quarta-feira, maio 19, 2004

Discos que mudaram a minha vida #9



Murcof . Martes
Tracks:
1.Memoria - 5:53
2.Marmol - 5:29
3.Maiz - 6:06
4.Mo - 4:27
5.Mes - 5:51
6.Mapa - 5:40
7.Mir - 6:41
8.Muim - 6:52
9.Unison - 4:53

Produced, mixed and composed by Fernando Corona

Release: 2002

Site: www.murcof.com

Interview:
Can you tell us about who you are and what is your background?
Edmundo Fernando Corona Murillo, born in Tijuana, Baja California, Mexico on july 26th 1970. I lived most of my life in Ensenada which is a small port about 100 miles south of Tijuana down the Baja peninsula, I also lived a couple of years in San Diego and attended primary school there, that’s how I learnt English. I studied to become Technician in Analysis and Systems Programming in Ensenada but never went to work as a DJ with my own mobile DJ system back in the 80’s and later, I got a slot at a club in Ensenada which sucked and still does. Before that I worked as a warehouse manager for my uncle Eduardo. And from the early 90’s up until a couple of years ago, I worked for a nursing agency in San Diego with mostly elderly patients with terminal illnesses. I now dedicate myself only to making music.
em www.themilkfactory.co.uk
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Numa época em que a aproximação estética prolífera e o advento de sucessivas novas correntes no campo da electrónica sacrifica a individualidade de cada músico e onde é mais cómodo assumir semelhanças com outros companheiros de percurso do que criar, inovar, modificar fórmulas e baralhar conceitos, Murcof é claramente uma excepção. Por outro lado, na busca incansável de revelar ecletismo - mas onde, tantas vezes, a diversidade apenas esconde uma irremediável falta de ideias - cada vez se tornam mais raros os casos em que um músico cria um conceito estético original e explora uma obra, de forma coerente, a partir desse conceito base. 'Martes' é um desses casos.
A fotografia da capa - tirada no México, num local desértico alegadamente visitado por actividade extra-terreste - começa logo por sugerir a superfície árida de um planeta distante e o desolador silêncio de uma natureza hostil. Raramente uma capa terá revelado tanto sobre o conteúdo de um disco. A conjugação das orquestrações neo-clássicas - Fernando Corona confessou em várias entrevistas ser fanático pela obra de compositores como Arvo Pärt e Henryk Górecki - com a electrónica minimalista da escola alemã, insinua uma brisa gradual de mistério e desconforto que atravessa todo o disco. Orquestrações carregadas de dramatismo, violinos em suspenso, pianos que prenunciam um ambiente de tensão, as batidas fragmentadas e novamente desfragmentadas do micro-house e uma superior técnica de manuseamento de silêncios e espaços, direccionam o ouvinte para uma espécie de catarse emocional que tem o seu epílogo em músicas de uma beleza tão trágica quanto desarmante, como 'Mes', 'Memoria' ou o superlativo 'Muim'. 'Martes' é um disco simultaneamente clássico e futurista, melancólico e iluminado, introspectivo e maquinal, onde, por uma vez, a parte emocional não foi sacrificada por uma mera demonstração de técnica.
No último segundo, uma nota solitária de piano resgata o ouvinte do estado de lassidão onírica em que havia mergulhado. E, enquanto recupera os sentidos, 'Martes' revelou-se uma experiência sublime e sinistra em medidas aproximadamente iguais.