Animal Collective . Sung Tongs
Li recentemente um comentário sobre o novo disco dos Animal Collective que referia uma sensação semelhante a escutarmos algo que nos fazia ter saudades de um lugar onde nunca tinhamos estado. Uma projecção de uma entidade inteiramente familiar retirada do seu contexto natural. Um sentimento contraditório obtido ao tentar estabelecer uma relação com algo que nos devia ser intímo mas que não reconhecemos.
Reflexão interessante e certeira, que identifica no essencial a ambiguídade provocada pela música dos Animal Collective. 'Sung Tongs' é a versão electrónica dos Beach Boys, o tropicalismo remisturado pela malta da editora Mego, as descargas eléctricas dos Black Dice no dia em que estes resolverem fazer 'canções', o psicadelismo folk dos JOMF atingido por ruídos bizarros captados através de um minidisk, a simplicidade acústica de Simon & Garfunkel adulterada por um grupo de hippies autodidactas e desafinados. É tudo isto ao mesmo tempo e não é nada disso em separado.
Serve como contra-argumento que por volta da sétima faixa já ouvimos e conhecemos os truques todos (é aqui que admito que 'Visiting Friends' é a música mais emocional e intensa que ouvi este ano? o bosque, a brisa, o cheiro a terra molhada, os ramos frondosos de um plátano no início da primavera, a luminosidade do sol reflectida na água de um lago, o pinguim afogado? E que depois disso não resta nada?)
Não tenho dúvidas que 'Sung Tungs' é o melhor disco da dupla Avey Tare e Panda Bear. Um disco que transcende a aparência comum da realidade e que deixa o ouvinte num estado de fascinação que custa a ultrapassar; algures entre a contemplação, o encantamento e o assombro.
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