quarta-feira, junho 30, 2004

15 discos para os primeiros 6 meses de 2004

Alter Ego . Transphormer (Klang)
Animal Collective . Sung Tongs (FatCat)
cLOUDDEAD . Ten (Big Dada)
DJ Signify . Sleep No More (Lex)
Fennesz . Venice (Touch)
Junior Boys . Last Exit (Electrokin)
Madvillain . Madvillainy (Stones Throw)
Matthew Dear . Leave Luck To Heaven (Spectral)
Richard Bartz . Midnight Man (Gigolo)
Robag Wruhme . Wuzzelbud "KK" (Musik Krause)
Spektrum . Enter The Spektrum (Playhouse)
Superpitcher . Here Comes Love (Kompakt)
Thomas Brinkmann . Tokyo + 1 (Max Ernst)
Vladislav Delay . Demo(n) Tracks (Huume)
Wagon Christ . Sorry I Make You Lush (Ninja Tune)

Uma boa parte destes discos já foi falada por aqui. Também nunca ninguém disse que este belogue ia ser isento de repetições. :)

terça-feira, junho 29, 2004

Wagon Christ . Sorry, I Make You Lush



Wagon Christ é o alter-ego lúdico de Luke Vibert e 'Sorry, I Make You Lush' é uma curiosa e invulgar colecção de melodias excêntricas, floreados exóticos, sintetizadores disparatados, funk fragmentado, loops vocais e entoações deliciosas. Uma mistura de Jean-Jacques Perrey, library music, jazz futurista e hip hop instrumental. A banda sonora para um cartoon cibernético que narra as aventuras de uma raça de polvos mecânicos, de bisnagas em punho até conquistar a humanidade. Mas, como em quase todos os discos de Vibert, falta aqui o equivalente a meio dedo mindinho para atingir a genialidade.

!!! . Louden Up Now



A arte é uma arma? A música deve estar ao serviço do idealismo? A mensagem de 'Louden Up Now' é algo tosca, primitiva ou, no seu pior, propagandistica. Para se ser 'subversivo' não é necessário ser panfletário, basta dominar os objectivos propostos. A música oscila entre o original, o agradável, o balofo e o hipnótico, algures entre o rock e a música de dança. O que os !!! (lê-se 'Chik Chik Chik') fazem pode ser descrito como 'punk-funk dos anos oitenta, revisto pelos mais modernos meios de produção'. Ou um loop contínuo e exuberante de revivalismo new wave dance punk, a que parecem faltar os momentos memoráveis, capazes de distinguir o irrepetível de uma banal declaração estética. Boas canções, um groove trepidante e uma produção exemplar, prejudicadas por uma estrutura demasiado simplista.

Pete Rock . Soul Survivor II



Pete Rock é um dos produtores mais emblemáticos do cena hip hop de New York. Depois de uma carreira como DJ na mítica estação de rádio WBLS, trabalhou com nomes como A Tribe Called Quest, RUN DMC, Public Enemy ou Redman. 'Soul Survivor II' marca a continuação do seu primeiro LP, editado há seis anos, e é um disco anacrónico - deliciosamente anacrónico - amarrado aos eternos samples de soul, breaks de funk, baixos filtrados e layers de pianos e instrumentos de sopro. Mas o destaque principal são os MC's: com a colaboração de, entre outros, RZA e GZA (dos Wu-Tang), C.L. Smooth, Talib Kweli, Slum Village ou Pharoahe Monch, 'Soul Survivor II' é um disco que confirma as credenciais do seu produtor e demonstra que Pete Rock domina todos os segredos sobre a arte de construir a batida perfeita.

Buck 65 . Talkin' Honkey Blues



Se imaginarmos uma mistura de hip hop com country alternativo lo fi, teremos possivelmente algo entre o hip hop lo fi ou o country hip hop. Se o colectivo Anticon - com excepção notável de Sole - pega nos últimos 40 anos de música popular, numa misturadora e elabora uma papa demasiado inconsistente, Buck 65 (nome 'civil', Richard Terfry) reduz os ingredientes ao mínimo indispensável, nas doses absolutamente necessárias. 'Talkin' Honkey Blues' é um excelente disco com apenas um ponto fraco: a voz rouca do Buck que não se chama Buck, mais parece a de um velho combatente de boxe atacado pela doença de Parkinson. Ou um Tom Waits ligeiramente menos ébrio. Ainda assim, é uma questão de minutos até provocar habituação.

Craig Taborn . Junk Magic



Craig Taborn (piano, samples e teclados diversos) tem uma invejável carreira como sideman de músicos como Dave Douglas, Carl Craig, Tim Berne, Susie Ibarra ou James Carter. Em 'Junk Magic' grava, juntamente com Aaron Stewart (saxofone), David King (bateria) e Mat Maneri (violino), um disco que celebra o melhor de dois mundos: a improvisação e o espírito livre do jazz, combinado com elementos electrónicos, beats sintéticos e drones experimentais. O último volume de Blue Series da Thirsty Ear é um disco notável, a que apenas se pedia um pouco mais de free - jazz ou nem por isso.

quarta-feira, junho 23, 2004

Antibalas . Who Is This America?



Os Antibalas são um colectivo de Brooklyn, liderado por Martin Perna e formado por (cerca de) 15 músicos, que todas as semanas, armados de instrumentos de sopro, orgão hammond, guitarras sincopadas e um groove do tamanho de África, agitam consciências e corpos em comícios-concerto que invariavelmente se transformam em festa. 'Who Is This America' é já o seu terceiro disco. Ou manifesto, se preferirem.
Nos seus concertos e em disco anunciam a revolução, pregam a transgressão social - não por acaso, um dos seus temas mais emblemáticos chama-se 'Never Ever Submit to Authority' -, alertam para os perigos de doses excessivas de televisão e da alienação causada pelos desportos profissionais, enquanto desancam na hipocrisia do governo, exército e instituições bancárias norte-americanas. 'They dictate how we live and die' diziam eles no booklet do seu primeiro álbum e (aqui para nós) não deixam de ter razão. Mas abstraindo-nos do caracter planfetário e politizado dos Antibalas e de que - apesar de umas incursões pelo boogaloo em 'Elephant' - nada por aqui é propriamente 'novo' (pelo menos desde que nos anos 70, o nigeriano Fela Anikulapo-Kuti e os Africa 70 criaram os fundamentos do afrobeat, através de um cruzamento de funk, ritmos africanos e improvisação jazzística, servido por mensagens políticas e sociais fortemente contestatárias), poucas vezes se terá ouvido um grupo que, seguindo a cartilha do mestre tão à letra, ao mesmo tempo produzisse música com tamanha convicção, generosidade e revolta.

antibalas.com.
Com música de borla.

terça-feira, junho 22, 2004

Peter Gabriel
The Cure
Ice-T
Bob Dylan
The Stooges
MC5
Pixies
Sting
David Bowie
Yes
Deep Purple
Scorpions
Paul McCartney.
Nada como uma rápida vista de olhos pelos cartazes dos festivais de Verão em Portugal para me sentir um jovem pujante, ainda no vigor da idade.

segunda-feira, junho 21, 2004

Colleen . Everybody Alive Wants Answers



Recomendado pelo César dos patos quânticos e do Fórum Sons - ou seria pelo Luís? perdoem-me o pequeno lapso de memória (são coisas da idade) - Colleen é afinal uma jovem parisiense que dá pelo nome de Cecile Schoott.
'Everybody Alive Wants Answers' é o primeiro disco de Cecile, foi editado em 2003 pela estimável Leaf, e é uma pequena preciosidade, de melodias frágeis e ternas, numa aproximação à música de Fennesz revista por uma sensibilidade tipicamente feminina, tendo originado imediatas - e, na minha opinião, algo precipitadas - catalogações no universo da indietrónica e do laptop folk.
À primeira vista surge com banda sonora ideal para complementar conversas nocturnas à varanda, enquanto a vida nos parece absurdamente sem fim e sem percalços. Mas, à medida que nos aproximamos do final do disco, pressentimos que, por baixo de uma aparência de serenidade, se esconde uma alma penada, torturada por uma existência angustiante. É nesta altura que reconhecemos a experiência de ter outra vez 10 anos e vivemos o mesmo arrepio que sentimos uns anos antes, ao abrir uma caixa de música, descoberta, ao acaso, no sotão da nossa avô. A conversa na varanda fica para outra noite. Mais quente, talvez.

domingo, junho 20, 2004

Optimus.Hype@Meco, dia 10 de Julho.

PALCO OPTIMUS
Moloko
The Matthew Herbert Big Band
Peaches
London Elektricity
Scratch Perverts

TENDA ZONE
Fernanda Porto
Otto
Trio Mocotó
Kaleidoscópio
DJ Dolores & Aparelhagem
Tó Ricciardi

TENDA JOURNEYS
Jazzanova feat. Clara Hill (Sonar Kollektiv)
Âme (Sonar Kollektiv)
Break Reform - Live
The Deal - Live
Dubadelic Vibrations
Pedro Viegas
Yari
Pitt Bull

TENDA DA PROVIDERS
Stereo Addiction (Portugal)
Bart (Portugal)
Chris Meehan
Dave Seaman
Infusion
Kasey Taylor

14 HORAS DA MELHOR MÚSICA ELECTRÓNICA!


Um festival de música electrónica que ignora nomes como os de Alter Ego, Junior Boys, Matthew Dear, Robag Wruhme ou Fabrice Lig, que não tem o arrojo de perceber que coisas como os Spektrum, The Streets, Wiley, Dizzee Rascal, !!! ou LCD Soundsystem teriam potencial para grandes concertos e para se tornarem fenómenos de culto por cá, que esquece que em Benicassim vai haver uma noite da Kompakt, outra da Output e actuações de Ritchie Hawtin, Ricardo Villalobos, Krafwerk e Paul Kalkbrenner, que não tem a percepção necessária para ir buscar nomes - como o de Fennesz, Animal Collective, Squarepusher, DJ Shadow ou Mouse On Mars - apetecíveis para um público mais elitista, que gosta de música electrónica mas não iria normalmente ao Festival do Meco, que exclui o hip hop de Brother Ali, Dilated Peoples, Madlib, The Roots ou Eyedea & Abilities (só para referir nomes que andam em digressão), que não aposta em nomes consagrados, capazes de garantir excelentes receitas de bilheteira e imediato retorno de uma parte do investimento, como os Air, Bjork, Underworld, Chemical Brothers ou Beastie Boys, que não aproveita a boa recepção que os discos recentes de Luomo, Luciano ou Superpitcher tiveram na crítica portuguesa, que não faz a ponte para o passado trazendo, por exemplo, o histórico Roy Ayers que o Cool Jazz Fest vai trazer, que não tem um palco de portugueses apelativo com Melo D, Bulllet, Sam The Kid ou Spaceboys, um cartaz que ignora todos estes atributos nunca poderá ser o melhor de coisa nenhuma.
Sei que trazer todos os nomes referidos é inviável. Sei que a maior parte do público consumidor de música e de festivais em Portugal, é pouco esclarecido, nada curioso, não se importa de ver todos os anos as mesmas caras e vai mais pelo ambiente do que pela música. Também nunca organizei nenhum festival e não faço ideia das dificuldades logísticas que isso trará. Mas teoricamente há uma solução de compromisso entre nomes capazes de congregar muito público e nomes desconhecidos, que podem originar novos cultos. O Meco é um festival reconhecido pelo 'grande público', com patrocinadores fortes e uma máquina promocional estabelecida no mercado. Creio que não faltam meio$ para investir noutro tipo de cartaz - com lucro igualmente garantido - capaz de fugir às modas mais fugazes, mas sem prejuízo de acompanhar com atenção o que de mais importante se vai produzindo na música electrónica, ao mesmo tempo que se abre a porta a outros géneros - e públicos - como o hip hop ou o rock de cariz mais dançável.
Máximo respeito pelos Jazzanova e pelo Matthew Herbert, mas não me parece que a aposta recorrente em nomes que ainda no ano passado foram cabeças de cartaz no CBT (como a Peaches e o próprio Herbert), em grupos de um só êxito como os Moloko e em brasileiros de segunda categoria, seja uma boa estratégia. Além disso, tenho sérias dúvidas se esta será a solução financeiramente mais favorável para os promotores do festival.
A forte curiosidade que tenho em ver os Scratch Perverts e a expectativa de ouvir uma ou outra surpresa que normalmente há num festival deste tipo (à partida, Âme será um nome a acompanhar com atenção), não justificam uma viagem tão longa. A ideia que o Meco se ia transformar progressivamente num Festival de Benicassim ou num Sonar à escala portuguesa está cada vez mais longe de se realizar. Perante a evidente falta de vontade em arriscar num cartaz inovador, importa mais, nesta altura, arranjar alternativas do que encontrar culpados.

sexta-feira, junho 18, 2004

Matthew Dear . Leave Luck To Heaven



‘the reason for the story is to give away your last chance’

Após um par de EPs na Spectral Sound (a subsidiária mais orientada para o house da Ghostly), edições como False para a Plus 8 de Richie Hawtin - aka Plastikman - e para a Perlon de Markus Nikolai sob o pseudónimo de Jabberjaw, Matthew Dear apresenta o seu primeiro álbum. O ecletismo das suas diferentes referências surge reflectido no seu produto final. Daí que não admire que Matthew tenha, no passado, editado por uma diversidade tão grande de labels: desde o electro-pop da Ghostly, ao minimal techno da Plus 8, passando pelo tech-house da Perlon.
'Leave Luck to Heaven' utiliza as referências do techno da cidade de Detroit - o ritmo regular 4/4, entre as 130 e as 140 bpm's, baixos envolventes, funky hooks e momentos atmosféricos que arrepiam a espinha - misturadas com uma sensibilidade pop e um sentido inequívoco de glamour que percorre todo o álbum. A fórmula não tem segredos e já foi utilizada inúmeras vezes, desde os pioneiros Derrick May, Juan Atkins e Kevin Saunderson: uma batida, uma linha de baixo e um teclado funky, misturadas em diferentes proporções. Matthew Dear explora os princípios do loop, em ciclos de uma aditividade crescente, revelando temas absolutamente viciantes como 'An Unbending', 'Dog Days' - desde já eleito como tema preferido deste verão - ou 'You're Fucking Crazy', coadjuvados por um tratamento especial conferido à sua própria voz. Surpreendente e ambíguo, extrovertido e emocional, 'Leave Luck To Heaven' consegue manter um nível altíssimo e uma coerência qualitativa notável num disco com estas características: música para se ouvir - inconscientemente, cada vez com mais atenção - em casa, e dançar - progressivamente com mais determinação - no local adequado. E confirma, à partida, Matthew Dear como um dos mais interessantes produtores a ter em conta, num futuro que já começou.

quinta-feira, junho 17, 2004

Discos que mudaram a minha vida #12



Aphex Twin . Richard D. James Album
Tracks:
1.4
2.Cornish Acid
3.Peek 824545301
4.Fingerbib
5.Corn Mouth
6.To Cure a Weakling Child
7.Goon Gumpas
8.Yellow Calx
9.Girl/Boy Song
10.Logon Rock Witch
Extra tracks:
11.Milkman
12.Inkeys
13.Girl/Boy Song [£18 Snare Rush Mix]
14.Beetles
15.Girl/Boy Song [Redruth Mix]

All tracks performed by Richard James.

Released: 1996

Background information: If techno ever does become the sound of young America, don't expect Richard James to be its poster boy, deserving though he may be. A native of Cornwall, England, James is obsessed with the mechanics of music making: As a kid, he took apart and reassembled the living room piano. Under the names Aphex Twin, Polygon Window, AFX, and other aliases too numerous to mention, he showed that he could make entire tracks with the sounds produced by tapping on a Coke can. Like the indie rockers of yore, he revels in his marginality because of the creative freedom it gives him. His full-length U.S. debut, Selected Ambient Works Volume II (1994), includes some of the most serene sounds this side of the Orb, but his favorite hobby is the not-at-all-blissful pastime of driving a Daimler Ferret Mark 3 tank through his parents' backyard.
None of his recordings have captured the competing impulses to lull you to sleep and blast out your eardrums as well as Richard D. James, his third and best album. As the title indicates, James has turned inward for inspiration, painting aural pictures of real and imagined scenes from his west country childhood. "Goongumpas" is a fanciful, playful tune that wouldn't sound out of place on the soundtrack to Willy Wonka and the Chocolate Factory. As his adventures with the family upright indicate, James was a bit of a devil even as a child. "Beetles" is the sound of a boy frying bugs on the sidewalk with a magnifying glass, and "To Cure a Weakling Child" shows flashes of the sort of sadism found only on preschool playgrounds. If you still doubt that young Richard developed early on, the romantic Nino Rota-style strings on "Girl/Boy Song" are just made for passionate seductions, and the tune appears in three mixes, each one hot and hornier than the one before.
The raucous undercurrents of even his calmest tunes and the sources of many of his most common sounds are what link James to the rock tradition. With Richard D. James, the artist solidifies his position as an electronic music mastermind who has earned a spot beside such well-respected innovators--whether or not he's destined for stardom. --Jim Derogatis


Richard D. James - também conhecido como AFX, Caustic Window, Blue Calx, The Dice Man, Power Pill ou simplesmente Aphex Twin - é uma das personalidades mais influentes e inventivas da música electrónica contemporânea. Genial, irreverente, provocador, egocêntrico, demente, imprevisivel, agitador de consciências, proprietário de um sorriso medonho e de um tanque de guerra como viatura pessoal, Aphex Twin movimenta-se entre o caos absoluto e a tranquilidade mais apaziguadora, da agressividade esquizofrénica acentuada por mil batidas num minuto, ao teclar melancólico e terno de um piano. Alguns anos antes do reconhecimento mediático via MTV - os videos de 'Comme To Daddy' e 'Windowlicker', realizados por Chris Cunningham, transformaram-se em sucessos à escala global com a sua legião de tenebrosos anões destruidores, terriveis seres mutantes, limusines de tamanho XXL, top-models com a cara de Aphex e um imaginário susceptivel de ser classifado como perverso - Aphex Twin tinha editado este disco despretensioso, dividido inicialmente em dez temas e pouco mais de trinta minutos de duração.
'Richard D. James Album' é um daqueles casos que divide opiniões. Acusado por alguns de ser, já na altura, 'mais do mesmo', de seguir demasiado à risca os métodos de Squarepusher e de ser uma sucessão de experiências, no limite, inconsequentes, foi simultanemente incensado por alguma crítica como sendo uma obra-prima que terá o seu devido reconhecimento num futuro ainda distante. As características de autor mantêm-se: mais uma vez o drum'n'bass (que eu consumia na altura, em doses compulsivas), o breakbeat, o ambient, o techno e o electro são explorados até ao limite do sobrenatural , em batidas disconexas e acelaradissimas - 30 segundos de 'Girl/Boy Song' podem conter mais beats do que uma noite inteira em qualquer dancefloor - e electrónica distorcida à beira da catarse. Mas também há pianos nostálgicos - Richard é apelidado justamente de "Mozart do techno" - singelas canções de embalar, orgãos de igreja, caixas de música e simples instrumentos acústicos em suave harmonia.
Passados uns anos a dúvida persiste, música inteligente para fazer dançar os neurónios ou um disco falhado com alguns momentos brilhantes? Oito anos de distância não foram suficientes para descobrir a resposta definitiva.

Reportagem sobre o concerto de Jason Forrest, aka Donna Summer, na ZdB

"(...) E conseguiu-o em pleno: a sua música é um carrossel de estilhaços disco, funk e rock perdidos numa torrente de arritmias a quem alguém, um dia, teve a sensata ideia de chamar «broken beat». É, muito claramente, música que apetece partir (isto é, experimentar)."
Blitz.


Muito bem.
Já percebemos a ideia. Obrigado.

Discos que mudaram a minha vida #11



Boards Of Canada . Geogaddi
Tracks:
1.Ready Lets Go
2.Music Is Math
3.Beware the Friendly Stranger
4.Gyroscope
5.Dandelion
6.Sunshine Recorder
7.In the Annexe
8.Julie and Candy
9.The Smallest Weird Number
10.1969
11.Energy Warning
12.The Beach at Redpoint
13.Opening the Mouth
14.Alpha and Omega
15.I Saw Drones
16.The Devil Is in the Details
17.A Is to B as B Is to C
18.Over the Horizon Radar
19.Dawn Chorus
20.Diving Station
21.You Could Feel the Sky
22.Corsair
23.Magic Window

All tracks written and produced by Marcus Eoin & Michael Sandison

Released: 2002

Site: www.boardsofcanada.com


Os Boards of Canada são um duo, composto por Mike Sandinson e Marcus Eoin, que opera a partir do norte da Escócia.
'Geogaddi' foi o seu segundo disco após o elogiado, aplaudido e aclamado 'Music Has The Right To Children' e de alguns Eps que granjearam fama e ampliaram o culto.
Na altura da edição de 'Geogaddi', os fãs mais devotos dos BoC desenvolveram peculiares interpretações e comentários detalhados sobre o significado de cada um dos temas que compunham o álbum.
Diversos message boards na internet alertaram para a simbologia da duração total do disco - 66 minutos e 6 segundos, embora o visor do meu leitor de cds sempre tivesse indicado menos 2 segundos, mas já se sabe que o chifrudo só se materializa a quem nele acredita -, que o álbum ouvido de trás para a frente estaria embebido em mensagens obscuras que declaram o amor incondicional e a existência de um Deus com cornos, que - e esta parte é mesmo assustadora - os 106 segundos de aparente silêncio que encerram o disco seriam afinal frequências utilizadas para "o acoplar e transmissão de energias de outros mundos para o nosso"(sic) e que os BoC nutriam uma admiração estranha por David Koresh, líder espiritual e doido varrido que conduziu os seus acólitos à morte no célebre massacre de Waco, Texas, sendo os caleidoscópios da capa do disco uma homenagem ao (mau) génio de Koresh. Consta igualmente que 'Julie and Candy' e 'Energy Warning' teriam a capacidade de provocar danos misteriosos e inexplicáveis nos seus ouvintes. Facto que nunca foi efectivamente comprovado.
À partida supõe-se que um disco capaz de originar investigações tão dedicadas nunca poderia ser mau, embora se adivinhe que nada disto seja de facto verdade.
Uma tentativa de escalpelização apressada - portanto, condenada ao fracasso - das músicas indicaria que temas como 'Music is Math', 'The Smallest Weird Number', 'a is to b as b is to c' ou 'Alpha and Omega' são açúcar para os ouvidos apreciadores de matemática. 'Gyroscope', '1969' e 'You Could Feel The Sky' formulam convites irrestiveis a psicadelismos pastorais fora de época. 'The Devil Is In The Detais' e 'Beware the Friendly Stranger' assustariam o mais ingénuo nas noites abafadas de trovoadas de Verão. E 'The Beach at Redpoint' seria um apelo implícito ao romantismo nostálgico.
Uma das minhas definições preferidas de 'Geogaddi' sugere o disco como banda sonora para hippies serôdios montados em tapetes voadores num ambiente de ficção cientifica, aos solavancos entre texturas electrónicas rumo ao espaço sideral. Ou uma hipotética e improvável mistura das personagens de 'Galáctica', 'A Casa na Pradaria' e 'O Barco do Amor' na mesma série televisiva, observada num ecrã futurista.
'Geogaddi' é uma escolha óbvia por ser um daqueles discos que soam familiares e intímos mesmo aos ouvidos menos habituados à música electrónica. Só a capacidade rara para reunir a admiração incondicional de diferentes "tribos" - mesmo a de quem habitualmente acusa a música electrónica de ser impessoal e agreste - bastaria para lhe conferir o título de futuro clássico.
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Agora as boas notícias:
Boards of Canada will be releasing their 3rd LP on Warp Records on October 11, 2004. It will be a *double album*. The first CD is called 'Hypercube' and features 17 tracks, all written and arranged by Mike Sandison. The second CD, titled 'The Sky Above,' features 13 tracks, all written and arranged by Marcus Eoin. The sound in 'Hypercube' is rumored to be heavily guitar-based, with much raga-like droning and African drumming. It is said to contain several non-vocoded *vocal* tracks. Alternatively, 'The Sky Above' is said to have an eclectic mix of psychedelic melodies and bombastic beats, infused with samples from Mike and Marcus's recent journey to the world's most beautiful natural parks.

ch-check it out
O novo disco dos Bestie Boys está, segundo creio, nas lojas desde segunda-feira mas acabou há breves instantes de aterrar no meu desktop por .. erm ... acidente.
Diz-se, por piada, que o primeiro single extraído do novo álbum dos Beastie Boys é a melhor música que Mike D, MCA e Ad-Rock fizeram nos últimos seis anos. E eu concordo em absoluto.
Classic shit!

sexta-feira, junho 11, 2004

Robag Wruhme . Wuzzelbud "KK"



Real name:
Gabor Schablitzki

Discografia:
Backkatalog, 12" (Musik Krause)
Kopfnikker, 12" (Musik Krause)
Polytikk EP, 12" (Musik Krause)
Jena Makks EP, 12" (Milnor Modern)
Wuzzelbud "KK", 12" (Musik Krause)
Wuzzelbud "KK", 2x12" (Musik Krause)
Wuzzelbud "KK", CD (Musik Krause)

Roland TB-303. Techno house austero. Ritmos minimais. Baixos profundos. Schaffel. Micro-house.

Uma locomotiva a vapor com uma fiada de pesados vagões, longa e compassada, dirigida por um maquinista com os músculos faciais paralizados durante um movimento descontrolado. Uma música áspera, personalizada, miniaturizada, tensa. Absolutamente imperdível.

Bloco de notas:
303
Schaffel Beat Resuscitates Techno

Fabrice Lig . My 4 Stars



Fabrice Lig - aka Soul Designer - é um dos produtores actuais mais prolíficos da cena techno, com recentes edições em labels como a F-Communications, a KMS, a Playhouse ou a Raygun.
'My 4 Stars' tem o selo da Kanzleramt de Heiko Laux e é um dos discos mais elogiados do momento. Pela utilização subtil do groove funky característico do techno de Detroit suscitou aplausos imediatos de pessoas como Mike Banks, o insuspeito cérebro da Underground Resistance.
'My 4 Stars' é um disco variado, que celebra o hedonismo através de melodias simples e viciantes, com alguns potenciais êxitos em 'In My Arms' (com um sample vocal de 'Video Killed the Radio Star' dos Buggles), 'My 4 Stars' (versão cantada do tema que inicia o álbum), 'Wait For March' (ondas sintéticas para finais de tarde sossegados) ou no house de 'Back to Tha D' (um ritmo insidioso sobre o qual são consecutivamente projectados pequenos instantâneos inspirados nas experiências de Akufen).
Mas, feito o balanço final, 'My 4 Stars' revela-se mais próximo das pistas de baile de Ibiza do que das dancefloors da europa continental, acabando por desiludir na sua incapacidade para ultrapassar as limitações do ritmo 4 por 4 ou quando - lá pela terceira audição - se descobre que, para além da utilidade recreativa, não sobra objectivamente mais nada.

quarta-feira, junho 09, 2004

Matthew Dear . Leave Luck To Heaven



'Leave Luck To Heaven' ainda está em fase inicial de escuta e sob lenta assimilação, mas as palavras de Jorge Manuel Lopes no Blitz desta semana confirmam a primeira impressão de ser um disco de consumo obrigatório.

"O que impressiona subliminarmente na produção de Matthew Dear é a relação próxima e distorcida com a voz humana, manipulada e desmantelada com atenção de médico legista. Matthew Dear umas vezes enterra e dissolve palavras, outras extraia-as cirurgicamente de uma sequência sonora até sobrar não mais do que a respiração entre elas e o vazio circundante."
JML


Como diria qualquer blogueiro que se preze,
'Voltarei em breve a este assunto'.

Junior Boys . Last Exit



A midnight drive in your private limousine, through the rain-soaked city: neon lights reflect off the tinted windows and liquid patterns play upon the dashboard and the lap of your sweetheart beside you. In the hopelessly expensive stereo system, providing the soundtrack for this Don DeLillo-esque scene, is the wondrously suave electro pop of Birthday by Junior Boys.
em dustedmagazine.com

Hamilton, Ontario, has until now boasted Daniel Lanois as its most famous export but Canada’s ‘Steeltown’ may find itself in the spotlight once again with the release of the Junior Boys’ Last Exit. Jeremy Greenspan and Johnny Dark formed the group there in 1999 and, after some protracted delays, released the 2003 EP Birthday to strong acclaim. Not only did it establish the group’s lush electropop sound but it raised the Boys’ profile further with the inclusion of a Fennesz remix. Much of that EP reappears on Last Exit which finds Greenspan, Dark, and Matt Didemus spreading their distinctive style across ten tracks. The group’s beguiling, experimental synth-pop is an unusual amalgam of disparate elements: fragile, wistful vocals (courtesy of lead vocalist and principal songwriter Greenspan), Timbaland-styled beats, and reverberant dub production treatments. Instrumentally, echoes of Human League and Depeche Mode surface while, vocally, Greenspan’s soft, sensual style recalls a less affected David Sylvian. The opener ‘More Than Real’ immediately establishes the Junior Boys template by merging funk drum programming with burbling synth squiggles. ‘Under the Sun’ and ‘Three Words’ are dreamier pieces suffused with ambient auras, while the ‘80s electropop style of ‘Birthday’ pairs hushed vocals and lovelorn lyrics with glistening synths. The minimal techno opening of ‘Bellona’ suggests a Kompakt influence but the song turns soulful as Greenspan’s vocal moves from a lower register in the verse to a higher one in the euphoric chorus. The best tracks are ‘Last Exit,’ whose spacious arrangement features whispered vocals, an inventive stop-start funk beat, and dubby echo patterns, and the soaring electropop of ‘Teach Me How To Fight’ with its buoyant vocal chorus. As satisfying as Last Exit is, one thing in particular would make it better. The sax flutter on ‘When I’m Not Around’ suggests that the group’s sound would be enriched by other instruments beyond the drum programming and electronics that dominate. Imagine how the supple warmth of an acoustic bass would deepen the tracks, for instance, or how horns might complement Greenspan’s delicate vocal style. That’s a modest criticism, however, of an otherwise refreshing release. It’s a largely successful re-imagining of ‘plastic soul,’ the term Bowie infamously coined to describe his Young Americans style.
em absorg.org


Após a edição dos ep's 'Birthday' e 'High Come Down' no final de 2003 e do imediato reconhecimento crítico dos sectores mais esclarecidos, 'Last Exit' tornou-se um dos acontecimentos discográficos mais esperados dos últimos meses.
'Last Exit' é um produto do tempo que vivemos. Isto é, na sua forma de combinar letras relativamente simples, cantadas numa voz simultaneamente glacial e introspectiva, suportada por batidas esqueléticas, grooves disco e sintetizadores espectrais, relembra diversas outras referências mas exibe uma actualidade que só poderia ser a do nosso tempo.
Imaginam-se as produções esquemáticas de Timbaland ao serviço da voz nostálgica de David Sylvian ou do sentido pop dos New Order. Ou os épicos dos Depeche Mode (que, nem de propósito, eu sempre odiei) reformulados pelo techno-dub da Basic Channel, caso Vladislav Delay resolvesse produzir uma faixa de two step.
É possível estabelecer vários pontos de contacto, mas aquilo que se pode ouvir aqui é garantidamente único e está para além da fórmula 'X a fazer o que Y costuma fazer com a colaboração de Z'. Mais uma vez, a diferença está no cuidado com que são trabalhados os detalhes mais insignificantes; sob uma música de apelo imediato esconde-se uma estrutura que se molda e transforma permanentemente e que revela pormenores diferentes em cada audição.
No fundo, como uma frase no website dos Junior Boys define de forma certeira, 'Last Exit' reinventa a pop electrónica - vilipendiada desde os tempos dos Pet Shop Boys - da mesma forma que 'Vocalcity' de Luomo alterou o rumo da house.
Entretanto o meu instinto vai-me dizendo que este é bem capaz de ser o melhor disco do ano e que é prudente usufruir deste momento de revelação antes que chegue o alcatrão e as penas das primeiras vozes discordantes.
.
01More Than Real
02Bellona
03High Come Down *
04Last Exit *
05Neon Rider
06Birthday *
07Under The Sun *
08Tree Words
09Teach Me How To Fight
10When I'm Not Around
* previously available

terça-feira, junho 08, 2004

Busdriver . Cosmic Cleavage



“I don’t love hip hop.
I don’t even like it.
Let me break it down into its smallest form
For everyone in your college dorm.
I don’t love it
I don’t dedicate hours every day
To writing sappy poetry in its name.
Okay, maybe I do.”
em “Rap Sucks”


Busdriver é uma das figuras de proa da cena underground de Los Angeles, com epicentro no Goodlife Café, de onde surgiram nomes como o dos Jurassic 5, Freestyle Fellowship ou The Pharcyde e tem um longo currículo de colaborações, do qual constam participações em discos de Aceyalone, Abstract Rude, Daddy Kev, Omid, Paris Zax ou Daedelus.
Em 2002 editou 'Temporary Forever', álbum que rapidamente se converteu num sucesso e foi considerado como disco do ano por vários produtores e publicações ligadas ao hip hop underground californiano.
Mais uma vez, Busdriver surge com um discurso nonsense irónico (snapping on students who think they own the music because their jeans are too big), crítico e socialmente interventivo, suportado pelo génio inventivo de Daddy Kev na produção e por D-Styles (membro dos Invizbl Skratch Piklz e dos Beat Junkies) nos turntables.
Originalmente concebido como a banda sonora para um filme que nunca chegou a existir, 'Cosmic Cleavage' tem o atractivo de conter uma excepcional selecção de samples de jazz/bebop, conjugados de forma insuspeita e imaginativa, numa construção que se afasta das bases musicais dos cLOUDDEAD mas que não anda muito longe do temperamento peculiar destes últimos. Ocasionalmente entusiasmante (ouça-se 'Kev's Blistering Computer Tan And Driver's', 'Nagging Nimbus' ou a improvável mistura entre os Art Ensemble Of Chicago e os Velvet Underground contida em 'Staring At The Sun) e inclassificável na sua heterogeneidade, fica a sensação que algumas boas ideias poderiam ser mais desenvolvidas e que, paradoxalmente apesar da curta duração, é um disco que corre o risco de se tornar rapidamente cansativo. Ideia reforçada pela voz monocórdica e de fôlego limitado de Busdriver. Apesar disso, vale a pena a escuta.

segunda-feira, junho 07, 2004

Entrevista com Richard Lloyd dos Television

(...)
Ouvem as bandas que vos citam?
Não.
Porquê?
É uma pergunta engraçada, mas a explicação é simples: o meu gira-discos avariou-se, e tenho demasiado que fazer para me dar ao trabalho de comprar um novo.
E CD, não?
Não compro CD. Ouço música na rádio e na televisão, ou quando me oferecem CD e me dizem que tenho mesmo de os ouvir. Fora isso, não ouço muita música. Tenho outras coisas para fazer. Os músicos profissionais deixam de ouvir música porque não conseguem fazê-lo da mesma forma descomprometida que os não-músicos ouvem. Os não-músicos não têm esse poder computacional no ouvido que, uma vez desenvolvido, não se pode desligar.
(...)


Desconfio que um músico que não ouve muita música ou é um génio ou está reformado. A verificar-se a segunda hipótese não lhe faltaria tempo para comprar um novo gira-discos.
p.s. Podem ler uma opinião sobre o concerto de sábado na Ampola.

Serralves em Festa
Esta tarde, Serralves mais parecia uma passagem de modelos de vestuário chunga. E daí talvez não.
Scanner e Mouse On Mars é que terão que ficar para uma próxima oportunidade; os bilhetes/convites esgotaram, estavam ainda umas valentes cem pessoas à nossa frente. Aceitam-se relatos do evento.

sábado, junho 05, 2004

Entrevista com Sole

(...)
-Já que estamos a falar genericamente sobre hip hop, que diagnóstico faz do estado actual do hip hop?

-Ah… É bom. Quero dizer, esteticamente, enquanto artista, gosto de ouvir Jay-Z e Eminem. Acho que eles fazem bons temas. No que diz respeito à forma, à maneira como constroem os temas, acho que é muito interessante. Até algumas coisas de DMX. Gosto de jiggy rap, tem um bom som. Tem energia, é simples, dramático, as partes vocais são claras. Eu gostava que as minhas partes vocais fossem tão claras como as do Eminem ou do Jay-Z. Esforço-me por fazer música tão clara e concisa como essa. Mas é difícil fazer música assim… A não ser que se esteja a falar de carros… Mas… Acho que o hip hop hoje em dia, na sua maioria, é fraco. É vazio, está diluído, convoluto e invertido sobre si próprio. O que em tempos foi underground é agora mainstream, o underground de hoje é financiado por grandes editoras e as pessoas que são verdadeiramente independentes, as que estão a fazer realmente boa música, permanecem fechadas nos seus quartos, ninguém as vai ouvir e ninguém vai editar o seu trabalho, nem comprar a sua música. É impossível surgir outra Anticon. A Anticon é a Anticon porque nós começámos no momento certo. Qualquer pessoa que tente fazer o que nós fizemos não o vai conseguir porque a indústria está completamente fechada. A não ser que tenha dezenas de milhares de dólares, é impossível.
(...)

Arovane . Lilies



Arovane é o alemão Uwe Zahn, nome bem cotado no circuito da idm ambiental e alvo de um culto underground tão dedicado quanto discreto. 'Lilies' é o seu quarto álbum e pretende resumir uma viagem que o seu autor fez ao Japão, numa colecção de nove temas e trinta e sete breves minutos, combinando as habituais melodias etéreas, ritmos discretos, acordes de piano e electrónica ambiental, a relembrar dezenas de outras referências, desde os Autechre do início de carreira, até às edições mais recentes de Phonem, Christian Kleine, Bola, Herrman & Kleine, Plaid ou Phoenecia.
'Lilies' é um disco que traz pouquíssimas evoluções e picos de interesse, demasiado previsível apesar de conter música que já foi inovadora, e que tem como principal novidade o facto de Uwe gravar pela primeira vez um tema cantado, no caso pela vocalista japonesa Kazumi. A excepção ao estado de déjà vu generalizado surge no tema título, 'Lilies' e na música seguinte, 'Tokyo Ghost Stories', altura em que pela primeira (e, como irei descobrir, última) vez, Uwe consegue transportar o ouvinte da indiferença profunda para um estado semiconsciente, utilizando, respectivamente, o processamento electrónico de orquestrações nostálgicas e um lento ritmo hip hop, lânguido e acolhedor. No fundo, 'Lilies' ouve-se com agrado mas é perseguido pela sensação de não passar de música decorativa para ambientes futuristas, uma espécie de easy listening do novo milénio.
Aparentemente, após o regresso de Tóquio, Uwe desmantelou o seu estúdio em Berlim e retirou-se da música por tempo indeterminado, alegando esgotamento criativo. Algo que 'Lilies' já demonstrara ser bem evidente.
+
arovane.de

De regresso...
...vivo e de boa saúde, como se quer.
Lentamente este belógue irá retomar a velocidade de cruzeiro.