quinta-feira, dezembro 28, 2006

andy stott . merciless [cd modern love, 2006]

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A edição em 2005 de um conjunto de 12” na Modern Love, label de Claro Intelecto, revelava pela primeira vez o nome de Andy Stott. Enquanto toda a gente estava desprevenida, a olhar noutras direcções, surgia em Manchester um novo paradigma para a música electrónica actual. Em comum com Intelecto, Stott demonstrava um talento pouco usual para incorporar o tecno de Detroit, o house de Chicago e a electrónica mais abstracta num resultado final coeso, com padrões rítmicos organizados sob camadas de som de diversas origens, incluindo influências exteriores à tradicional rede de cumplicidades da música electrónica, como o então emergente dubstep.
Álbum que deve ser ouvido num sistema de som de um club – ainda e sempre, a profundidade sonora intangível num contexto caseiro – dançável sem ser exuberante, “Merciless” é o disco certo editado na altura exacta. Cerebral, polido de impurezas, sofisticado quando evita as armadilhas do ritmo 4/4 (quase sempre) tem, numa perspectiva pessimista, dois momentos maiores: o groove subaquático e orquestral de “Choke”, já editado em 12”, faixa que poderia fazer parte do disco de estreia de Burial, e “Blocked”, uma espécie de Rhythm & Sound sem vozes que acrescenta uma dimensão atmosférica e narrativa a um álbum curto, directo e sem elos fracos.
Estivesse a segunda metade do disco ao nível das primeiras cinco faixas e “Merciless” seria uma obra-prima. Ainda assim trata-se de um dos discos imperdíveis do ano, simbólico de uma das editoras mais interessantes do momento. Tudo certo, irrepreensível, imaginado sem excessos.

(texto publicado originalmente no # 2 do jornal UM)