quarta-feira, março 10, 2004

cLOUDDEAD . Ten



O novo disco de Doseone, why? e Odd Nosdam (músicos e mc's de voz anasalada e respectivo produtor) enferma dos mesmos males do seu antecessor: uma sucessão de ideias esquizóides (parte indie), esboços de pesadelos incoerentes e sem sentido (influência electrónica), colados de forma imaginativa mas desconexa (segmento hip hop). A grande vantagem é que os temas são mais curtos, simplificados, quase básicos - o que, neste contexto, significa a solução mágica para uma personalidade incapaz de sair da sua própria inconsequência. O resultado é que, por entre momentos de pura dislexia sonora, os cLOUDDEAD assumem por uma vez a importância do groove como motor da sua música e exploram uma fracção de melodia o tempo suficiente para o ouvinte assentar ideias e abanar a cabeça ao ritmo do boom bap. Mas nada de equívocos. Apesar de mais calmos e disciplinados, os cLOUDDEAD mantêm as suas características intactas: não dão para dançar, assemelham-se a uma versão dos Pavement mantida a samplers (ou a versão hip hop dos Beach Boys), estão prontos a desafiar os espíritos púdicos e conservadores (os orgãos de igreja estão lá só para enganar), têm o aspecto de geeks rebeldes de província que ninguém leva a sério mas de quem toda a gente tem receio.
No final, após 15 minutos de silêncio que redundam num derradeiro suspiro nonsense, pressentimos que alguém no escuro nos deu um mapa para encontrarmos a saída do labirinto. Resta saber se a mente tortuosa dos cLOUDDEAD terá mesmo um caminho de saída.
Conclusão: existisse um critério rígido de selecção, tivessem editado apenas 'Pop Song', 'Son of a Gun ', 'Rifle Eyes', 'Dead Dogs Two' e '3 Twenty' e 'Ten' seria um EP assombroso.