quarta-feira, março 31, 2004

Xela . Tangled Wool



'Tangle Wool' funciona como uma viagem chata de comboio onde, aleatoriamente e em qualquer momento, um rápido vislumbre do exterior pode revelar um cenário de rara beleza, exponenciado pela banda sonora apropriada.
Posto isto, resta acrescentar que discutir se o mundo precisa, ou não, de mais uma dose de música electro-acústica harmoniosa se assemelha ao interesse que teria em assistir a um debate sobre penteados ridículos, sentado entre dois homens de capachinho.

Collecting The Kid



Depois de 'Oxtrumentals' e 'FanDam Plus' - respectivamente, a versão em bruto de 'Cold Vein' dos Cannibal Ox e de 'Fantastic Damage' - um novo disco de instrumentais de El-P é uma surpresa quase tão fascinante como descobrir que um ano bissexto ocorre de quatro em quatro anos ou uma fatalidade tão inevitável como, mais dia menos dia, não ter trocos para pagar o café.
'Collecting The Kid' é a compilação que faltava, reunindo vários pedaços da fina tapeçaria sonora que El-P compôs em colaboração com alguns companheiros da editora Definitive Jux: 'Post Mortem Use' vinha incluído em 'I Phantom' de Mr.Lif, 'The Dance' já estava em 'The End of the Beginning' de Murs, 'Jukie Skate Rock' tem a participação de Camu Tao dos estimáveis S.A. Smash, 'Sunrise Over Brooklyn' recupera o melhor momento da experiência falhada no novo volume da Blue Series Continum, 'Time is Running', 'Constellation Recall' e 'Day After the Day After Extracted' são três excelentes temas que desconhecia de todo e revelam as características habituais nos instrumentais de P. Uma música virtuosa e rica em detalhes, uma sub-espécie de hip hop industrial, baseado num imaginário sci-fi, à primeira vista obscuro mas a que se adere de forma progressiva e incondicional.
No final é possível concluir que El-P é, acima de tudo, um produtor excepcional. Mas será assim tão necessário relembrar uma vez mais esse facto inquestionável?

segunda-feira, março 29, 2004

Adenda ao #4



De volta aos Spektrum. As referências apontadas em #04 batiam (quase) certo - pós-punk, vinte anos depois, na década de todas as recuperações. Falar nos contemporâneos Super_Collider e Maurice Fulton também não virá completamente a despropósito. Baixo, batida, electrónica e ... a voz. Uma voz esquizóide, extravagante, irreconhecível; entre Sméagol, Roisin Murphy e Siouxsie Sioux.

Favourite tunes:
2. Breaker (broken album edit)
4. Kinda New
6. Music Alchemy
8. Freefall
10. Listen Girl
11. Country Licks
13. Lychee Juice
14. Low Down
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15. Alguns minutos após o final, entra em cena a explosiva remix de Villalobos para ‘Freakbox’ (faixa escondida)

sexta-feira, março 26, 2004

Agenda
Os Telefon Tel Aviv vão estar no Porto para um concerto no Aniki-Bóbó, dia 2 de Abril. O tal dia de Kraftwerk no Coliseu dos Recreios. O tal dia de Michael Mayer no Swing. (sim, eu estou-me a rir enquanto escrevo isto mas é por outras razões. A propósito, já deram uma vista de olhos ao forum sons, hoje? Se não deram, deixem estar. O mais provável é que a piada tenha passado.)

Nos phones: Dust Sucker 'Love Me' - 5:39'', retirado de 'Fabric 013'
Pergunto-me de que planeta terá vindo esta música.

#05
Ohhla.com é um excelente site - actualizado de forma permanente e de fácil consulta - com letras de hip hop, para todos os gostos e feitios, desde Atmosphere ao lourinho Marshall Mathers, passando pelo eterno e fundamental Afrika Bambaataa.

Um excerto, ao acaso *cof cof*
Party people
Party people
Can y'all get funky?
Soul Sonic Force - can y'll get funky?
The Zulu Nation - can y'll get funky?
Yaaah!
Just hit me
Just taste the funk and hit me
Just get on down and hit me
Bambaataa's jus' gettin' so funky, now, hit me
Yaaah!
Just hit me


eheh ... Não há amor como o primeiro.

quinta-feira, março 25, 2004

#04
A ante-crítica fala em lascívia, baixos demoníacos, ritmos demolidores. 1/4 de ESG, 1/4 de Liquid Liquid, 1/4 de Grace Jones e 1/4 de Johnny Rotten (e lá se foi a percentagem para a originalidade). Boas influências de Gang of Four, A Certain Ratio e Siouxsie Sioux. Também fala em deep-house e em electro-pop mas shiuu ... não contem a ninguém. Parece tudo muito visto, não é? A velha cantiga.
No entanto - e apesar de, conscientemente, nunca ter ouvido nada deles - estou com grande expectativas para o disco dos Spektrum. Garanto que o facto de 'Enter the ... Spektrum' 'ser editado pela Playhouse dos Isolée, de Captain Comatose e de Villalobos, não tem nada, naaaada, a ver com tamanha confiança na probabilidade de que venha a gostar. Claro.
Whatever Lola Wants!

No leitor: Daedelus 'Taking Wing' (Daedelus) - 1:58'', retirado de 'Of Snowdonia'
Vai um sambinha robotizado? : )

quarta-feira, março 24, 2004

Oneida . Secret Wars



Diz a Pitchforkmedia
One of the greatest benefits of tracking Oneida's career-to-date has been the relentless refinement of the 60s-influenced psych juggernaut they got rolling into a mesmerizing drone-rock hybrid seven years ago; every album has demonstrated constant development toward their uniquely iterative rock dynamic.

E eu, como não conheço os discos anteriores da banda de Brooklyn, acredito.

Diz a Dusted Magazine
We’ve reached a strange crossroads in the rock music world. No band ever sounds original, at least according to promo material and reviewers. As a music director at a college radio station, I see so many records that are described as sounding like such and such a band of yore who sound very little like the bands in reference. Critics don’t help any either. Instead of looking at what a record is trying to do, they so often turn to talking about who else the band sounds like, for lack of any real, concrete statements. We’re all vulnerable to it (hell, I dropped four band names in this review alone), but that doesn’t really help the state of music. If every band out there sounds like the Pixies, the Fall, PiL, or Neu!, then rock music has reached a sad, uncreative state. Association does not an album (or review) make.

Ponto para a Dusted.

E acrescenta o mesmo escriba mais à frente
Back to Oneida,

Pois.

Escreve a Spin
They channel experimental noise, acid-drenched riffs, and live-show spontaneity into a record of brilliantly crafted nuggets of lysergic rock that is easily their most consistent effort to date.

Alto lá. Aqui é capaz de haver um certo exagero.

Mas como sempre é preciso ouvir opiniões contrárias. Diz o Guardian
In light of Rough Trade's current success with the Strokes and the Libertines, it's easy to forget that, like all indie labels, it also releases obtuse obscurities that are destined to be heard by three men and a dog.

Corro o risco de fazer nesta história toda o papel de cão (béu béu, que piada bestial).

O tom de humor, às vezes, vem donde menos se espera. Não é o caso. Playlouder dixit
They actually sound like they've elected to live in a cocoon full of aromatic candles, a huge collection of musty records, some drugs, some books, and a collection of mid eighties Peel sessions alphabetically labelled on TDK C90s.

ahah!

Teoria geral: 'Secret Wars' é um disco que percorre caminhos do art rock, do terrorismo sónico, do krautrock, do lo fi e do garage, até terminar em catorze minutos de baixo groovy e numa conjugação guitarra, bateria e teclados muito Yo La Tengo dos tempos do 'Electr-o-Pura', formando um momento neo-psicadélico que se espraia, espraia até abusar da sorte e se tornar redundante, como uma bolacha de chocolate com recheio de cacau misturado com açúcar.

Ideia solta e breve momento de psicologia de algibeira: 'Secret Wars' traz como bónus o facto de me fazer recuar dez anos, até à altura em que os Sebadoh eram os meus heróis, a sua tristeza ambígua - simultaneamente fatalista e inconformada - a minha filosofia de vida e o air guitar numa raqueta de ténis o meu entretenimento solitário preferido.

Destaques maiores: 'Wild Horses' e '$50 Tea'. Dois temas fabulosos - respectivamente, com um solo de guitarra idiota *elogio* a separar um refrão frustrado de alguns versos deprimidos e um ritmo frenético, proto-punk, proto-disco, proto-tudo, completamente não síncopado e impróprio para quem sofre de arritmias cardíacas.

Próxima estação: Charalambides. Deerhoof. O 'Fabulous Muscles' dos Xiu Xiu. O
'Hypnotic Underworld' dos nipónicos Ghost. Acreditar que os Strokes nunca existiram. Mas, por agora, uma coisa de cada vez.

Michael Mayer


(Mayer numa divertida pose a emular Richard D. James)

Um dos DJ's preferidos da casa vai estar por cá no próximo mês para duas actuações: no primeiro de Abril no Lux e, no dia seguinte, no Swing, num evento organizado pela Matéria Prima.
Mau timing. Dia um vou estar no Porto e no dia dois tenciono - se os bilhetes não tiverem esgotado ontem - estar em Lisboa, para ver o concerto de 1/2 dos Kraftwerk originais. *suspiro*

Entretanto, na próxima sexta-feira no Triplex, teremos
NOVA HUTA [DE] - Live Act
NEOANGIN [DE] - Live Act
+
TRASH CONVERTERS - Dj Set
naquilo que promete ser uma noite bastante ... hum ... gira?
Dress code: fatiota de coelho.
: )

segunda-feira, março 22, 2004

Superpitcher . Here Comes Love



Já com um par de 12'' editados pela Kompakt e uma série de remisturas assinadas em nome próprio, 'Here Comes Love' é o primeiro álbum para Aksel Schaufler, dj e produtor alemão, fã dos Roxy Music e dos Prefab Sprout, nas suas palavras not really a rave kid mas, ainda assim, destacado membro de uma das editoras mais emblemáticas da dance scene do momento.

Excluindo 'Traüme' - 'Sonho' em português, um dispensável hino kitsch para bailaricos parolos - 'Here Comes Love' é uma mistura mid-tempo competentíssima entre elementos techno e uma sensibilidade insidiosamente pop. A guardar na prateleira dos discos sensuais, mesmo à mão de semear e com resultados imediatos, algures entre 'The Present Lover' de Luomo e 'After Love' dos Closer Musik.

I want happiness/I seek happiness/To cause you happiness/To be your happiness. Bonito, hein? : )

Last night a DJ saved my life



A versão de Morgan Geist (dos Metro Area) para 'Take Me Out' é bem capaz de transformar por uns breves momentos a dancefloor mais entediante numa máquina do tempo muito especial, celebrando - vinte anos depois - um improvável encontro entre Giorgio Moroder e os The Smiths. Ah ... e o original dos Franz Ferdinand também não vai nada mal.

Scissor Sisters



É preciso ter estilo para transformar 'Comfortably Numb' dos Pink Floyd num falsete disco groove excessivo, capaz de envergonhar os próprios Bee Gees, mas é urgente desmascarar essa ideia que o Elton John ou os Queen alguma vez foram cool. Ok?

sexta-feira, março 19, 2004

Asheru and Blue Black of the Unspoken Heard. 48 Months

E agora algo completamente diferente. Nice and easy...



Cronologicamente pode parecer confuso mas não tem nada que saber: editado no final de 2003, '48 Months' reúne a produção da dupla Asheru e Blue Black nos quatro anos anteriores (1996-2000) à posterior edição do - vai uma aposta? - futuro clássico 'Soon Come' (2001).

O que esperar então de um álbum que faz a celebração do hip hop como algo que "will never leave its rightful rulers /that’s why I make music for b-boys and old-schoolers”?
Sem surpresas: a exaltação do underground dopado, hinos jazzy para festas, um ou outro momento de 'consciencialização', mas sempre com um sorriso nos lábios e uma rima rápida na ponta da língua.
'48 Months' não tem momentos baixos e revela uma coerência invulgar para um disco deste tipo mas é impossível não destacar o fantástico 'Trackrunners, com J-Live e Grap Luva - Luva, pá? - a colaborar.
Os fãs dos A Tribe Called Quest vão achar este disco essencial. Os outros, bem, os outros também deviam achar. : )

quarta-feira, março 17, 2004

Deadbeat . Something Borrowed, Something Blue



Ontem, pela primeira vez em meses, saí do trabalho ainda de dia, estava calor e, no ar, respirava-se um adociado e peculiar cheiro, que a minha narigueta citadina presumiu provir das pequenas, e ainda raras, flores que despontam das árvores do parque de estacionamento...
Acabaram de ler o primeiro momento confessional deste blog. : )

Isto a propósito de serem poucas as coisas (legais...) que me deixam num estado de letargia progressiva e descontracção absoluta (...e ilegais, também). Uma delas é o calor do final de uma tarde de Verão antecipado. A outra é a música de Deadbeat.
Algo como ecos profundos (existirá alguma coisa parecida com 'eco superficial'?) que parecem fazer ping-pong num ponto remoto dos nossos sentidos, batidas estendidas até ao limite formando gradualmente complexos ritmos que sustentam linhas de baixo cheias de reverb e a textura rugosa da electricidade estática. Tudo parece convergir para uma celebração hipnótica do *inspira* dub numa pista de dança glitch *expira*. 'Something Borrowed...' respira Kinsgton e Berlim; transpira sensualidade e volúpia; inspira alvoroços enfraquecidos e inquietações tranquilas; tem um pé na fina areia da praia onde o mar enrola e outro na superfície gelada de uma tundra habitada apenas por focas. 'Something Borrowed...' flui, calma e lentamente, do cérebro para os membros locomotores. E uma vez lá chegado faz o caminho inverso, sem nunca deixar de nos estar no sangue. De volta ao local do crime.

terça-feira, março 16, 2004

Greg Davis . Curling Pond Woods



Laptop folk. Música acústica, maioritariamente instrumental; influências de Beach Boys, Nick Drake e da psych-folk da Incredible String Band; esboços electrónicos, drones discretos,e - à falta de uma tradução para português que não seja ridícula - field recordings de grilos, pássaros e outros animais adoráveis.
'Curling Pond Woods' resvala perigosamente para a iminente catástrofe auto-tolerante de quem se encontra preso numa teia formada pelos lugares-comuns do género, mas acaba por se salvar, quase no derradeiro instante, graças a um milagroso golpe de asa que dá pelo nome de 'Curling Pond Woods' (a música, não o álbum): seis minutos perfeitos que começam num bosque, com guitarra acústica e piano, passam por uns breves instantes de drones cacofónicos e desaguam numa melopeia primaveril, feita à base de slide guitar, instrumentos de sopro e palminhas joviais. Uma espécie de conto do Capuchinho Vermelho, mas com um final feliz ... para o lobo. Esta música confere o pretexto para dar uma segunda oportunidade a um disco que parecia perdido mas que, numa nova perspectiva, se revela como uma experiência mística/intima/emocional bem mais consistente e compensadora do que uma primeira audição desatenta fazia prever. Electrónica bucólica e campestre, mas feita de uma simplicidade corrompida. A edição é da Carpark.

segunda-feira, março 15, 2004

Plastikman . Closer



De novo em stock, o techno espectral de Richie Hawtin.

Espectro
do Lat. spectru
s. m.,
imagem fantástica de pessoa falecida;
fantasma;
aparição, visão;

Fís.,
padrão produzido quando são separadas radiações electromagnéticas nos seus comprimentos de onda constituintes (frequências).
— solar: imagem com as cores do arco-íris resultante da decomposição da luz solar, através de um prisma óptico;


Imagino os semivivos do mundo de UBIK a dançar, suspensos ao som desta música.

sexta-feira, março 12, 2004

#03
A boa notícia, Jamie Lidell (uma das metades dos fantastiques Super_Collider) vem tocar a Portugal.
A má notícia, para um concerto em Lisboa.
A boa notícia, os Xiu Xiu vêm tocar a Portugal.
A má notícia, para um concerto em Lisboa.
A má notícia, os Kings Of Leon vêm tocar a Portugal.
A boa ... ok, acho que já perceberam a ideia.

Notícia do Blitz: o antigo cinema Passos Manuel vai ser transformado num espaço multi-funções com especial predominância para concertos - ou performances - de música electrónica. Cada vez mais afastada dos grandes concertos, dos grandes nomes e dos festivais mediáticos, (e como era bom dizer que tal afastamento é provocado por vontade própria) a cidade do Porto tem um pequeno mas dinâmico e aguerrido conjunto de pessoas que acreditam existir um mercado nas margens da cultura mainstream. E novos espaços - a acrescentar ao Aniki, ao Indústria, ao Auditório de Serralves, ao Mercedes, ao Maus Hábitos, ao Triplex, ao 31, ao Hard-Club, ao Coliseu, ao Sá da Bandeira, ao Rivoli ou à futura Casa da Música - continuam a aparecer. Não me consta que haja alguma má notícia associada a este facto. Mas no Porto nunca se sabe.

Publicidade institucional...

...a um dos dois únicos clubes a que pertenço. :)



Tenho outros planos para amanhã à noite (olé Porto, olé!) mas que seja a primeira de uma série de sessões memoráveis.

quinta-feira, março 11, 2004

Múm . Summer Make Good



'Summer Make Good' é, na melhor das hipóteses, um disco que envergonha a palavra 'piegas'; bonitinho, bem intencionado mas inofensivo. Ideal para quem ainda tem paciência para sininhos, xilofoninhos, violoncelinhos, acordeõezinhos e artefactozinhos vários, que apelam directamente ao imaginário de fadinhas bondosas, duendezinhos saltitões e animaizinhos que falam. Enfim, boa musiquinha de fundo para uma noite passada a ver a colecçãozinha de postalinhos ilustrados com paisagenzinhas nórdicas que o tiozinho arruma junto à lareira. Só para que conste, eu até gosto de animais, paisagens nórdicas e lareiras. E dos outros discos dos Múm.

Discografia seleccionada:
Yesterday Was Dramatic Today is OK (2000)
Finally We Are No One (2002), que já revelava alguns sintomas do algodão delico-doce que aí vinha.

Bobby Conn & the Glass Gypsies . Homeland



Prog-metal-funk-glam-rock e indumentária anos 70? Visual hermafrodita e letras panfletárias? The Darkness com as diatribes políticas de Michael Moore? O 'Dark Side Of The Moon' na versão dos Mötley Crüe? Porreiro. Mas agora conta-me outra piada, Gino Vannelli.

quarta-feira, março 10, 2004

cLOUDDEAD . Ten



O novo disco de Doseone, why? e Odd Nosdam (músicos e mc's de voz anasalada e respectivo produtor) enferma dos mesmos males do seu antecessor: uma sucessão de ideias esquizóides (parte indie), esboços de pesadelos incoerentes e sem sentido (influência electrónica), colados de forma imaginativa mas desconexa (segmento hip hop). A grande vantagem é que os temas são mais curtos, simplificados, quase básicos - o que, neste contexto, significa a solução mágica para uma personalidade incapaz de sair da sua própria inconsequência. O resultado é que, por entre momentos de pura dislexia sonora, os cLOUDDEAD assumem por uma vez a importância do groove como motor da sua música e exploram uma fracção de melodia o tempo suficiente para o ouvinte assentar ideias e abanar a cabeça ao ritmo do boom bap. Mas nada de equívocos. Apesar de mais calmos e disciplinados, os cLOUDDEAD mantêm as suas características intactas: não dão para dançar, assemelham-se a uma versão dos Pavement mantida a samplers (ou a versão hip hop dos Beach Boys), estão prontos a desafiar os espíritos púdicos e conservadores (os orgãos de igreja estão lá só para enganar), têm o aspecto de geeks rebeldes de província que ninguém leva a sério mas de quem toda a gente tem receio.
No final, após 15 minutos de silêncio que redundam num derradeiro suspiro nonsense, pressentimos que alguém no escuro nos deu um mapa para encontrarmos a saída do labirinto. Resta saber se a mente tortuosa dos cLOUDDEAD terá mesmo um caminho de saída.
Conclusão: existisse um critério rígido de selecção, tivessem editado apenas 'Pop Song', 'Son of a Gun ', 'Rifle Eyes', 'Dead Dogs Two' e '3 Twenty' e 'Ten' seria um EP assombroso.

segunda-feira, março 08, 2004

God damn it!

Se alguém me souber explicar porque raio é que nas estatísticas do technorati tenho 24 inbound links a partir deste mesmo site e ainda me fizer o favor de explicar como é que eu consigo resolver este ligeiro erm ... qui pro quo (é latim :P) para o mail que aparece algures nos links, tem aqui um grande amigo para o resto da vida.

domingo, março 07, 2004

Liars . They Were Wrong, So We Drowned



Sobre o último disco, escreve Miguel Francisco Cadete na edição mais recente do Y: Para trás não ficou nada. É uma batida tribal, um grito primal ou uma guitarra dissonante que estão ali para destruir qualquer edifício reconhecível. E começar tudo de novo. Em "There Wrong,..." não existem canções, cada tema caminha de espasmo em espasmo, obrigatoriamente rumo ao abismo final da impossibilidade de prosseguir. A circularidade minimal da secção rítmica só impõe o fim quando a impossibilidade de continuar se tornou uma realidade óbvia. Canções, nem vê-las.

É exactamente por estas razões - que como se lê no resto do texto, são factores mais do que suficientes para MFC desvalorizar o disco - que eu gosto de "They Were Wrong, So We Drowned". Aliás, atrevo-me mesmo a afirmar - com o perigo do rídiculo que afirmações peremptórias deste tipo carregam - que os Liars irão ser um dos grupos rock mais citados e reverenciados daqui a 20 ou 30 anos. Afastando-se do simples funk + punk + new-wave onde se pareciam movimentar, esticando os limites do noise e dos ritmos tribais e/ou dançáveis até à auto-implosão, consumindo os fundamentos da sua música até deixar um monte fumegante de destroços irreconhecíveis, os Liars irão ter - se é que já não têm - um papel essencial, semelhante ao de bandas seminais como os Velvet Underground, os Sonic Youth, os The Fall ou os Gang Of Four, na definição de novos caminhos. Venha o terceiro disco e a galeria dos imortais será deles. Para já, salvo algumas excepções, a crítica parece não ter gostado.

sexta-feira, março 05, 2004

Midwest Funk



Na era do comércio on-line é absolutamente indispensável a compra deste disco.
Podem fazê-la directamente no site da Jazzman Records e, como forma de ocupar o tempo enquanto esperam que o disco chegue de Inglaterra, ir lendo, neste sítio uma breve descrição de cada um dos temas.
O trabalho de pesquisa foi coordenado por Dante Carfagna - beat digger e 'arqueólogo' funk - autor, como Express Rising, deste recente e recomendável disco, surpreendentemente baptizado com o mesmo nome.

quarta-feira, março 03, 2004

Arthur Russell . The World Of Arthur Russell



"A semi-mythic figure in the world of dance music, Russell has been admired by some of the hardest to admire in the business" MOJO
"In the early 80's Russell bought the avant-garde to the dancefloor with futuristic music that inspired people like Philip Glass, François K, David Byrne and many more. He blurred the links between Disco, Classical, Jazz and Dub" FACT
"One of the great songwriters os the twentieth century. Arthur Russell was the Sun Ra of Disco" STRAIGHT NO CHASER
"A thrill a minute collection of dubbed-out-disco, echo-laden acoustics, reverberating vocals and horns. Wonderfull." DJ
"Arthur Russell fused the avant-garde with Disco and sounds like nothing else on earth" GUARDIAN
"Russell is the great enigma of the New York music scene" WIRE

Uma compilação ambígua mas estimulante: nos piores - e felizmente raros - momentos soa a música ultrapassada; nos melhores, deixa ao ouvinte recém-chegado a tarefa inquietante de tentar imaginar como seria a música actual sem a contribuição inconformada e revolucionária de pessoas como Russell - ouça-se a contemporaneidade da remistura de Arthur Levan para 'In The Cornbelt', a melancolia festiva, ideal para manhãs de ressaca, de 'Keeping Up' ou o ritmo asfixiante de 'Is It All Over My face', por exemplo. A edição - impecável e com um texto explicativo, como habitual - é da londrina Soul Jazz Records.

segunda-feira, março 01, 2004

# 02
Os To Rococo Rot e o produtor canadiano Scott Monteith - aka Deadbeat - estão de regresso neste início de 2004, com os álbuns "Hotel Morgan" e "Something Borrowed, Something Blue" a serem editados em Abril e em Março, via Domino e ~Scape, respectivamente.

Oportunidade para corrigir a versão tépida e curta que os To Rococo Rot apresentaram no Indústria (diz quem viu que em Lisboa correu melhor) e confirmar, uma vez mais, os poderes narcóticos (elogio) do dub digital de Deadbeat. Boas notícias para quem não pretende esperar pelas edições originais (não é o meu caso, contudo :P): os mp3's já estão disponíveis no local habitual.

Discografia seleccionada:
To Rococo Rot : Veiculo (1997), The Amateur View (1999)
To Rococo Rot & I-Sound : Music Is A Hungry Ghost (2001)
Deadbeat : Primordia(2001), Wild Life Documentaries (2002)

Projectos paralelos dos To Rococo Rot:
Tarwater: Silur (1998), Dwellers on the Threshold (2002)
Kreidler: Appearance and the Park(1998)
Mapstation: Version Train (2002)