sábado, junho 11, 2005

Four Tet . Everything Ecstatic (CD Domino, 2005)



O que têm em comum nomes como os de 50 Cent, Lightning Bolt, Zongamin, Jaylib e Akufen? À primeira vista muito pouco ou mesmo nada. Mas se assumirmos que estes são alguns dos nomes que Kieran Hebden ouviu durante a gravação de "Everything Ecstatic" ficamos perto de resolver o puzzle que este propõe aos seus ouvintes.
"Everything Ecstatic" é uma intrigante combinação de electrónica, jazz, hip hop instrumental e melodias insinuadas por instrumentos tradicionais. Até aqui nada de novo. Mas Kieran Hebden reutiliza elementos já conhecidos e desenvolve uma linguagem ambiciosa, deliberadamente livre de todas as amarras de estilo, como se quarenta anos após o free jazz fosse possível criar algo parecido com free electronica.
"Everything Ecstatic" é um disco curto porém complexo e dificil de assimilar. Não sendo perfeito é uma demonstração que a electrónica mais abstracta (e menos dirigida para a pista de dança) ainda tem espaço para se expandir, longe dos clichés da IDM ouvidos na enésima repetição do "Tri Repetae", dos ritmos fragmentados dos Boards of Canada ou do beco sem saída onde entraram sub-géneros, até há pouco tempo válidos, como a folktronica.
Ultrapassada a desconfiança inicial, "Everything Ecstatic" revela todo um mundo novo e define-se como um disco essencial para perceber as últimas movimentações da música electrónica, contaminada por influências exteriores à sua tradicional rede de cumplicidades.

sexta-feira, junho 03, 2005

Juan Atkins . The Berlin Sessions (CD Tresor, 2005)



Juan Atkins é um dos membros da santíssima trindade do techno de Detroit - juntamente com Derrick May e Kevin Saunderson - à custa de um conjunto sublime de edições, que se iniciaram em princípios da década de 80 com a faixa "Clear"; uma espécie de proto-techno pioneiro (pressinto uma redundância qualquer aqui) que fundia o então emergente electro, com a pop sintética austera dos Kraftwerk e um certo tipo de funk digital característico de grupos como os Parliament.
O resto é história e lenda.
Atkins regressa, após sete anos de silêncio, na Tresor, editora de Berlim - cidade congénere europeia de Detroit em assuntos relacionados com o techno - para cinco faixas e uma remistura de Pacou, com duração nunca inferior aos sete e não superior aos quinze minutos.
"The Berlin Sessions" demonstra competência e autoridade, evitando os lugares comuns da nova geração e demonstrando que é possível ser eficaz na pista e, simultaneamente, evitar o espalhafato musculoso das batidas por minuto em regime energético.
A forma com as faixas são estendidas em espiral, constantemente adicionando factores novos como uma espécie de experiência nostálgica que celebra a interacção entre o homem e a máquina, pode ser considerada como uma visão lúcida da modernidade.
Sempre com uma notável perspectiva sobre o passado ("Session 2") e os dois pés assentes no futuro ("Session 4").