sexta-feira, fevereiro 09, 2007

junior boys . so this is goodbye [cd domino, 2006]

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Last Exit
, disco de estreia dos canadianos Junior Boys, era uma mistura improvável entre a pop glacial e a delicadeza sintética, o tipo de música que era capaz de agradar aos amantes de canções, passar pelos fãs da electrónica mais cerebral e chegar aos nostálgicos dos anos oitenta. Dois anos depois, o duo constituído por Jeremy Greenspan e Mathew Didemus (Johnny Dark abandonou a banda entretanto) regressou com um segundo disco, So This Is Goodbye, mais centrado nas melodias e nas estruturas do que nos ritmos e nas suas texturas. Mais frio e melancólico do que o disco de estreia, So This is Goodbye continua a ser, ao primeiro contacto, a visão moderna da música pop sintética dos anos oitenta, revista pelos filtros digitais do r&b (Timbaland funciona como a principal referência), no ambiente pós-indústrial e descaracterizado de uma grande cidade. Last Exit ainda poderia ser considerado, com alguma boa vontade, um disco vagamente luminoso e dançável, um prelúdio para o tecno emocional de discos como o recente The Last Resort de Trentemoller, ou primo distante da música de tipos como Superpitcher ou Matias Aguayo. Jeremy Greenspan, em entrevista à revista espanhola Go, discorda: “Last Exit sim, era um disco frio, porque foi gravado inteiramente em computador, com o recurso a patches e módulos de som pré-existentes. Pelo contrário, em So This is Goodbye há mais instrumentos reais e isso introduz um toque humano que antes não existia. Uma das coisas que não me convencem no primeiro álbum é a excessiva carga barroca de alguns temas, todos aqueles detalhes que não levavam a parte nenhuma”. Desarmante. No entanto, a remoção de certos detalhes rítmicos explica a simplicidade sofrida que se pressente em So This is Goodbye, algo que as alusões ao amor, e sobretudo à falta dele, contidas nas letras confirmam. Ouvido o disco, resta a dúvida: será este álbum o testemunho conformado de uma relação amorosa falhada, reflectida nas águas dos Grandes Lagos? Um enorme embuste, resultado da confrontação bipolar entre as máquinas e o universo pessoal dos seus autores? No final de contas, só as canções importam. E essas nunca foram tão boas como aqui.

(texto publicado originalmente no # 6 do jornal UM, no balanço das melhores cenas que acontecerem em 2006)