sexta-feira, maio 14, 2004

The Streets . A Grand Doesn't Come For Free



every now and again, the figure of the mythical 'urban poet' is jogged from a cosy slumber in the middle-class music journalist's subconscious. mike skinner's debut sparked such an awakening by adapting contemporary uk dance music techniques and giving them an original narrative thrust. this second effort is all word and no play, suffering from some complacent production/composition throughout. the beats are flat, the choruses are flat, the melodies are flat, nothing really pleases the ear here.
in the midst of such a deficient set of compositions, the narrative really comes to the fore, delivered in skinner's trademark domestic tone. in diction and lyric he's as original as we've come to expect, and you've got to applaud the blunt artistic vision of the man - his faith in narrative reaching literary proportions here. the story's a familiar one of ennui, mid-nineties slackerdom, unreturned dvd's, broken tv's and a relationship. with a girl. by familiar i mean boring, not a revelatory transformation of the quotidian. the latter's far too poncey for mr. skinner.
i won't be coming back to this much. but props to the man's uncompromising stance. next.
em absorb.org


É uma opinião que subscrevo. Com reservas.
A música dos The Streets está naquela fronteira entre algo que não sendo banal também não chega a ser propriamente excêntrico. O talento de Skinner leva-o a conquistar a admiração simultânea do grande público e a confiança exigente, mas plena de convicção dos mais críticos. Algo apenas possível quando há uma forte afinidade entre o destino individual do autor e o destino colectivo do público que o ouve. Um sentimento inexplicável, seguindo um raciocínio lógico, mas que se pode traduzir numa palavra: empatia. A compreensão das classes desprotegidas, dos que trabalham no limite da exaustão, dos sobrecarregados, dos arruinados, dos cansados, dos que já desistiram, dos que nunca desistem. Dos que emborcam alcool num café manhoso, na companhia dos amigos inseparáveis e sonham com farra e férias. Ou dos que atingem a felicidade na solidão caseira, acompanhados por uma televisão, um dvd e um pack de cervejas, na mesma noite em que a namorada lhes deu com os pés, após a enésima reconciliação falhada.
'A Grand Doesn't Come For Free' não é um disco inovador, nem a produção é particularmente notável - como é, por exemplo, o grime/garage u.k. electrizante de 'Boy In Da Corner' de Dizzee Rascal. Episodicamente chega a ser monótono. Pode-se sempre argumentar que Skinner é apenas um razoável poeta (ou um narrador do quotidiano) com um monocórdico sotaque geezer e uma tendência para a auto-vitimização falsamente profunda. Que a melancolia egocêntrica de um puto suburbano pode ser superficial. Que o que se excede em vontade, acção e paixão, escasseia na maturidade sabedora de que são feitos os mestres.
Mas 'A Grand Doesn't Come For Free' é um daqueles objectos que moiem e remoiem no nosso inconsciente mais obscuro. Até que, sem darmos conta, passou a fazer parte do nosso dia-a-dia, já começamos a entoar os refrões na cozinha e, mesmo havendo razões mais do que suficientes para arrumar no canto dos hypes facilmente negligenciáveis, acaba por nos parecer - nem que seja apenas uma vez, nem que seja apenas num exacto momento, naquele exacto momento - fundamental. Genuíno. Honesto. Familiar. E a verdade é que, de repente, não me lembro de muitos discos assim.

the-streets.co.uk

nota: as partes a cinzento claro correspondem a excertos do livro 'A Morte Em Veneza' de Thomas Mann.