terça-feira, junho 29, 2004

Wagon Christ . Sorry, I Make You Lush



Wagon Christ é o alter-ego lúdico de Luke Vibert e 'Sorry, I Make You Lush' é uma curiosa e invulgar colecção de melodias excêntricas, floreados exóticos, sintetizadores disparatados, funk fragmentado, loops vocais e entoações deliciosas. Uma mistura de Jean-Jacques Perrey, library music, jazz futurista e hip hop instrumental. A banda sonora para um cartoon cibernético que narra as aventuras de uma raça de polvos mecânicos, de bisnagas em punho até conquistar a humanidade. Mas, como em quase todos os discos de Vibert, falta aqui o equivalente a meio dedo mindinho para atingir a genialidade.

!!! . Louden Up Now



A arte é uma arma? A música deve estar ao serviço do idealismo? A mensagem de 'Louden Up Now' é algo tosca, primitiva ou, no seu pior, propagandistica. Para se ser 'subversivo' não é necessário ser panfletário, basta dominar os objectivos propostos. A música oscila entre o original, o agradável, o balofo e o hipnótico, algures entre o rock e a música de dança. O que os !!! (lê-se 'Chik Chik Chik') fazem pode ser descrito como 'punk-funk dos anos oitenta, revisto pelos mais modernos meios de produção'. Ou um loop contínuo e exuberante de revivalismo new wave dance punk, a que parecem faltar os momentos memoráveis, capazes de distinguir o irrepetível de uma banal declaração estética. Boas canções, um groove trepidante e uma produção exemplar, prejudicadas por uma estrutura demasiado simplista.

Pete Rock . Soul Survivor II



Pete Rock é um dos produtores mais emblemáticos do cena hip hop de New York. Depois de uma carreira como DJ na mítica estação de rádio WBLS, trabalhou com nomes como A Tribe Called Quest, RUN DMC, Public Enemy ou Redman. 'Soul Survivor II' marca a continuação do seu primeiro LP, editado há seis anos, e é um disco anacrónico - deliciosamente anacrónico - amarrado aos eternos samples de soul, breaks de funk, baixos filtrados e layers de pianos e instrumentos de sopro. Mas o destaque principal são os MC's: com a colaboração de, entre outros, RZA e GZA (dos Wu-Tang), C.L. Smooth, Talib Kweli, Slum Village ou Pharoahe Monch, 'Soul Survivor II' é um disco que confirma as credenciais do seu produtor e demonstra que Pete Rock domina todos os segredos sobre a arte de construir a batida perfeita.

Buck 65 . Talkin' Honkey Blues



Se imaginarmos uma mistura de hip hop com country alternativo lo fi, teremos possivelmente algo entre o hip hop lo fi ou o country hip hop. Se o colectivo Anticon - com excepção notável de Sole - pega nos últimos 40 anos de música popular, numa misturadora e elabora uma papa demasiado inconsistente, Buck 65 (nome 'civil', Richard Terfry) reduz os ingredientes ao mínimo indispensável, nas doses absolutamente necessárias. 'Talkin' Honkey Blues' é um excelente disco com apenas um ponto fraco: a voz rouca do Buck que não se chama Buck, mais parece a de um velho combatente de boxe atacado pela doença de Parkinson. Ou um Tom Waits ligeiramente menos ébrio. Ainda assim, é uma questão de minutos até provocar habituação.

Craig Taborn . Junk Magic



Craig Taborn (piano, samples e teclados diversos) tem uma invejável carreira como sideman de músicos como Dave Douglas, Carl Craig, Tim Berne, Susie Ibarra ou James Carter. Em 'Junk Magic' grava, juntamente com Aaron Stewart (saxofone), David King (bateria) e Mat Maneri (violino), um disco que celebra o melhor de dois mundos: a improvisação e o espírito livre do jazz, combinado com elementos electrónicos, beats sintéticos e drones experimentais. O último volume de Blue Series da Thirsty Ear é um disco notável, a que apenas se pedia um pouco mais de free - jazz ou nem por isso.