Zu . ao vivo no Maus Hábitos 04.02.22
De regresso após uma mini-férias na 'neve' - ler: a Serra da Freita com uns montículos brancos aqui e acolá sob uma temperatura glacial tem como resultado o inevitável nariz roxo até hoje. Cinco dias com pouca música; no fundo, a razão de existir deste blog. Tenho que admitir que a redescoberta dos Neptunes, ouvidos numa carripana por entre montes e vales, não é propriamente o pretexto ideal para novos posts.
Apetecia-me escrever umas notas muito breves sobre o concerto do trio italiano Zu mas aparentemente a comunidade blogueira do norte esteve presente em peso e antecipou-se. Consequência: pouco há a acrescentar ao que já foi dito, e muito bem, aqui, aqui e aqui.
Consideração lateralíssima: gosto da música dos Zu, assim, tocada com técnica. Não confundir 'técnica' com 'virtuosismo' - exibicionismo, bacoco e vazio de significado, de um conjunto de habilidades artísticas, esquecendo a capacidade criadora; a prevalência do meio em relação ao resultado.
Vejamos um exemplo inocente e cuja minha antipatia mal dissimulada ainda vai fazer com que perca alguns amigos menos tolerantes - os escoceses Mogwai. Como todos sabemos, e nem os fãs podem negar, os Mogwai têm uma fórmula. Em primeiro lugar vêm as partes lentas e, subjectivamente, bonitinhas mas monótonas. Depois de um crescendo de intensidade que pode durar o que parece ser uma eternidade, naquele exacto instante em que metade do público se baba de tédio e a outra metade acompanha as emoções à flor da pele com gritinhos (conforme a sensibilidade de cada um), vem a parte apocalíptica. As catarses, as explosões de decibeis *bocejo* completamente *zzzzzzzzzz* inesperadas. Para uns básicos tecnicamente limitados como os Mogwai, uma epifania significa apenas três/quatro coisas: amplificadores ao máximo, a mesma sequência de acordes tocada cada vez mais alto e mais depressa, show off dramático e corpos em balanço enérgico. Após a tempestade vem o apaziguamento. Baralha de novo e volta a dar. O único problema desta música é ser sempre igual. Um conjunto de emoções congeladas e prontas a usar que o artista retira de uma caixa e serve, independentemente do seu estado de espírito ou humor. Hoje é aqui, amanhã em Barcelona, para a semana em Milão, daqui a um mês noutro sítio qualquer. O truque é simples e eficaz: dar aquilo que o público quer ouvir. Mas um observador distanciado diria que o artista faz batota. Uma vigarice válida caso a música fosse uma actividade semelhante à arte da representação. Mas, como não é, trata-se de uma farsa.
Comparativamente, a música dos Zu é tudo menos prevísivel. Quem esteve no Maus Hábitos no domingo pôde assistir à demonstração, rigorosa e ao vivo, sobre como o domínio perfeito dos instrumentos pode estar ao serviço de uma música realmente provocadora, subversiva, irreverente, inesperada, devastadora. O facto de só trinta pessoas terem aguentado o concerto até ao final é - excluindo as questões de gosto - digno de estudo. Uma explicação simplista para a fuga esbaforida do público dir-nos-ia que a actuação dos Zu foi a música certa num contexto completamente errado.
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