatt - um digger e coleccionador de breaks de Nashville que colabora com a editora Stones Throw - adquire um exemplar original do álbum com a promessa firme de não o editar. Egon quebrou o compromisso quando Peanut Butter Wolf - fundador da Stones Throw - ouviu, por acaso, o disco no escritório, invocou a sua posição de empregador e não descansou enquanto a reedição não passasse a ser uma realidade concreta.

Depois de obter os respectivos direitos legais à AJP Records (editora de Ahmad Jamal que editou originalmente ""Hoagy Carmichael's Music Shop"), a Stones Throw editou o tema "Rocket Ship" na compilação Jukebox 45's. Em 2003 reeditou finalmente o disco, dando-lhe o nome de "Now". Classificado como o Holy Grail do jazz-funk psicadélico e considerado como o ponto de encontro entre o funk clássico celebrizado por artistas como James Brown ou James McDuff e o funk pedrado, com longos jams inspirados no hard e no psych rock, "Now" foi editado com uma nova sequência, mantendo o material mais importante mas subtraindo alguns interlúdios dispensáveis, ao mesmo tempo que acrescentava três músicas nunca editadas e o histórico tema "Say Brother". Para tornar as coisas ainda mais confusas, a versão do cd é diferente do vinil, sendo aconselhável a aquisição das duas variantes, de forma a completar a colecção. Apesar dos detractores destacarem como atributo mais importante a raridade do objecto e não propriamente a qualidade intrínseca da música, este disco mantém as suas características fundamentais intactas: arranjos pouco convencionais, secção rítmica imparável, breaks impressionantes, experimentação sónica, momentos simultaneamente catchy e tripantes; como uma mistura entre os Led Zeppelin, os The Meters e os Electric Prunes, submetida às improvisações polifónicas da orquestra de Sun Ra. Mas o melhor será mesmo ouvir temas como "Thirty Days Hath September", "Camrades", "Dreams", "Shooting Stars" ou "All You Need To Make Music" e reconhecer uma banda em absoluto estado de graça. Independentemente da questão antropológica e da inevitável importância documental, a música - imensa - vale por si.

Referências:
http://www.stonesthrow.com/starkreality/
Reality Check

quinta-feira, outubro 07, 2004

Ricardo Villalobos - novo álbum

"Thé au Harem D'Archiméde"

tracklisting:3x12"

A1. hireklon
B1. serpentin
B2. forallseasons
C1. théorème d'archimède
C2. hello halo
D1. temenarc 1
D2. temenarc 2
E1. miami
E2. stereobox
F1. true to myself

tracklisting: CD
1. hireklon
2. serpentin
3. forallseasons
4. théorème d'archimède
5. hello halo
6. temenarc 2
7. temenarc 1
8. miami
9. true to myself

release date 11.10.04


A versão virtual do disco ainda é rara e as filas de espera são enormes mas tive a sorte de o apanhar disponível num dos meus contactos habituais.
Ouvida uma parte - até um erro nos mp3's me ter impossibilitado a escuta integral da última música - sou gajo para afirmar, com toda a convicção possível, que o chileno continua com uma capacidade única para transformar tudo em que toca numa imensa e infecciosa máquina de groove. Obviamente, um dos discos do ano, ou algo no género.
Agora resta-me guardar os mp3's e esperar pela 'edição oficial'.
Mais informação aqui.

quarta-feira, outubro 06, 2004

Last night a DJ saved my life

E hoje estou a cair de sono.
Horror Inc «In My Garden»
Switch «Getondownz (Henrik Schwartz Remix)»
Kiki «So Easy To Forget»
Matthew Dear «Anger Management»
Rex The Dog «Frequency»
Tekel «Vladivoskov»
James T. Cotton «The Dancing Box»
Stefan Schrom «I Feel For U»
Vince Watson «Dark Soul»
Mike Shannon «Sublet»
DJ Koze «Brutalga Square»
Duplex 100 «Bipolar»
Markus Müller «Spritzer»
Ricardo Villalobos «Serpentin»

sábado, outubro 02, 2004

Mathew Jonson

Se tentássemos efectuar a tradução do copy/paste transcrito no penúltimo post deste belogue a partir da superlativa ferramenta de idiomas do Google teriamos qualquer coisa como:

Vancôver b.c.?s possui o jonson do mathew construiu um excesso contínuo da reputação o passado poucos anos com sua participação no quartet esquerdo profundo moderno, jazz do cobblestone e por várias produções sob seu próprio nome seus forays no jazz, na casa, na fusão, no techno e no outro music(s) baseado eletrônico reference uma juventude enchida com a creatividade e o ingenue musicais

Fim de citação.

No entanto, apesar de incompreensível, a ideia a reter é que Jonson - e as suas performances, quer em nome próprio, quer através dos Cobblestone Jazz ou dos Modern Deep Left Quartet - mantém uma elevada reputação crítica, capaz de suscitar diversos elogios e de ter as suas produções em playlists de gente tão insuspeita como Carl Craig, Richie Hawtin, Laurent Garnier, Ricardo Villalobos ou Larry Heard.
Foi certamente através de uma destas playlists que cheguei ao nome de Matthew Jonson (ou disso ou do 'All People Is My Friends' compilado por DJ Koze e que no inicio do inverno passado revelou ao mundo menos atento o espantoso 'Typerope').
Daí até estes quatro 12" - editados entre Julho e Setembro deste ano, com intervalos regulares de uma semana, excepto o último - foi um pequeno passo.
Reflexão lateral para acrescentar que, enquanto no pop/rock é natural que numa primeira fase apareça o álbum (ocasionalmente antecedido por um single ou dois) e só depois os diversos singles, na electrónica é bem mais habitual que suceda o contrário. Daí que não seja de surpreender que mais dia menos dia, acabe por surgir um álbum que reuna todos estes 12".
Adiante ...

Behind The Mirror (2004, Sub Static)



Tracklisting:
A Behind The Mirror
B Folding Space


Envolvente e complexa, a produção límpida de Jonson destaca-se e torna 'Behind Mirror' numa música inesquecível, não muito distante dos primeiros LFO e das produções de Drexciya, contaminados por influências italo disco. No lado B perde o italo, ganha o disco. 'Foldin Space' revela uma combinação imbatível entre ritmo milimetricamente estruturado, melodia sci-fi e um baixo que parece tirado do 'She's Lost Control', tema histórico desses mesmos. Ouvido o primeiro 12" começa-se a entender a razão de tanto hype.

Decompression (2004, Minus)



Tracklisting:
A Decompression
B Ultraviolet Dream


'Decompression' é uma dancefloor track que não chega a ser killer por ser demasiado lenta. É um tema que - com percussão sintetizada, uma linha de baixo 'gorda' e teclados ondulantes - não tem segredos, o que tens nos primeiros 30 segundos é o que vais ouvir sem grandes alterações no tempo restante. Mais imponente, 'Ultraviolet Dream' ocupa o lado B e atira o ouvinte para o canto do ringue com uma batida techno, uma linha de baixo disco, num circulo de crescimento ... hmmm ... galopante, a deixar espaço para os teclados respirarem por baixo das bpm's. A coisa diminui de intensidade nos últimos instantes, tornando-se orquestral como poucas vezes se ouve na pista de dança. No final digamos que - apesar de ser editado pela Minus , desta ser a label de Richie Hawtin e deste raramente se enganar - não se detectam por aqui grandes motivos para o hype referido anteriormente. Next stop.

Love Letter To The Enemy (2004, Itiswhatitis Recordings)



Tracklisting:
A Love Letter To The Enemy
B Octagon


E a paragem seguinte é 'Love Letter to The Enemy', muito provavelmente o melhor 12" de Jonson, com uma produção irrepreensível e um sentido perfeito das novas roupagens digitais que o funk do século XXI deve assumir. O lado A começa com uma introdução de cerca de 3 minutos que nos prepara para o que aí vem, tipo foguetão que apenas auxilia a nave espacial na altura da descolagem. Depois da tranquilidade, os últimos minutos revelam-se inebriantes, com uma ligeira mudança de ritmo final a acrescentar uma camada extra de classe. Se o lado A tem funk, 'Octagon' tem swing, sendo a banda sonora ideal para documentários sobre festas de ping-pong em salões onde a lei de gravidade não foi convidada. Ao contrário dos compatriotas Akufen e Matthew Dear, a música de Jonson ganha relevância na proporção directa com que diminuem os seus instintos de folia. É aqui que, pela primeira vez, o nome de Metro Area assalta o espírito do ouvinte.

Moss Rocks (2004, Arbutus)



Tracklisting:
A Mathew Jonson . 911, How Can I Help You?
B Mole, The . The Touch


Mais funk - branco, electrónico, contagioso, daquele que se intromete na cabeça do ouvinte de forma hipnótica e não quer sair de lá tão cedo. 'Moss Rocks' é um split entre Jonson e The Mole (nunca ouvi falar, as informações são escassas, se alguém souber quem é The Mole pode comunicar por email. Agradecido).
No lado A, '911, How Can I Help You?' é sustentado por um ritmo midtempo, com sintetizadores vintage, percussão digital e uma marca distinta de electrónica sofisticada e de know-how sobre como gerir o espaço, o ritmo e as expectativas do receptor. Pela segunda vez o nome de Metro Area sugere algo mais do que um deja-vu. No lado B, 'The Touch' declara-se insidiosa e viciante, uma música feita de um ritmo construído de forma crescente - tem algo de 'Prix Choc', por exemplo, com ecos mas sem filtros. The Mole surge do nada com uma música segura, demonstrando o caracter de que são feitos os clássicos e é outro nome a seguir com atenção nos tempos mais próximos.