louderbach . enemy love [3xlp underl_ne, 2006]

louderbach - aka troy pierre - forma, juntamente com magda e marc houle, os run_stop_restore, também grava em nome próprio e ocasionalmente sob o alias slacknoise. disponível numa incrível edição em triplo vinil, "enemy love" é a sua estreia em álbum com o selo da underl_ne.
mais do que perder tempo a analisar o disco faixa a faixa, importa interpretar o álbum na sua globalidade: ainda e sempre o minimal techno 4x4 como mote, desta vez trabalhado sobre uma textura sonora organizada em camadas de som de um groove quase imperceptível.
é provável que quem fala em sleeparchive, plastikman ou matthew dear esteja a falhar o ponto essencial de "enemy love". o facto é que, tal como nos exemplos citados, raramente temos acesso a um disco com tamanha consciência sobre como jogar com as expectativas do ouvinte, expressa na forma pausada como o seu autor preenche todos os espaços em branco, num exercício de acumulação de tensão psicológica que, quase sempre, não se traduz em epílogos e manifestações de euforia fisíca.
passada a estranheza inicial, "enemy love" revela-se assim um dos discos mais aliciantes deste início de 2006.

stereo - abril 2006

01. louderbach . enemy love [cd underl_ne, 2006]
02. lindstrøm . another side of lindstrøm [2x12" outergaze, 2006]
03. v/a . james holden at the controls [2xcd resist, 2006]
04. v/a . pinkboy presents tpc [cd bloop, 2006]
05. mathias kaden . pentaton [12" vakant, 2006]
06. v/a . quantic presents the world's rarest funk 45s [cd jazzman, 2006]
07. v/a . big apple rappin': the early days of hip-hop culture in new york city 1979-1982 [cd soul jazz, 2006]
08. thomas schumacher . red purple [12" schallplatten, 2006]
09. henrik schwarz / âme / dixon [12" sonar kollektiv, 2006]
10. metro area . metro area [cd environ, 2002]

v/a . the world's rarest funk 45s [cd jazzman, 2006]

a mailing list da flur resume o essencial sobre a mais recente compilação da jazzman:
"em matéria de funk, a jazzman suplanta a soul jazz. "é difícil fazer boa música sem ter boas influências, e na jazzman preocupamo-nos com a porcaria que os putos hoje ouvem - não prenuncia nada de bom para o futuro da música neste mundo." hm. a verdade é que, na linha das excelentes «texas funk» e «midwest funk», «the world's rarest funk 45s» identifica cuidadosamente música que, na grande maioria dos casos, passou ao lado do mainstream e raramente pôde ser ouvida fora de um círculo restrito. como parece natural, todas as 16 selecções neste disco foram gravadas nos EUA (norte, sul, leste e oeste) por grupos que, como os soul lifters, têm apenas um disco no seu CV. will holland (quantic) colecciona funk há alguns anos com a firme convicção de que música nova não significa edições novas mas "simplesmente música que ainda não se ouviu, independentemente da sua época". o funk genuíno e em puro regime de gozo que se escuta neste disco é acompanhado por textos detalhados sobre cada uma das faixas, não só com o enquadramento histórico/biográfico de cada uma mas também com pormenores técnicos sobre gravação, tudo ajudando a perceber porque é que estes discos são raros. apesar do nome quantic aparecer com destaque na capa, o livrinho diz que a pesquisa e compilação estiveram a cargo de gerald short e também malcolm catto, baterista (entre muitos outros, tocou com shadow) e figura central na operação mo'wax. aliás, a mesma dupla que repartiu iguais tarefas nas referidas «midwest funk» e «texas funk». impossível falhar."

no final da operação de copy/paste fica um link para "ooh ah ee" dos vernon blair debate (sic); uma das linhas de baixo mais groovy da história do funk, produzida por um grupo proveniente de uma pequena cidade perdida do texas rural e que apenas gravou dois singles (o lado a de "ooh ah ee" está no citado "texas funk") antes de desaparecer na letargia do tempo.

the dfa remixes: chapter one

it is here, rather than on artist projects such as lcd soundsystem, that you can hear most clearly james murphy and tim goldsworthy's understanding of disco as a space of infinite possibility, the 4/4 beat providing a continuum around which all manner of grandiose visions can be assembled and demolished.

herbert . we're in love [from "scale" cd k7, 2006]

a carreira de mathew herbert suscita-me uma espécie de mixed feelings, algures entre a devoção absoluta e o mais profundo desinteresse.
se, por um lado, "around the house" e "bodily functions" continuam a ser candidatos a futuros clássicos, por outro lado as suas últimas edições passaram-me ao lado. se "goodbye swingtime" ainda tinha os seus momentos - "everything's changed" com a voz de jamie lidell era/é uma grande canção - já não cheguei a ouvir o demasiado abstracto e nada pop "plat du jour". se o seu caracter político e panfletário é ideologicamente intocável, a sua posição tão veementemente anti-sampler soa a demagogia.
"we're in love" é uma antecipação ao seu novo álbum, a ser editado em maio, e é um teaser impressionante. num registo intemporal e clássico, a voz de dani siciliano e a inspiração das big bands resumem em 4 minutos a tranquilidade efémera de dois amantes no regresso a casa antes de amanhecer, com as notas de piano a flutuarem vindas de longe.

another side of lindstrøm

texto sobre o novo disco de hans-peter lindstrøm no cada vez mais obrigatório hit da breakz.

magda . stop [12" m_nus, 2005]

the first solo ep from magda (real name magdalena chojnacka) on richie hawtin's label 'minus' (Canada). 'stop' follows up her minus debut contribution to 2005's 'minimize to maximize' compilation. magda's very first release was as one of the third of 'run stop restore' (troy pierce, marc houle) with 'geometry' in 2004. 'stop' is tight and elastic at the same time, stacked intricate sounds slowly build in a mental manner as she turns notes into noise and reveals beats from padded basslines. '48 hour crack in your bass', 'lockjaw' & 'panna cotta eyes' swings itself thrust-like gradually on operating temperature and even when the customer means the highest point is reached, follows the next step. the floor killer on this ep is 'oblivicleas', a harmonic electro-pop inspired production.

em http://www.nightgen.com/

a música de magda é mais abrasiva e menos cerebral do que a do seu associado richie hawtin [para quem abriu a tour "de9:closer to the edit"], simultâneamente subtil e sem concessões a fórmulas fáceis.
o techno minimal nunca foi tão hipnótico como aqui; uma espécie de sedução sem esforço, em que o prazer está no desvio, na curva inesperada perante um grão de areia, e não na simples funcionalidade dançável.
depois de hesitar entre "48 hour crack in your bass", "lockjaw", "oblivicleas" e "lockjaw" de novo, acabei por voltar a "panna cotta eyes", provavelmente o momento maior de uma óptima estreia, como pode ser confirmado neste excerto com cerca de dois minutos e meio.