quarta-feira, setembro 29, 2004

30 discos para os primeiros 9 meses de 2004

!!! . Louden Up Now (Touch And Go)
Alter Ego . Transphormer (Klang)
Animal Collective . Sung Tongs (FatCat)
Biosphere . Autour De La Lune (Touch)
cLOUDDEAD . Ten (Big Dada)
DJ Signify . Sleep No More (Lex)
Diplo . Florida (Big Dada)
Dizzee Rascal . Showtime (XL)
Fennesz . Venice (Touch)
Homelife . Guru Man Hubcap Lady (Ninja Tune)
James Cotton . The Dancing Box (Spectral)
Jill Scott . Beautifully Human: Words and Sounds, Vol. 2 (Sony Music)
Junior Boys . Last Exit (Electrokin)
Kiki . Run With Me (Bpitch Control)
Madvillain . Madvillainy (Stones Throw)
Matthew Dear . Leave Luck To Heaven (Spectral)
Melchior Productions . The Meaning (Playhouse)
Moodymann . Black Mahogani (Peacefrog)
Mouse On Mars . Radical Connector (Sonig)
Pan Sonic . Kesto (Mute)
Richard Bartz . Midnight Man (Gigolo)
Robag Wruhme . Wuzzelbud "KK" (Musik Krause)
Rotating Assembly, The . Natural Aspirations (Sound Signature)
Sixtoo . Chewing on Glass & Other Miracle Cures (Ninja Tune)
Spektrum . Enter The Spektrum (Playhouse)
Squarepusher . Ultravisitor (Warp)
Superpitcher . Here Comes Love (Kompakt)
Thomas Brinkmann . Tokyo + 1 (Max Ernst)
Vladislav Delay . Demo(n) Tracks (Huume)
Wagon Christ . Sorry I Make You Lush (Ninja Tune)

Com tendência a crescer, a ver se chega aos cinquenta até ao final do ano.

sábado, setembro 25, 2004

Mathew Jonson's top 10 27/8/2004

vancouver b.c.’s own mathew jonson has built a solid reputation over the past few years through his participation in the modern deep left quartet, cobblestone jazz and by various productions under his own name. his forays into jazz, house, fusion, techno and other electronic based music(s) reference a youth filled with musical creativity and ingenue.

Cobblestone Jazz . Carl's Creamcone
The Mole . On A Day Like Today
Pier Bucci / Pink Elln . Mavis 350 (Mike Shannon Remix)
Plastikman . Nostalgik
Donato Dozzy / G. Gigli . Chiki Disco EP
Lump . Drop Dead Gorgeous
Vernon Douglas / Tyger Lewis . Lerv-Vern EP
Ben Neville . The Pony
Chaton & Hopen . An Area (Hrdvsion Remix)
Hiem . She's The One (Mathew Jonson Remix)


Mais playlists em Atome.com.

sexta-feira, setembro 24, 2004

Car Crashes And Other Sad Stories

Ando com pouco 'tempo' para actualizar convenientemente este belogue. Pior, muito pior, ando com pouco 'tempo' para ouvir música. A culpa é, em parte, do Colin McRae 4, e, noutra parte, do sacana do Krpan. Percebem agora a razão de ser do título deste post?
Entretanto, como quem não quer a coisa, deixo alguns dos discos que, por uma via ou por outra, me têm chegado às mãos - e mais raramente aos ouvidos - nos últimos dias, tipo listagem sem nenhuma ordem em especial. A lista (eh pá! uma lista!) segue com diversos copy/pastes evitáveis, não fosse a preguiça latente, de forma que é provável que surjam alguns erros de grafia e quejandos.

Mouse On Mars . Radical Connector, melhor disco actual de sempre. Lionel Hampton . Revisited Series Part 4, o original é de 1984, a remix de Joakim é de 2003. Um clássico instantâneo, uma versão prodigiosa e vice-versa.
Thin Films . Eskimo, electrónica (con)gelada a lembrar huskies, tundras e vastas paisagens glaciais. Edição de autor, distribuída por cá pela mono:cromatica.
Super Discount 2, o primeiro volume saiu em 97 e foi, na altura, coisa para mudar a vida a muita gente, incluíndo a vida do autor destas linhas. Estão disponíveis finalmente - tudo no mesmo cd - os quatro 10'' que formam a segunda série. Ainda não ouvi. Nada.
The Rotating Assembly . Natural Aspirations, Theo Parrish na demanda do santo graal da música negra, mistura a espiritualidade do house com a angústia pos-industrial do techno, mais o jazz, o hip hop e tudo o que vier à rede.
Jill Scott . Beautifully Human, who is Jill Scott?
Terrestre . Secundary Inspection, Terrestre é o mexicano Murcof, num alter-ego mais animadote, que inclui elementos ritmicos tradicionais da América Latina em harmonia, como se estivessem habituados a conviver desde sempre, com estruturas reminiscentes do techno de Detroit.
VA . I, Robots Italo Electro Disco, dance, dance, dance, dance to the radio.
Geoff White . Ince (12''), techno minimal. Murmúrios. Guitarras vacilantes. É da Spectral. E tudo o que vem da Spectral é bom.
Luomo + Raz o'Hara . Running Away (ep) com raz o'hara na voz, em especial no lado A «give it away», luomo regressa ao futuro com um hook melódico que surge sempre nas alturas certas e uma linha de baixo que define instantaneamente a elegância do tema. depois, raz o'hara faz um falsetto controlado meio prince meio ele próprio que, diferente no lado B, e com o ritmo mais quebrado, é um potencial hit r&b/pop para milhões, da mailing-list da Flur
Mike Shannon . Sublet (12''), techno puro e duro, firmemente compassado, com sintetizadores e linhas de baixo acutilantes.
E, finalmente, 'Moss Rocks' (dividido a meias com The Mole), 'Love Letter To Enemy' e 'Decompression', diversos 12'' recentes do mais recente (passe o pleonasmo) prodígio da electrónica canadiana, Mathew Jonson.

Por hoje é tudo.
Bons sonhos. :)

quarta-feira, setembro 22, 2004

Absorb RIP?

I'm afraid, so.
E logo no mês em que o site comemorava 10 anos de existência,
Já não é a primeira vez que se fala no fim da Absorb (*) mas, aparentemente, agora é que é.
O universo crítico, assente em suporte 'virtual', fica mais pobre com o fim de um projecto editorial importante, nomeadamente e mormente, debruçado sobre o espectro da música electrónica. bla bla bla ...
Na despedida, fica em aberto a hipótese de surgirem novos projectos, envolvendo as mesmas pessoas.
Claro que tudo isto pode ser apenas mais uma manobra de marketing e, nesse caso, vou já ali para trás, dar com a cabeça na parede.

(*) Estou-me a lembrar daquela vez - aqui há uns 3 anos - em que a página inicial dizia qualquer coisa como 'devido ao desinteresse dos nossos leitores e o consequente aumento de consideração destes pelo alt-country decidimos acabar por aqui'.

segunda-feira, setembro 20, 2004

Joanna Newsom . The Milk-Eyed Mender (Drag City, 2004)



Joanna Newson tem 22 anos, é uma trovadora folk que substituíu a guitarra por uma harpa (instrumento que toca desde os oito anos de idade), já andou em digressão com Devendra Banhart, Will Oldham e Chan Marshall, estreia-se em disco após algumas edições em cassete e CD-R e - alto lá! - é sobrinha do mayor de San Francisco. Situação que imediatamente retira alguma consistência à condição de hippie depauperada e ... oh... cheia de problemas existenciais, que, como todos sabemos, é cláusula indispensável para conferir credibilidade a singer-songwriters em início de carreira.
'The Milk-Eyed Mender' situa-se algures entre o amor e a repulsa, entre uma manifestação artística válida e a auto-indulgência vazia de conteúdo, entre a beleza em estado puro cantada com um romantismo bucólico à flor da pele e o exibicionismo pseudo-poético de uma menina histriónica, onde nem podia faltar o som de um cravo, instrumento pretensioso por natureza. É neste equilíbrio instável entre a ternura e a vontade de ceder aos instintos inerentes à palavra “insuportável” que se destaca a voz de Joanna - uma voz infantil, à primeira audição irritante até à medula, capaz de suscitar associações com o som de unhas a raspar em quadros pretos, mas que, após a estranheza inicial, se revela o factor identificativo e primordial deste disco.
Aconselha-se o leitor deste belogue a esquecer por uma vez os instintos elementares que o impelem a abandonar 'The Milk-Eyed Mender' após a primeira escuta. Posto isso, deve aprender a programar o leitor de cds. Pretende-se, desta forma, que o potencial ouvinte passe a ignorar os momentos mais embaraçosos como, por exemplo, 'Inflammatory Writ', hino para serões de natal passados em família, cantado por aquilo que parece ser uma criança particularmente enfadonha. Finalmente deverá arrastar o sofá até à janela, esperar pela altura do lusco-fusco, optar por uma atitude contemplativa e deixar-se corromper. Pesados os prós e os contras, ‘The Milk-Eyed Mender’ é bem capaz de ser o melhor guilty pleasure de 2004.

quarta-feira, setembro 15, 2004

Volga Select Presents So Young But So Cold (Tigersushi, 2004)



Tracklist:
01 Nini Raviolette . Suis-Je Normale
02 J.J. Burnell . Euroman
03 Ruth . Roman Photo
04 Mathematiques Modernes . Disco Rough (I. Smagghe Edit)
05 Metal Boys . Carnival
06 (Hypothetical) Prophets, The . Person To Person
07 (Hypothetical) Prophets, The . Wallenberg
08 Kas Product . So Young But So Cold
09 Charles De Goal . Synchro
10 Artefact . Mae
11 Moderne . Switch On Bach
12 Jacno . Triangle
13 Tim Blake . Lighthouse
14 Droids . The Force (Part 1)
15 Bernard Szajner . Welcome (To Deathrow)
16 Richard Pinhas . Iceland


Ivan Smagghe é membro dos Black Strobe, dj residente das noites Kill The DJ, autor de um programa na Radio Nova de Paris e um dos elementos mais destacados do underground da música de dança estando, portanto, a um pequeno passo da fama. Este ano já editou 3 compilações e passou, na última sexta feira, pela cabina do Lux com resultados apreciáveis.
Marc Collin fez parte dos Ollano (grupo do qual também fazia parte Xavier Jamaux dos Bang Bang) e é membro efectivo dos Nouvelle Vague, duo que editou recentemente um álbum na Peacefrog, com relativo sucesso mediático, onde tocam versões lounge para alguns clássicos da música 'alternativa', género 'Love Will Tear Us Apart' ou 'Guns Of Brixton'. Colabora com os Suburbia e ainda edita sob o estranho pseudónimo de Sir Alice.
Juntos formam os Volga Select.
'So Young But So Cold' é uma compilação que traça as linhas mestras do post punk, electro pop, dark disco e new wave franceses, num conjunto de temas editados entre 1977 e 1983, com algumas tangentes ao krautrock e ao prog rock e com um pé nos Kraftwerk, outro nos Tangerine Dream e as duas mãos nos Telex. Ou seja, sintetizadores, drum machines, guitarras funky e electrónica trash, em alegre comunhão de sentidos diferentes.
Nos cerca de 70 minutos que totalizam o disco existem muitos e diversificados pontos de interesse. JJ Burnel - o baixista dos Stranglers - num momento de prosápia pós-moderna, Mathematiques Modernes, Metal Boys, Hypothetical Prophets, Richard Pinhas (guitarrista do grupo electro-prog Heldon), Tim Blake (que tocou com os Gong, os Egg e os Clearlight e fez parte dos Hawkwind), Bernard Szajner ou os Droids, de quem se vendem discos no mercado do vinil em segunda mão a preços especulativos.
Algumas coisas são visionárias. Por exemplo, os últimos quatro nomes referidos acima são fundamentais e formam um final de disco imperdível. Outras - como muito do que foi gravado nos anos 80 - soam irremediavelmente datadas ou, pior do que isso, são emblemáticas de um certo som trendy recente que urge esquecer de forma rápida, mais por culpa dos sucedâneos actuais do que propriamente do material original. Kas Product, Charles de Goal, Artefact; adivinha-se um folclore de poses semi-rigidas, penteados extravagantes e músicos a tocar com o entusiasmo e a sensibilidade de um electrodoméstico.
No entanto, e apesar de alguns passos em falso, a impressão geral é que 'So Young But So Cold' está ao nível de compilações indispensáveis como a 'Teutonik Disaster', a 'NY No Wave' ou a 'Mutant Disco' e tem tudo aquilo que uma compilação deve ter: (re)descoberta de material perdido, recuperação de temas essenciais até agora disponibilizados apenas em edições raras, contextualização histórica, músicas que valem por elas próprias e ultrapassam a relevância do ponto anterior, diversidade, capacidade de despertar novos focos de interesse, possível ponto de partida para investigações futuras.
'So Young But So Cold' é, no contexto actual, um disco importante para entender o cenário da pop electrónica contemporânea (as movimentações electro, electroclash ou electrotrash, são talvez as facetas mais visíveis mas há muito mais do que isso) e uma estimável lição de história sobre a música que veio logo a seguir ao "ano em que o punk rebentou".

terça-feira, setembro 14, 2004

Net diggin'

Nos últimos meses a Boomkat tem feito promoções ao catálogo de uma determinada editora. Na campanha de Agosto os discos da Neo Ouija estiveram em saldo. Neste mês, os descontos são sobre o catálogo da Planet-Mu. É possível encontrar discos de Nautilis, Hrvatski, Ambulance, Remarc, Kid Spatula, Venetian Snares, entre outros, a preços a rondar as 5 libras. Mesmo adicionando os gastos de envio (que dependem do número de discos enviados; vem tudo especificado no site, na opção postage rates) vale a pena espreitar.

sexta-feira, setembro 10, 2004

James Cotton . The Dancing Box (Spectral, 2004)



James Cotton é o nome de um bluesman veterano, vencedor de um Grammy Award, a quem uma grave doença nas cordas vocais impediu de continuar a cantar.
James Cotton é igualmente um dos pseudónimos do americano Tadd Mullinix, produtor de 22 anos ligado ao "fascinante universo da música electrónica".
Personagem multifacetada, Mullinix mantém vários alias, movendo-se em áreas que vão desde o hip hop mais abstracto até ao acid techno psicótico.
Conta a sua biografia que tudo terá começado com a edição de diversos 12'' de jungle hipertenso e irascível, gravados sob o pseudónimo Soundmurdered & SK-1 (Soundmurdered é Todd Osborn também dos Starski & Clutch) e editados pela Rewind! Records, label absolutamente underground que mantém em conjunto com Osborn.
A obscuridade termina em 2001, altura em que Sam Valenti (proprietário da Ghostly) não descansa enquanto não descobre o autor de uma certa demo ouvida numa loja de musica em Michigan e se sente cativado por aquela mistura de batidas abstractas e melodias clássicas. É desta forma que é editado o álbum ‘Winking Makes a Face’ (no fundo, a demo original com alterações a nível de produção), disco que marca a estreia do catálogo da Ghostly International e de Tadd Mullinix em nome individual, longe dos ambientes claustrofóbicos criados como Soundmurdered & SK-1.
Simultaneamente, Mullinix edita sob o alias Dabrye. Com este disfarce esbate as fronteiras entre o hip hop e a IDM, de forma criativa e competente, incluindo novas estruturas rítmicas sobre batidas estilizadas, linhas de baixo acutilantes e uma estrutura geral minimalista, a fazer lembrar nomes como os de Prefuse 73 ou Boom Bip, e capaz de suscitar elogios, quer da comunidade hip hop underground (os Jurassic 5 e Jay Dee estão entre os fãs), quer da crítica especializada em musica electrónica.
No entanto, tamanha hiperactividade não acaba por aqui.
Como James Cotton, Mullinix editou o EP ‘Mind Your Manners’, uma dance mix demoníaca para ‘Bang Bang Lover’ de Charles Maniers, um tema EBM clássico (‘I Seek’, incluído no EP 'State Of The Union', disco onde se começavam a revelar nomes como os de Matthew Dear ou Flexitone) e os EPs ‘Buck’ e ‘Press Your Body’, ambos - em parte - incluídos neste disco.
‘The Dancing Box’ é um álbum sombrio e subliminar, que faz a ponte entre o techno de Detroit, o house de Chicago, o new beat belga e o electro apátrida, oscilando entre temas para a pista e material mais melódico e subtil. Sendo assumidamente influenciado pelos discos da Trax, pelas primeiras edições de Plastikman e pela música feita por personalidades do house do final dos anos oitenta como DJ Pierre, Hokus Pokus ou Jesse Saunders, 'The Dancing Box' é produzido de tal forma que parece um som de uma dancefloor, filtrado pelo cérebro de um indivíduo com tendência para sofrer de tonturas e esquizofrenia. Adicionalmente, a repetição obsessiva de frases curtas que apontam de forma directa ao subconsciente do seu receptor e a utilização repetida de sintetizadores e mudanças de ritmo desconcertantes aumentam os níveis de adrenalina de forma exponencial, ao mesmo tempo que assinalam a imagem de marca do seu autor, tornando, a sua música, em algo que deveria ser imediatamente reprovado pelos apreciadores de discos lineares e organizados por catalogações inflexíveis. Na verdade acaba por ser um lugar comum, mas é inegável que Cotton utiliza os meios de produção do século XXI para actualizar o som clássico do house e do techno do final da década de oitenta, de forma alucinante/perturbada, numa dicotomia simbólica entre a alegria e o prazer vs a depressão e o stress. Ou entre a noite e o dia, se quiser ser mais objectivo. Paradoxalmente, é essa dimensão inquietante que o torna um objecto estranho dentro da pista de dança, que o transforma num disco que sobrevive fora do seu ambiente natural.
Incómodo e contagiante, 'The Dancing Box' é assim o reflexo da desordem caótica que assinala o nosso tempo.

terça-feira, setembro 07, 2004

Novos links (II)

Novo mês. É altura de actualizar os links.
Podia estar calado mas sempre é da maneira que escrevo qualquer coisa hoje e este belogue fica com um aspecto dinâmico, de actualização constante.
Assim, nos belogues, acrescentei o Chafarica, o Aifai, o Gutterbreakz, o Blissout, o MPC 4000, o easyM e, finalmente, o Crítico.
Nas publicações, o site da revista XLR8R.
Nas editoras, a Harmless, a Anticon e a Big Dada.
Adicionei também o site da Sinsal Audio, uma pequena mas muito interessante loja de discos situada em Vigo e especializada em música electrónica, que costumo visitar regularmente.
I hope you like it. :)

segunda-feira, setembro 06, 2004

Homelife . Guru Man Hubcap Lady (Ninja Tune, 2004)



"Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha tecto
Não tinha nada"

Em 'A Casa'

"Homelife aren’t interested in conforming to perceived norms, to genre, to standard recording techniques, to even having a proper line-up…"


Um conselho prévio: esqueçamos as duas primeiras músicas e avancemos imediatamente para a terceira. 'A Casa' diz ao que vamos. Entre a pop, a música de dança, o jazz, a folk, a experimentação típica da era do sampler, o easy-listening, a bossanova, a tropicália, o psicadelismo ou o que se quiser, 'Guru Man' é tudo isto e muito mais, em capítulos bizarros que podem durar um tema inteiro ou em pequenas doses delirantes de apenas 30 segundos durante uma música qualquer.
Os Homelife são uma saudável anarquia de cerca de 20 músicos com epicentro em Manchester, formados em torno do baixista Paddy Steer e do vocalista Tony Burnside, e que inclui, entre outros, personagens míticas da música mancusiana como Graham Massey dos 808 State (biografia) e ao quinto álbum (há quem diga que é o terceiro, circulam versões que este é apenas o segundo. Eu desconfio que seja o quarto) revelam-se definitamente. É realmente notável a forma como, no meio do omnipresente banjo e de programações electrónicas, contrabaixos, quartetos de cordas, bongos, sintetizadores, guitarras havaianas, trombones, clarinetes, vozes afinadas, tambores de pele de cobra (neste momento este texto começa a parecer uma lista de supermercado) e mil e um apetrechos de nomes exóticos, é possível construir canções como a melhor música dos Combustible Edison feita por outros que não eles ('Heaven Knows'), momentos em que a voz furtiva de Seaming To desarma o ouvinte em três tempos ('Big Tree' é tal e qual como um gato que observa a sua presa, olhos fixos no alvo, abanando a cauda) ou exemplos de como transformar uma multidão tensa e ululante num alegre grupo de excursionistas lentamente hipnotizados pelo bater de um tacho ('Lowdell Is Missing' e 'April Sunshine').
Facilmente se reconhecem múltiplas referências (Captain Beefheart, Martin Denny, Raymond Scott, Brian Wilson, Arthur Russell, os Animal Collective, porque não?) mas por entre um conjunto de sons e ambientes diversos, os Homelife mantêm uma (in)coerência e (falta de) integridade que acompanha todo o disco. Um álbum interessantíssimo - paradigmático da heterogeneidade actual da Ninja Tune - que oscila entre o sério e a paródia, entre a genialidade e a indigência, mas que acaba por não ser nenhuma dessa coisas. Talvez descrições como "melting-pot musical" ou "caleidoscópio sonoro" se ajustassem melhor.
Um caleidoscópio. É isso.

quinta-feira, setembro 02, 2004

Thomas Fehlmann . Little Big Horn (12'' Kompakt, 2004)



Tracklisting:
A Little Big Horn
B1 Brushed
B2 With Oil


'Little Big Horn' chegou na última remessa da Kompakt, juntamente com o Speicher 19 (já falado algures neste belogue) e a compilação Kompakt 100. A Kompakt é, neste momento, uma das editoras da moda, adorada por vários dj's conceituados e mencionada de passagem nos jornais e nos meios de comunicação generalistas, o que imediatamente origina olhares de esguelha por parte dos membros mais aguerridos da comunidade. 'E que comunidade será essa?', pergunta o sagaz leitor. Não faço a mínima ideia. Mas, se quiserem um conselho paternalista em tom de consultor financeiro, tentem comprar o máximo número de discos desta editora. É um investimento seguro e daqui a uns anos - quando se fizer a história do início do século XXI - este espólio vai render ouro. Ou 'oiro', como se diz na minha terra.

Thomas Fehlmann nasceu em Zurique na Suiça (Born: Oliver Kahn, 1956) mas emigrou cedo para a Alemanha, para desenvolver os seus estudos na Academia de Arte de Hamburgo. No inicio da década de 80 fez, juntamente com Holger Hiller, parte dos Palais Schaumburg, grupo seminal na fusão de ritmos de dança com o rock alemão dos anos 70, uma espécie de experimentalismo electrónico misturado com sensibilidade pop, produzindo (e passo a citar) extreme love songs and humourous free poetry on profound electronic instrumentation, naquilo que mais tarde se chamou de movimento Neue Deutsche Welle (qualquer coisa como New Wave Alemã). Após o final dos Palais Schaumburg, em 1984, Fehlmann dedicou-se com mais determinação à produção de música electrónica, editando como Ready Made (alter ego inspirado nas experiências avant-garde de Marcel Duchamp) e fundando a Teutonic Beats. As produções da Teutonic Beats - através de diversos 12'' produzidos por nomes como os de Moritz von Oswald (actualmente dono de metade da Basic Channel e membro dos Rhythm & Sound), Marathon ou Wolfgang Voigt - deram origem a um entusiasmo inusitado em redor da cena da música electrónica alemã. O projecto Marathon causou furor igualmente do outro lado do Canal da Mancha, chamando a atenção a Alex Paterson (na altura A&R da editora EG Records) tendo esta passado a distribuir o catálogo da Teutonic Beats no Reino Unido. Simultaneamente, Paterson criava os The Orb e Fehlmann tornava-se co-produtor e co-autor de diversos temas do grupo, tendo assumido o posto de membro flutuante dos Orb e actuando como DJ em algumas actuações ao vivo. Em 1994, uma colaboração entre Fehlmann, Paterson, Kris Weston e Robert Fripp deu origem ao álbum 'FFWD', actualmente considerado um marco na música electrónica de cariz menos dançável. Entretanto, Fehlmann mudou-se definitivamente para a cidade de Berlim, tendo editado pela Tresor Records uma colaboração com Juan Atkins e Moritz van Oswald - num projecto designado como 3MB - ao mesmo tempo que assinava trabalhos com a Underground Resistance, Blake Baxter e Eddie Flashin' Fowlkes, naquilo que se convencionou chamar Berlin-Detroit Connection. Desde essa altura, Fehlmann não parou de editar material original (em nome próprio ou sob o alter ago Ready Made) e actuar como deejay em vários clubes e cidades espalhadas pelo mundo, mantendo a colaboração com os The Orb, fazendo remisturas para outros artistas, contribuindo activamente em conceitos artisticos como o Ocean Club, actuando em museus ou em galerias de arte e apresentando programas de rádio. Thomas Fehlmann tem uma discografia longa e intocável (a parte em que produziu alguns dos maiores êxitos dos Erasure foi convenientemente subtraida desta mini-biografia :P ) e esteve presente em praticamente todas as evoluções da música electrónica nos últimos 20 anos. Home studio, sampler, house, techno, avant garde, ambient. Been there, done that!

'Little Big Horn' é um 12'' que assume sem reservas a recriação das três vertentes fundamentais do som electrónico contemporâneo alemão. O tema homónimo é um tour de force acid techno de contornos subversivos e com um baixo eminentemente explosivo. Em 'Brushed' - talvez o melhor tema deste disco - Fehlmann desenvolve uma sinfonia electrónica em redor do schaffel beat, até tornar o tema num manual prático para dança compulsiva. Finalmente ,'With Oil' é um tema ambiental, elegante e espacial, sem qualquer tipo de batida, que se esprai de forma tranquila durante 6 minutos, até, implicitamente, se tornar na banda sonora ideal para escutar enquanto o ouvinte compra o pão, numa fria e húmida madrugada de domingo.
Agora chega.