terça-feira, janeiro 09, 2007

robert henke . layering buddha [cd imbalance, 2006]

Photobucket - Video and Image Hosting

Está uma bonita noite para ficar em casa.
Maquineta simples concebida pela dupla chinesa FM3, a Buddha Machine contém nove breves loops pré-gravados, que devem ser tocados de forma aleatória e que não podem ser alterados pelo utilizador. Símbolo de uma certa sofisticação estética, onde mais do que o conteúdo interessa a forma, transformou-se rapidamente num objecto de culto, capaz de substituir meia dúzia de discos de electrónica ambiental ou, numa perspectiva mais prosaica, os espanta-espíritos. Robert Henke, também conhecido como Monolake de cada vez que dá livre curso ao seu instinto rítmico, contribui para o perpetuar desta história. Henke explorou as potencialidades da máquina – um simples transístor de produção barata, com um som low-fi equivalente ao dos primeiros jogos de computador - manteve o groove em suspenso, sobrepôs sons e desenvolveu dez faixas, divididas em camadas e baseadas em cada um dos loops da Buddha. O trabalho final é a materialização sentimental de uma caixa que não mudou o mundo mas ajudou a alterar a percepção que temos dele. “Layering Buddha” é um disco fantasmagórico e denso, um longo drone glacial diversas vezes perturbador – a faixa nove é das melhores coisas que podemos ouvir este ano – e uma moldura minimalista de electrónica ambiental que funciona melhor à medida que avançam as longas e solitárias horas da madrugada. No final reparamos que a Buddha Machine era apenas um pretexto. No seu interior está o objectivo primordial, um prenúncio para a descaracterização e morte lenta do artista, enclausurado dentro de uma caixa de música eterna.

(texto publicado originalmente no # 5 do jornal UM)